Programa oferece medicamentos
gratuitos e com descontos Crédito: Elza Fiuza/Agência Brasil
Criada há 20 anos com a missão
de popularizar o acesso a medicamentos no Brasil, a Farmácia Popular está
presente em 88% dos municípios baianos. Ainda assim, moradores de 53 cidades da
Bahia não têm acesso aos remédios gratuitos, através do programa, nos locais
onde vivem. Pacientes submetidos a tratamentos contínuos precisam viajar para
cidades vizinhas ou dependem de postos de saúde.
Esse é o caso de Maria (nome
fictício), moradora de Mundo Novo, que tem 72 anos e foi diagnosticada com
parkinson em 2015. A cidade do centro-norte baiano, que possui 17,2 mil
habitantes, não tem farmácias credenciadas ao sistema.
A Farmácia Popular mais próxima
fica em Piritiba, a cerca de 20 quilômetros de Mundo Novo. Maria até está
credenciada para receber medicamentos no município vizinho, mas a unidade não
fornece o Prolopa, remédio que a idosa faz uso diariamente. Cada frasco custa,
em média, R$ 130. Ela precisa de quatro desses por mês.
“Se eu parar de tomar o
medicamento, o tratamento é interrompido. Então, a solução é comprar na rede
particular”, comenta. Maria retira o medicamento em unidades da Farmácia
Popular em Salvador, mas só quando vem à capital fazer exames. “A última vez
foi em novembro do ano passado. Peguei o remédio, mas já acabou, então vou ter
que comprar”, conta. Ela consegue acessar, através da cidade vizinha,
medicamento para pressão gratuitamente.
O programa funciona por meio de
parcerias com farmácias e drogarias da rede privada. Os cidadãos têm acesso aos
medicamentos de graça ou com descontos ao apresentar receita médica. Não é
preciso comprovar renda. Na Bahia, cidades como Andaraí, Madre de Deus, Mucugê
e São Félix não têm estabelecimentos credenciados (veja a lista completa
abaixo).
O levantamento foi feito pela
reportagem através de dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde sobre as
redes incluídas no programa. A Bahia é o sexto estado brasileiro com maior
número de cidades sem acesso à Farmácia Popular.
Piauí, Maranhão e Tocantins são
os estados menos contemplados com o programa. Eles têm 79, 69 e 65 cidades
desassistidas, respectivamente. A meta do Ministério da Saúde é cobrir 93% do
território nacional. Atualmente, 759 municípios brasileiros não possuem
Farmácia Popular, o que representa 14% das 5.570 cidades do país.
O presidente da Confederação
Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, ressalta quais são as cidades
mais afetadas com a desassistência do programa. "Lacunas na cobertura
persistem em municípios menores e mais distantes, onde a população depende
quase exclusivamente do SUS para acesso a medicamentos essenciais", diz.
A Farmácia Popular oferece
medicamentos para doenças como diabetes, asma, hipertensão e osteoporose. Ao
todo, 40 fármacos integram o programa. Andaraí, na região da Chapada
Diamantina, é uma das cidades baianas não contempladas. Lá, apenas duas
farmácias da rede privada atendem os 13.080 moradores. A alternativa para
conseguir remédios de graça são as Unidades Básicas de Saúde (UBS).
A secretária de Saúde de
Andaraí, Marta Lopes, afirma que a cobertura de medicamentos da cidade, através
da gestão municipal, é boa, mas admite que mais moradores seriam beneficiados
se houvesse farmácias populares.
“Por mais que tenhamos um
elenco amplo de tratamento básico, temos uma grande parte de medicamentos que
não são ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Cada vez mais vemos
pessoas diagnosticadas com pressão alta e diabetes, o que faz com que precisem
de medicamentos que não são contemplados pelo nosso serviço”, explica.
A secretária analisa o que está
por trás da ausência do programa na cidade. “Não sei se falta conhecimento, mas
seria preciso uma iniciativa dos gestores das farmácias particulares para
firmarem acordo com o Governo Federal”, pontua. O Ministério da Saúde foi
questionado sobre as dificuldades em aumentar a cobertura do programa, mas não
se manifestou até esta publicação.
"O programa enfrenta
desafios significativos que dificultam sua expansão para todos os
municípios. Podemos citar denúncias de irregularidades em
alguns estabelecimentos credenciados, o que reforça a necessidade de
fiscalização. Além disso, o processo de adesão e credenciamento é apontado
como burocrático para farmácias pequenas", completa Paulo Ziulkoski, da
CNM.
Mudanças
O Farmácia Popular foi
relançado em julho de 2024 pelo governo federal, quando completou 20 anos de
criação. Desde então, o Ministério da Saúde passou a oferecer 95% dos
medicamentos e insumos de forma gratuita. Fazem parte do programa absorventes e
fraldas.
Remédios indicados para o
tratamento de colesterol alto, doença de Parkinson, glaucoma e rinite passaram
a ser retirados de graça pela população de todo o país. Antes, até somente
medicamentos indicados para pessoas com diabetes, hipertensão, asma, osteoporose
e anticoncepcionais eram gratuitos.
Como obter os medicamentos
Para obter os medicamentos, o
paciente deve comparecer a um estabelecimento credenciado, identificado pela
logomarca do programa, e apresentar documento oficial com foto e número do CPF
ou documento de identidade em que conste o número do CPF. Também é necessário
apresentar a receita médica dentro do prazo de validade, tanto do Sistema Único
de Saúde (SUS) quanto de serviços particulares.
Lista das cidades baianas que
não possuem Farmácia Popular:
Almadinha
Andaraí
Angical
Anguera
Antônio Cardoso
Araçás
Aramari
Barra do Rocha
Caatiba
Caém
Cairu
Cardeal da Silva
Dom Macedo Costa
Elísio Medrado
Glória
Ibicuí
Ibiquera
Ichu
Igrapiúna
Irajuba
Itanagra
Jaguaripe
Jandaíra
Jussiape
Lajedinho
Lamarão
Macureré
Madre de Deus
Mirangaba
Morpará
Mucugê
Mundo Novo
Muquém do São Francisco
Nova Ibiá
Nova Itarana
Nova Redenção
Ouriçangas
Ourolândia
Pedrão
Pedro Alexandre
Potiguará
Retirolândia
Riachão das Neves
Rodelas
Santa Bárbara
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Por Correio24horas