Uma pesquisa de opinião pública divulgada nesta quinta-feira
(21) mostrou que 29% dos brasileiros têm algum medo com relação às vacinas. Os
possíveis efeitos adversos são o principal motivo para o receio da população na
hora de se imunizar, segundo o estudo conduzido pelo instituto Ipsos, uma das
líderes globais no fornecimento de pesquisas no Brasil.
Das 2.000 pessoas entrevistadas online entre os dias 30 de
outubro e 6 de novembro, 74% afirmaram já terem recebido alguma informação
falsa sobre a vacinação. Dessas, 41% disseram ter encontrado fake news nas
redes sociais.
Quase 30% dos entrevistados, todos acima de 18 anos, já
deixaram de se vacinar ou recomendaram que outros não se vacinassem devido a
dúvidas sobre segurança e eficácia das vacinas. Outros 10% decidiram não se
vacinar por causa de informações recebidas virtualmente ou de amigos e
parentes.
Cerca de 10% dos participantes são descrentes em relação às
vacinas, sendo mais propensos a acreditar em fake news. Mais da metade desse
grupo é composto por pessoas acima de 55 anos, com leve predominância masculina
e maior presença nas classes C, D e E.
A pesquisa, encomendada pela biofarmacêutica Takeda e feita
com a colaboração da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), buscou
entender as percepções sobre dengue e vacinação em geral. A margem de erro é de
2,2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.
Para o médico infectologista Renato Kfouri, presidente do
departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e
vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o Brasil passa
pelo enfrentamento a hesitação vacinal como um novo fenômeno social.
"Esses hesitantes ou céticos, apesar de serem uma
parcela menor da população, fazem muito barulho e ocupam muito espaço nas redes
sociais", diz.
Com relação à vacina contra a dengue, disponibilizada pelo
Ministério da Saúde às crianças e aos adolescentes de 10 a 14 anos, os
resultados da pesquisa da Ipsos mostram que 88% das pessoas veem o imunizante
como uma medida eficaz de prevenção à doença.
Outros 35% dos participantes, no entanto, revelaram já ter
escutado informações que desencorajam o uso do imunizante com as justificativas
de que a vacina teria sido desenvolvida muito rapidamente, que não seria eficaz
e que teria efeitos colaterais graves.
Renato Kfouri afirma que os profissionais da saúde ainda não
estão preparados para conversar com pessoas que não querem se vacinar, porque
não foram preparados para isso. "Temos uma formação para vender a ciência,
mas ainda não temos essa escuta empática, tem que ser uma construção para todos
nós."
"Qualquer vacina e intervenção têm seus efeitos
colaterais, custos e estratégias a serem implantadas, mas estamos sempre
buscando um benefício para população quando pensamos em saúde pública, nunca
terá mais riscos que benefícios", acrescenta.
De acordo com a Ipsos, a garantia de proteção, segurança e
disponibilidade da vacina contra a dengue na rede pública são os principais
motivadores para a vacinação. Mídias sociais e influência de amigos e
familiares têm menor impacto, mas são relevantes entre parcela dos mais jovens.
O Brasil foi o primeiro país do mundo a disponibilizar
vacinas contra a dengue no sistema público de saúde. Produzida pelo laboratório
japonês Takeda, o imunizante Qdenga tem as mesmas contraindicações que outras
vacinas feitas a partir de vírus vivo, ou seja, não deve ser tomada por
gestantes e lactantes e pessoas com imunodeficiência.
Pais com filhos entre 4 e 17 anos foram 43% dos participantes
da pesquisa. Embora cautelosos, eles são o público com atitudes mais positivas
em relação à vacinação em geral, com o hábito de buscar informações seguras e
prestar atenção às campanhas de imunização.
No entanto, esse grupo está mais exposto a fake news,
principalmente em redes sociais e canais pessoais como WhatsApp. Por isso,
apesar de o conhecimento sobre a gravidade da dengue ser reconhecido pela
população, ainda há desafios.
Presidente da SBI, Alberto Chebabo diz que a população opta
por não se vacinar porque podem não sentir tanto o efeito positivo da vacinação
nos dias atuais, já que os imunizantes foram responsáveis por eliminar os
maiores riscos, como no caso da Covid.
"A vacinação acabou com várias doenças aqui no Brasil.
Não temos mais varíola, sarampo, poliomielite, rubéola. As pessoas não veem
mais ninguém doente com essas doenças que matavam tanto anteriormente e isso
faz com que se perca o medo", diz.
O infectologista ressalta que as vacinas passam por um
protocolo rígido de segurança antes de serem disponibilizadas para uso. Para
ele, as pessoas se preocupam com os efeitos adversos porque não veem mais os
efeitos que as doenças tinham antes dos imunizantes, mas que nenhum efeito
colateral se compara aos sintomas e gravidades de uma doença.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil
que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde