A esclerose múltipla é uma doença que ainda intriga a medicina. Cientistas de diferentes partes do mundo tentam desenvolver tratamentos inovadores que possam levar à cura da condição que afeta a vida de aproximadamente 2,8 milhões de pessoas. Porém, um dos principais desafios ainda é entender completamente o que a desencadeia.

 

“É difícil falar de cura de uma doença que não conhecemos totalmente a causa. Sabemos que vários fatores podem ocasionar a condição, mas não o que dá o start”, explica a coordenadora do ambulatório de neurologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e médica nos hospitais Sirio-Libanes e DF Star, Priscilla Proveti.

 

A esclerose múltipla é uma doença heterogênea, que envolve a hiperativação do sistema imune e a neurodegeneração do sistema nervoso central. Ela faz com que as células de defesa do organismo ataquem a bainha de mielina, uma espécie de capa de isolamento que protege os neurônios.

 

Essas lesões podem ocorrer no cérebro, na medula ou nos nervos ópticos, causando sintomas como fadiga intensa, fraqueza muscular, dormência, disfunção intestinal e da bexiga e alterações da coordenação motora, por exemplo.

 

“De certa forma, sabemos hoje como controlar a inflamação no sistema nervoso central, mas não como parar a neurodegeneração completamente e como regenerar o que foi perdido”, afirma o neurologista Felipe Ghlen, médico do Hospital Sírio-Libanês e professor da Universidade de Brasília (UnB).

 

Existe uma porção de tratamentos aprovados pelas agências reguladoras de medicamentos que tentam prevenir a progressão do quadro por meio de diferentes estratégias, como canetas de aplicação – semelhantes às usadas no controle da diabetes –, terapias infusionais, transplante autólogo de medula óssea e as pílulas orais.

 

Em paralelo aos medicamentos disponíveis, a comunidade científica avança em estudos com o uso de células-tronco em estágio inicial.

 

“Seguindo a lógica, se um conjunto de defeitos genéticos resultam em um sistema imunológico disfuncional, que agride a si mesmo, poderíamos transplantar células-tronco de pessoas saudáveis. Mas isso não é tão simples, pois elas podem induzir a rejeição. O problema de fazer o transplante de células-tronco autólogo é que, com o passar do tempo, como o defeito genético está lá, existe a possibilidade da doença retornar”, explica o médico do Hospital Sírio-Libanês.

 

A revista Nature, uma das mais conceituadas do meio científico, divulgou no último dia 13 de janeiro os resultados preliminares de um estudo clínico sobre o uso de células-tronco neurais para tratar a esclerose múltipla progressiva – a forma mais agressiva da doença – em uma tentativa de regenerar o sistema nervoso central por punção lombar.

 

Na fase 1 do estudo clínico, os cientistas da The New York Stem Cell Foundation, nos Estados Unidos, e da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, conseguiram mostrar que os pacientes toleram bem a abordagem, mas sua eficácia ainda não foi comprovada.

 

Priscilla, que não participou do estudo, aponta como ponto positivo o fato de a pesquisa mostrar que, aparentemente, os pacientes tiveram menor grau de atrofia cerebral e menor dosagem de algumas citocinas no líquor do cérebro. Mas ela afirma que os resultados ainda são preliminares e é necessário continuar com a pesquisa.

 

Embora seja um avanço, os especialistas ainda veem muitas limitações no estudo, como o número restrito de pacientes – comum em estudos em fase 1. Além disso, o quadro de todos os participantes continuou progredindo. “Tudo isso demonstra como é complexo o tratamento de doenças que acometem o sistema nervoso central”, afirma Ghlen.

 

A vacinação contra o vírus Epstein–Barr foi apontada, recentemente, como uma forma promissora de tratamento. Um grande estudo com militares dos Estados Unidos mostrou que todos os diagnosticados com esclerose múltipla tinham também histórico de infecção pelo vírus.

 

Pesquisas anteriores já mostraram uma possível relação entre a infecção viral e o desenvolvimento da doença. O Epstein–Barr é um vírus muito comum: estima-se que nove em cada dez pessoas têm contato com ele em algum momento da vida, mas nem todos desenvolvem esclerose múltipla. Vacinar a população poderia, então, ser uma forma de prevenir a doença.

 

Enquanto esses estudos não avançam, os pacientes têm à disposição medicamentos chamados de alta eficácia, mais fortes, aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As opções de uso oral são consideradas um avanço importante: além de funcionarem bem, conseguem proporcionar mais bem-estar aos pacientes que não se adaptam às agulhas das canetas aplicadoras.

 

“O neurologista escolhe o tratamento de acordo com fator de risco, idade e desejo de gravidez, por exemplo. Normalmente, escolhemos as medicações de alta eficácia”, explica Priscilla.

 

Os médicos tendem a ser mais agressivos no tratamento da doença, indicando os remédios de alta eficácia como primeira opção, principalmente em pacientes com fatores de prognóstico melhor, afirma a neurologista do HUB.

 

“A comunidade que trata esclerose múltipla tem tentado mudar o protocolo de tratamento porque os estudos mostram que quanto mais agressiva é a abordagem, melhor o paciente responde ao longo do tempo”, afirma Priscilla. As informaç?os são do Metrópoles.

 

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Foto: Reprodução / Hospital Israelita Albert Einstein