
Foto:
Marcelo Camargo / Agência Brasil
A presidente
do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), Dilma Rousseff,
afirmou neste domingo em Pequim ter sido eleita para um novo mandato à frente
da instituição, conhecida como banco do Brics e sediada em Xangai. Ela havia
sido indicada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, após uma articulação
do presidente Lula.
Dilma disse
estar recuperada, após ficar uma semana internada no final de fevereiro, com
neurite vestibular, inflamação nos labirintos que causa tonturas intensas.
"É um vírus parecido com o da gripe, mas ele te joga no chão", disse.
"Você não tem o que fazer. Tem que esperar ele morrer."
Questionada
se havia lido a reportagem da Folha sobre sua atual gestão no NDB, com metas
atrasadas e relatos de assédio moral, respondeu: "Não vi. Não quero
[comentar]". Em seguida, falou: "Agora, vocês têm que parar de fazer
ficha falsa, tá? Conhece a ficha falsa? Lembra dela? Levou um ano". É
referência à reprodução de uma ficha datilografada em 2009.
Vinte dias
depois, o jornal publicou: "A Folha cometeu dois erros na edição do dia 5
de abril, ao publicar a reprodução de uma ficha criminal relatando a
participação da hoje ministra Dilma Rousseff no planejamento ou na execução de
ações armadas contra a ditadura militar. O primeiro erro foi afirmar na
Primeira Página que a origem era o 'arquivo [do] Dops'. Na verdade, o jornal
recebeu a imagem por email. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha
cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada
--bem como não pode ser descartada".
Dilma fez as
declarações ao chegar ao Fórum de Desenvolvimento da China, encontro anual de
autoridades e empresários, em Pequim. Num intervalo do evento, posteriormente,
ela defendeu sua gestão no NDB e criticou uma gestão anterior, sem identificar.
"Uma
das coisas mais graves que aconteceram no banco foi quando não tomaram
empréstimos por 16 meses" num momento de juros baixos, segundo ela.
"Quando você não tem liquidez, você não investe. Ou seja, também não tinha
empréstimo."
Mas não quis
dar nomes. "Eu não fico discutindo por que fizeram, por que não fizeram. O
que eu sei é que fizeram assim e que a gente superou agora. Nós fomos 40 vezes
ao mercado. E nós fizemos empréstimo."
A
ex-presidente da República foi uma das palestrantes na abertura do Fórum, na
histórica Casa de Hóspedes Diaoyutai, sentando-se na primeira fila, com o
primeiro-ministro Li Qiang e o CEO da Apple, Tim Cook, entre outros.
O CEO
brasileiro da empresa americana de semicondutores Qualcomm, Cristiano Amon,
disse ao jornal que o evento "é extremamente importante para escutar da
China a direção econômica, para as empresas do mundo que têm negócios aqui
entenderem para onde ele estão indo, daqui para a frente".
Em seu
pronunciamento, Li falou que a China vai "se esforçar para ser uma força
de estabilização", questionando indiretamente os Estados Unidos de Donald
Trump por tentar estabelecer uma "lei da selva" nas relações
internacionais. Defendeu a abertura comercial dos países para responder a
crescentes "incerteza e insegurança" no cenário global.
Destacou
fenômenos chineses como o filme "Ne Zha 2", para ilustrar o maior
consumo no Festival da Primavera deste ano, e as empresas de tecnologia
DeepSeek e Unitree, ambas de Hangzhou, voltadas para inteligência artificial e
robótica. Junto à "economia verde" de carros elétricos e outros,
seriam exemplos dos "novos motores de crescimento" do país.
Também no
fórum, o CEO da montadora alemã Mercedes-Benz, o sueco Ola Källenius, comentou
ao jornal que "o mercado chinês está se abrindo mais e mais" e que a
empresa irá investir e lançar uma série de novos produtos nos próximos anos.
"A China é um dos pilares da nossa estratégia de crescimento",
afirmou.
Relatou que
a Mercedes está trabalhando com companhias chinesas de tecnologia em áreas como
direção automática. Questionado se as montadoras alemãs temem as chinesas em
carros elétricos, respondeu: "É um mercado global muito competitivo, na
China e em todo o mundo, mas esse é o nome do jogo, economia de mercado".