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Arquivo / Leopoldo Silva / Agência Senado
O TCU
(Tribunal de Contas da União) indicou no julgamento do programa Pé-de-Meia que
não vai aceitar que o governo use dinheiro dos fundos privados, em que a União
é cotista, para financiar despesas para o pagamento de políticas públicas fora
do Orçamento.
Após o julgamento nesta quarta-feira (12), o tribunal abriu uma auditoria para
mapear todas as despesas e políticas públicas financiadas por meio de recursos
que não transitam diretamente pelo Orçamento, o que inclui os fundos privados.
A auditoria estava em fase de planejamento, aprovada pelo ministro Vital do
Rêgo. Agora entra na fase de execução. Com uma análise mais ampla, a
expectativa é dimensionar o tamanho desse dreno.
O trabalho da auditoria será conduzido pelo ministro Bruno Dantas, que pediu
prioridade à área técnica. O grupo vai avaliar qual o impacto da utilização
dessa prática para transparência e credibilidade da gestão orçamentária e os
seus efeitos no crescimento da dívida pública e na economia brasileira.
Há uma avaliação entre os técnicos do tribunal de que o governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem recorrido para driblar o Orçamento e fugir
dos limites do arcabouço fiscal, que impõe um teto de gastos.
No julgamento da cautelar do TCU que bloqueou em janeiro o dinheiro do
Pé-de-Meia, os ministros da corte de contas deram um prazo de 120 para o
governo pagar as bolsas do programa fora do orçamento, mas cobraram do governo
a correção da forma de financiamento do programa para incluir os valores na lei
orçamentária.
RECADO
Ministros do
TCU ouvidos pela reportagem afirmam que esse foi o recado mais importante do
julgamento desta quarta-feira (12) e que deve valer para o uso de outros fundos
privados que tenham ou venham a ter a mesma prática.
Integrantes do governo que tratam do tema dizem que entenderam o recado, mas
informaram que aguardam o acórdão do julgamento para definir os próximos passos
da ação do governo.
Entre os fundos privados, estão o FGO (Fundo Garantidor de Operações) e o
Fgeduc (Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo), que transferiram
recursos ao Fipem, outro fundo privado constituído para executar o Pé-de-Meia e
administrado pela Caixa Econômica Federal. Nesse caso, o dinheiro de dois
fundos privados transitaram para o outro fundo privado, que banca o programa.
Uma lei aprovada pelo Congresso permitiu a chamada integralização (repasse) de
recursos que estavam sobrando no Fgeduc (R$ 6 bilhões) e no FGO (R$ 4 bilhões)
no fundo do Pé-de-Meia. O governo transferiu os R$ 6 bilhões, mas aguardava a
decisão do TCU para definir o repasse dos R$ 4 bilhões do FGO.
Com a decisão, antecipada pela Folha de S.Paulo na terça (11), o governo terá
que corrigir a forma de financiamento do programa para incluir os valores na
lei orçamentária deste ano. Para isso, precisaria em tese cortar r$ 10 bilhões
de despesas. Mas parte do dinheiro já terá sido gasta nos quatros meses que o
TCU deu de prazo para o governo encaminhar uma solução ao Congresso.
A proposta sugerida foi a apresentação de um PLN (projeto de lei que trata de
questões orçamentárias) ao Congresso cancelando despesas de outras áreas para
acomodar no Orçamento os gastos do Pé-de-Meia.
O problema é que neste caso o governo teria que bloquear os recursos do
Orçamento imediatamente, o que implicaria tirar verbas de outros programas e
políticas públicas.
Há dúvidas sobre os procedimentos para a inclusão da verba do Pé-de-Meia no
Orçamento, que o acórdão pode sinalizar. Até o momento não é intenção do
governo recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas o diagnóstico é que o
TCU não tem a função de fazer controle de legalidade e determinação ao
Legislativo.
A avaliação é que ao apontar a necessidade de o governo encaminhar um projeto
de lei ao Congresso o Tribunal estaria indo além das suas funções legais. Os
técnicos do governo que defendem a operação do Pé-de-Meia destacam que o
dinheiro que está nos fundos saiu do Orçamento e foi contabilizado como
despesas primária.
Por
Correio24horas