Se as cachoeiras escondidas no meio da mata no Vale do Capão, no município de Palmeiras, tornam-se cada vez mais conhecidas pela paz e misticismo, o caminho que leva até elas vai de mal a pior. Há poucos dias, um carro de passeio que transportava uma turista e duas crianças despencou da única via que dá acesso a uma das regiões mais famosas da Chapada Diamantina. O acidente motivou moradores a denunciarem a deterioração em uma carta aberta à gestão municipal.

Estrada danificada após a chuva | FOTO: Reprodução |

Há pouco mais de dois anos, a Ladeira dos Campos, que fica bem próxima à entrada da vila do Capão, passou por uma reforma financiada pelo Governo do Estado. O projeto, no entanto, não se responsabilizou pela drenagem do solo, o que fez com que a via de quase 2 km de extensão continuasse oferecendo perigo a moradores e turistas que frequentam a região. A cada chuva que atinge a localidade, parte das bordas da ladeira cede, estreitando mais a via. Também é comum que os paralelepípedos se soltem da superfície, o que dificulta a passagem de veículos.

O brigadista Matheus Presto participou do resgate dos três passageiros e contou que uma falha mecânica do carro teria impedido que a motorista conseguisse frear o veículo. O socorrista diz ainda que as vítimas tiveram ferimentos leves e que foram encaminhadas para o hospital da região.

O acidente catalisou protestos de organizações civis do distrito de Caeté-Açu, onde fica o vale, que já haviam denunciado o desgaste da via. Ao total, seis associações assinaram uma carta à prefeitura de Palmeiras em que chamam atenção para a situação desastrosa da Ladeira dos Campos e cobram melhorias. “Há mais de dois anos que essa obra, não concluída, mas dada como concluída pelo poder público, oferece perigos à população. E não é por falta de aviso e da clara manifestação dessa comunidade, que nada tem sido feito para resolver o problema”, pontuam.

O vice-presidente da Associação dos Comércios de Turismo de Caeté-Açu, Emmanuel Requião, chama atenção para o fato de que a infraestrutura do Vale não acompanha o número crescente de turistas. “Entregaram a ladeira sem estar pronta e estamos com risco de vida. O Capão hoje é um destino muito procurado e estamos completamente abandonados”, afirma.

Apesar de não haver outros registros de acidentes graves no local específico, a população teme que mais pessoas sejam vítimas do desgaste da via e que os riscos de acesso espantem visitantes. A situação não é exclusiva do principal meio de acesso. Segundo relatos de moradores, as vias internas do vale, que dão acesso a trilhas famosas, como Angélica e Purificação, também estão em estado de abandono. “A Ladeira dos Campos está ruindo, mas os acessos internos do vale estão terríveis. Cheios de buraco e as ladeiras ficam intransitáveis quando chove”, revela um morador que prefere não ser identificado por medo de represálias.

A falta de sinalização entre o trecho de 19 quilômetros que faz ligação entre Palmeiras e o distrito de Caeté-Açu já provocou outros acidentes. Há um ano, uma moradora presenciou um acidente e relatou o ocorrido em uma rede social. “Um carro cinza, provavelmente alugado, havia caído do barranco do lado esquerdo da pista. Um rapaz me falou: ‘é a quarta vez que um carro cai lá para baixo’”, afirma na postagem. A mulher ainda conta que o guincho demorou um dia inteiro para retirar o carro do local.

Novo projeto

O prefeito de Palmeiras, Ricardo Guimarães (PSD), culpa as chuvas que atingem a região pelo estrago do único acesso ao destino turístico. Em entrevista à reportagem, o gestor admitiu que a obra realizada há dois anos não realizou a drenagem da água que passa por debaixo da via.

A situação, segundo o prefeito, será resolvida com a pavimentação da estrada de 19 km que liga o distrito de Caeté-Açu até a sede, no município de Palmeiras. Em julho do ano passado, o então governador Rui Costa (PT) autorizou a ordem de serviço para a obra, que até hoje não começou.

“O novo projeto do asfalto do Capão, que já vai começar, agraciou os 1,8 km da Ladeira dos Campos. A empresa vai requalificar toda a pavimentação e fazer a drenagem do local”, garante. Somente na semana passada, as licenças ambientais necessárias para o início das obras foram liberadas, mas Ricardo Guimarães não detalhou quando o projeto deve sair do papel.

Pavimentação enfrenta resistência de moradores

A nova obra de pavimentação do trecho de 19 km será feita no sentido do Vale do Capão até Palmeiras. Ou seja, a Ladeira de Campos será uma das primeiras a ser requalificada pelo governo estadual. No projeto, o qual o CORREIO teve acesso, constam trabalhos de terraplanagem, pavimentação, drenagem e sinalização. Mais de R$ 29 milhões serão investidos.

Apesar de não haver um consenso entre as associações sobre a pavimentação, muitos moradores reclamam que o projeto destoa da paisagem e não leva em conta a preservação ambiental. Um modelo de estrada parque, em que há planejamento para a preservação da fauna e flora, chegou a ser sugerido pela Associação dos Comércios de Turismo.

“Essa estrada não será adequada porque não é uma estrada parque, é uma estrada comum, que vai encher ainda mais o Capão, quando, na verdade, precisamos primeiro de um investimento interno”, defende Emmanuel Requião. Questões como abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica e recolhimento de resíduos sólidos preocupam moradores que preveem incremento do turismo com a nova estrada.

A Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) informou que a empresa responsável pela pavimentação está em fase de mobilização dos equipamentos e que apenas aguardava as licenças ambientais. A obra deve ter duração de até um ano. Com informações do Correio