
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
A decisão da Câmara dos
Deputados de aprovar a taxação de 20% do Imposto de Importação sobre as
mercadorias de até US$ 50 dólares foi comemorada pelo deputado Arthur Lira
(PP-AL), mas não foi bem recebida pelas entidades que representam o comércio, a
indústria e o agronegócio. A medida, batizada nos bastidores de “taxa das
blusinhas”, foi aprovada como um item do PL 914/24, que institui o Programa
Mobilidade Verde e Inovação (Mover), e que deve ser votado pelo Senado na
próxima semana.
Em nota conjunta, a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional do Comércio Bens, Serviços
e Turismo (CNC) e a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) afirmaram que a decisão da taxação de 20% não é suficiente para evitar a
concorrência desleal das gigantes estrangeiras. As entidades, entretanto,
reconhecem a importância do acordo entre governo e Congresso para aprovar o fim
da isenção, e dizem que esse foi um “primeiro passo bastante tímido” em direção
à isonomia tributária e sua equiparação com a produção nacional.
“Não se pode garantir a
preservação dos empregos. Os empregos vão sofrer, porque a indústria
brasileira, comércio e agronegócio não têm condições equilibradas de tributação
para competir com o produto importado, que entrará subsidiado no país. Vamos
trabalhar para que os governadores entendam a importância de manter empregos
nos seus estados e buscar a equalização do ICMS, além de continuar no esforço
de sensibilizar o Congresso e o governo dessa real necessidade de equalização”,
afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Alban, ao
se pronunciar sobre a taxação de 20% sobre as compras internacionais.
Os representantes das entidades
da indústria, comércio e agro afirmaram ainda na nota conjunta que vão
continuar trabalhando para convencer os parlamentares sobre os efeitos danosos
da concorrência estrangeira. As entidades lembram que as importações sem
tributação federal levariam a indústria e o comércio nacionais a deixar de
empregar 226 mil pessoas.
“Agora, com a nova tributação,
será necessário redimensionar o tamanho destas perdas. Mesmo assim, quem mais
perde com a redução dos empregos nesses setores são as pessoas que ganham menos
e, principalmente, as trabalhadoras mulheres”, diz a nota conjunta.
Quem também se disse
insatisfeito com a taxação de 20% e não 60% sobre as compras internacionais foi
o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. O dirigente disse
que a alíquota de 20% é um "meio termo" entre o solicitado
pela indústria nacional e a isenção total estabelecida pelo governo federal.
"Alertamos,
desde o princípio, que a alíquota zero para as plataformas internacionais de
e-commerce estava exportando empregos brasileiros, principalmente para a Ásia,
origem de grande parte das remessas enviadas ao Brasil. Não tem cabimento a
indústria nacional pagar impostos em cascata e concorrer com importações que
entram sem tributação federal", comentou o dirigente.
Segundo ele, a isenção das plataformas coloca em risco
milhares de empregos gerados pela indústria calçadista brasileira diante de uma
concorrência absolutamente desleal. "Mais do que isso, precisamos
conscientizar a sociedade de que de nada adianta poder comprar nas plataformas
sem impostos se não existe emprego", acrescentou o presidente da
Abicalçados.
Já o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL),
em conversa com jornalistas, afirmou que o fim da isenção fiscal de pequenas
compras internacionais é fruto de uma luta pela regulamentação justa para todos
os setores e pela manutenção dos empregos brasileiros.
“Todos os partidos entenderam que a taxação feita de 20%
daria um equilíbrio para manter o emprego de milhares e milhares de pessoas. O
mais importante nesse sentido foi a discussão longa, as tratativas por parte de
todos os líderes, do líder do governo, da oposição, do relator, do presidente
Lula, do governo, dos deputados que trabalharam na confecção desse acordo. Eu
penso que foi o possível para esse momento”, afirmou o deputado Arthur Lira.
No Senado, o projeto que cria o Programa Mover e inclui a
emenda da “taxa das blusinhas” será relatado pelo líder do Podemos, Rodrigo
Cunha (AL). O líder
do governo, Jaques Wagner (29), tentou convencer os senadores a votarem a
proposta na sessão desta quarta, mas o relator, pediu maior prazo para análise
da proposta, e a apreciação do projeto ficou para a semana que vem.
Apesar da pressão do governo para votação ainda nesta
semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que os
líderes pediram mais tempo para analisar os diversos pontos do projeto. Pacheco
disse que a cobrança do imposto de 20% sobre as compras até US$ 50 será
amplamente discutida pelos senadores, assim como os trechos que tratam da
criação do Programa Mover. Caso o projeto seja alterado no Senado, terá que
retornar para nova votação na Câmara.
Por Bahia Notícias