
Os ministérios das Finanças e do Comércio da China anunciaram
na tarde de quarta-feira (4) em Pequim, madrugada no Brasil, a imposição de
tarifas adicionais a produtos agrícolas e alimentos importados dos Estados
Unidos, inclusive milho, algodão e soja. Nas três commodities, as vendas
brasileiras para o país hoje superam as americanas.
Foi em resposta à decisão dos EUA de dobrar para 20% as
tarifas sobre todos os produtos chineses, com a justificativa de que Pequim
precisa atuar mais contra a venda de insumos usados na produção de fentanil,
droga de alto consumo entre americanos.
A medida chinesa entra em vigor no próximo dia 10. Será
imposta uma tarifa adicional de 15% sobre frango, trigo, milho e algodão e de
10% sobre sorgo, soja, carne suína, bovina, produtos aquáticos, frutas,
vegetais e laticínios. Paralelamente, foram listadas empresas americanas que
passarão a ter restrições de exportação e investimento.
O porta-voz do Ministério do Exterior da China, Lin Jian,
afirmou durante coletiva diária poucas horas após o anúncio que Pequim vai
jogar "até o fim", repetindo declaração do chanceler Wang Yi há duas
semanas, se Washington avançar com a guerra comercial.
Por outro lado, também nesta terça, na abertura das chamadas
Duas Sessões, evento anual com as lideranças chinesas que aponta a estratégia
para o ano, inclusive em economia, o porta-voz da Assembleia Nacional Popular,
Lou Qinjian, reiterou que China e EUA, "historicamente, ganham ao cooperar
e perdem ao se confrontar".
"O importante é respeitar os interesses um do outro e
encontrar uma solução apropriada", acrescentou. "Nós esperamos
trabalhar com o lado americano através de diálogo e consulta."
Um porta-voz do Ministério do Comércio pediu aos EUA
"que retirem imediatamente as tarifas unilaterais irracionais",
argumentando: "Devemos retornar ao caminho em direção a negociações entre
iguais, para resolver as diferenças".
Na semana passada, diante da ameaça do presidente Donald
Trump de aumentar pela segunda vez as tarifas contra a China, órgãos chineses
haviam se pronunciado contra a justificativa apresentada, o fentanil.
"Culpar outros países não vai ajudar a resolver o problema dos próprios
EUA", afirmou um deles.
Paralelamente à decisão de dobrar as taxas contra a China,
Trump confirmou as tarifas prometidas de 25% sobre todas as importações do
Canadá e do México, também nesta terça. O Canadá já anunciou medidas de
retaliação.
Maior concorrente dos EUA na exportação de commodities
agrícolas como soja, milho e algodão para a China, o Brasil pode ser
beneficiado.
Desde a eleição de Trump, o agronegócio brasileiro se prepara
para ganhar ou perder espaço na China, com as tarifas propostas pelo presidente
americano desde a campanha e com a eventual negociação que faça com Pequim para
retirá-las.
"Quanto mais [Trump] exagerar na dose, mais
oportunidades eu vejo para o Brasil", disse o ministro da Agricultura e
Pecuária, Carlos Fávaro. "Os EUA competem na área agrícola conosco,
[Trump] pode fazer uma negociação e impor produtos agrícolas para a
China", disse a senadora Tereza Cristina, ex-ministra da pasta.
Em janeiro, logo após sua posse e um telefonema com o líder
chinês, Xi Jinping, o presidente americano chegou a responder, ao ser
questionado pelo canal Fox News se faria um acordo comercial com a China:
"Eu posso fazer isso".
Pequim também mostrou disposição para negociar o acordo, com
o Ministério do Exterior dizendo que "os dois países têm enormes
interesses comuns e espaço para cooperação" e com o vice-primeiro-ministro
Ding Xuexiang acrescentando: "Nós não queremos superávit comercial. Nós
queremos importar mais" dos EUA.
Por Bahia Notícias