Em claro gesto de oportunismo político, o ex-prefeito João Henrique vem tentando assumir o protagonismo no cerco do Ministério Público da Bahia (MP) contra a cobrança de sacolas fabricadas com material biodegradável pelos supermercados e estabelecimentos do comércio varejista em Salvador. Logo após a promotora de justiça Leila Adriana Vieira Seijo de Figueiredo recomendar a suspensão da prática, por meio de documento expedido na quinta-feira (06) à Associação Baiana de Supermercados, o ex-prefeito e pré-candidato a vereador pelo PL gravou um vídeo na porta da sede do MP, em Nazaré, no qual diz que a medida foi fruto de iniciativa de sua autoria. "Olá, minha gente! Conforme prometido, cumprido. Assim trabalha João Henrique", afirmou, ao garantir que um pedido feito por ele deu origem à recomendação, fato descartado pelo MP. 

Nem vem que não tem
Consultado sobre as declarações de João Henrique, o órgão informou à coluna, através de sua assessoria de comunicação, que a ofensiva é resultado de reclamações registradas no MP por vários consumidores contrários à cobrança e que a dele foi só uma entre muitas. Em síntese, negou que a representação do ex-prefeito tenha sido determinante para a abertura de procedimento voltado a investigar indícios de abuso na venda de sacolas biodegradáveis. Em nota enviada à imprensa ainda na quinta, a promotora responsável pelo caso destacou que a recomendação é baseada também em "lacunas técnicas" na lei que proibiu os supermercados da capital de fornecerem sacos plásticos gratuitamente aos clientes, aprovada na Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito Bruno Reis (União Brasil) em maio de 2023.

Vitória fake
Além da tentativa de usurpar a paternidade da ação do MP, o ex-prefeito usou informações completamente inverídicas no vídeo postado nas redes sociais e disseminado em aplicativos de mensagem. "Os supermercados agora estão obrigados a suspender a cobrança pelas sacolinhas plásticas. Mais uma vitória do povo de Salvador, mais uma vitória de João Henrique", emendou. Contudo, a afirmação não encontra paralelo na realidade. Recomendações de promotores e procuradores são instrumentos extrajudiciais, que podem ser acatados ou ignorados, diferente de ordens impostas pela Justiça. 

Em algum lugar do passado
A artimanha de João Henrique para pongar na polêmica das sacolas plásticas foi vista por políticos veteranos como estratégia voltada a recuperar o posto de defensor número um dos consumidores de Salvador, grande trampolim de sua carreira pública. O sucesso no duelo contra a cobrança de estacionamento nos shoppings, por exemplo, teve papel fundamental para que ele ganhasse a corrida pela prefeitura da capital em 2004. O mau desempenho como gestor, entretanto, o transformou em um dos prefeitos mais rejeitados na história da cidade. Às vésperas da disputa pela Câmara de Vereadores, viu na recomendação do MP a chance de retomar a antiga vitrine eleitoral e conquistar uma vaga no Legislativo municipal.

Rasteira anunciada
A jogada do senador Ângelo Coronel (PSD) para estimular uma rebelião de deputados estaduais da base aliada insatisfeitos com o tratamento do governador Jerônimo Rodrigues, traduzida como ameaça para que o Palácio de Ondina desista de rifá-lo da chapa majoritária em 2026, virou motivo de acerto de contas entre lideranças de partidos da esquerda. Desde que Coronel assumiu o comando do grupo de dez parlamentares revoltados com Jerônimo, cardeais governistas que condenaram o veto à candidatura da então senadora Lídice da Mata (PSB) à reeleição em 2018 e o acordo para favorecer o cacique do PSD lembram que o cenário seria diferente se fossem ouvidos à época. Como não foram, acham que balançar o problema é tarefa de quem o pariu.

Batalha portuária 
Controlador do Novo Terminal Marítimo de Salvador, ponto de parada na rota dos cruzeiros nacionais e internacionais, o consórcio Contermas levou a melhor no primeiro round da batalha travada em torno de tarifas impostas pela Companhia de Docas da Bahia (Codeba) sobre o uso da infraestrutura operacional e terrestre do porto da capital. Recentemente, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) suspendeu a cobrança de valores reivindicados pela Codeba nos últimos anos e determinou que a companhia se abstenha de emitir faturas até que o processo de arbitragem em relação à legalidade das tarifas seja julgado em definitivo.

Cabo de guerra
Formado por duas empresas que operam terminais de passageiros em diversos estados, Socicam e ABA, o Contermas venceu o leilão lançado pela Antaq em 2016 e obteve o direito de explorar o espaço construído com recursos da Codeba, mediante o repasse de R$ 8,5 milhões a título de outorga onerosa e o total de R$ 34,5 milhões referentes ao arrendamento durante os 25 anos de vigência do contrato. A companhia de docas, porém, exigiu o pagamento de tarifas portuárias contestadas pelo consórcio.    
 

Foto: Reprodução

Por: Jairo Costa Jr. no dia 08 de junho de 2024 às 13:44