
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Cinco anos após o início da pandemia de Covid, o Brasil ainda
registra um índice alto de mortes pela doença.
De janeiro a 1º de março de 2025, a Covid matou 761 pessoas
no país. É o que mostram os dados do Ministério da Saúde analisados pela
plataforma SP Covid Info Tracker.
O número equivale à queda de seis Boeings 737-700, em média.
A aeronave possui 126 assentos.
São 13 mortes por dia e 89 por semana. O dado é 57,46% menor
se comparado ao total do mesmo período do ano passado, quando houve 1.789
mortes -cerca de 30 por dia e 209 por semana.
Em São Paulo, o cenário segue a mesma tendência. Em 2025, até
1º de março, foram 262 mortes -como se dois desses Boeings tivessem caído no
estado.
Total (até 1º de março) - Brasil - Mortes diárias - Por
semana
2024 - 1.789 - 30 - 209
2025 - 761 - 13 - 89
Total (até 1º de março) - SP - Mortes diárias - Por semana
2024 - 460 - 8 - 53
2025 - 262 - 4 - 31
São cerca de quatro óbitos diários e 31 por semana. O número
é 43,04% menor se comparado ao total do mesmo período de 2024, quando foram
registrados 460 mortes -oito por dia e 53 por semana. Os dados do estado de São
Paulo são da Fundação Seade.
Ao observar as nove últimas semanas epidemiológicas de 2024 e
as nove iniciais de 2025, é possível constatar um aumento de 21% nas mortes
ocorridas no Brasil. O percentual sobe para 58 quando é considerado apenas o
estado de São Paulo.
Semanas epidemiológicas (Brasil) - Período - Total - %
Variação
44 a 52 - 27/10/2024 a 28/12/2024 - 631 -
1 a 9 - 29/12/2024 a 01/03/2025 - 761 - 21
Semanas epidemiológicas (SP) - Período - Total - % Variação
44 a 52 - 27/10/2024 a 28/12/2024 - 197 -
1 a 9 - 29/12/2024 a 01/03/2025 - 311 - 58
De 2020 até 1º de março de 2025, o país já registrou 715.295
mortes por Covid. A primeira vítima da doença foi a diarista Rosana Urbano, 57.
Um dia antes do óbito, ela visitou a mãe, Gertrudes, internada com pneumonia no
Hospital Municipal Doutor Cármino Caricchio, no Tatuapé, zona leste da capital
paulista.
Quando soube que a mãe estava intubada, a diarista passou mal
e foi internada no mesmo local. Morreu às 19h15 do dia 12 de março de 2020,
após uma parada cardiorrespiratória. Ela tinha diabetes e hipertensão.
Para Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19
Info Tracker, a doença continua perigosa. Os números estão altos e a
expectativa é de aumento.
"Não é possível fazer comparações com o início da
pandemia, quando não tínhamos nenhuma arma para nos proteger contra a doença.
No entanto, é possível afirmar que esses números são elevados. Se você pegar o
dado semanal de 2025, o número de óbitos pela doença é quase o equivalente ao
que morre na queda de um avião de médio porte", diz Casaca.
"No ano passado, a maior parte dos óbitos ocorreu nos
primeiros três meses, um período normalmente com pouca circulação de vírus
respiratórios, mas marcado por festas, como a virada de ano e o Carnaval, além
da presença de uma subvariante muito agressiva no Brasil, o que também foi
relevante", afirma o pesquisador.
Renato Grinbaum, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de
Infectologia) ressalta os grupos vulneráveis correm maior risco. São os maiores
de 60 anos, doentes crônicos, cardíacos e imunodeprimidos. Para os demais, com
o esquema vacinal completo, a probabilidade de evoluir para a gravidade e morte
é baixa.
"Como nós já tivemos vacinação prévia e episódios
prévios do coronavírus, criamos uma imunidade que faz com que os episódios
subsequentes sejam mais leves. Hoje, encontramos todos os dias com pessoas com
Covid e que são formas mais leves porque o sistema imune já está preparado e
conhece previamente o vírus", explica Grinbaum.
2024 - Total - Mortes diárias - Por semana
Brasil - 5.959 - 16 - 114
SP - 2.015 - 6 - 39
"O importante é a proteção dos vulneráveis. Se você tem
um familiar ou um conhecido idoso ou vulnerável, você não vai, com resfriado,
procurar essa pessoa por mais amiga que ela seja. Você terá que higienizar as
mãos, usar máscara perto dela. Tem que ter um cuidado especial", diz o
infectologista da SBI.
Na opinião de André Bon, infectologista do Hospital Nove de
Julho, a doença não mudou em relação a 2020, quando surgiu. A diferença é o
arsenal terapêutico para tratar e prevenir.
"O que mudou de maneira significativa é o nosso acesso e
a disponibilidade de ferramentas de prevenção como vacinas que são atualizadas
periodicamente com as cepas circulantes. Temos acesso a medicações, inclusive,
através do SUS, para tratamento de Covid leve e moderada, e também para a Covid
grave -essas não no SUS, mas amplamente através da rede privada", afirma
Bon.
"Os fatores de risco para desenvolvimento e evolução
para formas graves nas pessoas não vacinadas continua exatamente igual a 2020.
O número de óbitos no Brasil ainda é alto, mas é muito melhor do que poderia
ser se a gente não tivesse vacina e tratamento", reforça.
Estar com o esquema vacinal em dia, com os imunizantes mais
recentes, é essencial para evitar complicações e mortes, segundo Bon.
"O que sabemos de evidência é que quem está vacinado com
bivalentes, por exemplo, que são as vacinas mais recentes, tem metade da chance
de morrer de Covid do que as pessoas que tomaram só as vacinas monovalentes,
mais antigas", explica o infectologista do Hospital Nove de Julho.
André Bon reforça que as comorbidades são importantes, mas o
principal fator de risco para óbito na Covid é a idade, em especial, acima de
80 anos. Mas a cada década acima dos 50, o risco aumenta de maneira
significativa. "A estimativa é que o risco de óbito de um paciente acima
de 85 anos seja 340 vezes maior do que quem tem de 18 a 29 anos", afirma.
A Covid não é maisuma Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional desde 5 de março de 2023, pouco mais de três anos do
seu início. A pandemia foi declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) no
dia 11 de março de 2020.
Por Bahia Notícias