Reportagem originalmente publicada no Jornal da Metropole em 02 de junho de 2022
Mesmo com lucros exorbitantes nos últimos anos, as operadoras de planos de saúde, com a anuência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), decidiram aumentar em até 15,5% os planos individuais e familiares. O pior é que o reajuste foi feito sem qualquer tipo de transparência, segundo especialistas. E o resultado? Será a ampliação do número de pessoas em busca do Sistema Único de Saúde (SUS).
"Cada vez mais os planos coletivos, que não tiveram aumento, têm tido desistência. Imagina, então, os planos individuais. Se na pandemia já diminuiu, com esse aumento abusivo, vai se acarretar ainda mais pessoas indo para o Sistema Único de Saúde. Pessoas que poderiam estar no sistema privado contribuindo para desafogar o SUS", avaliou o presidente da Associação Bahiana de Medicina (AMB), César Neves, em entrevista ao Jornal da Metropole.
De acordo com os últimos dados da ANS, no ano de 2020, o lucro líquido das operadoras de planos de saúde cresceu 49,5% para R$ 17,5 bilhões. Naquele não, o mercado tinha quase 48 milhões de usuários. Para Carlos Neves, causa estranheza o aumento dos planos sem transparência. "Vai ser um impacto muito grande porque é um aumento acima da inflação. Todos os planos de saúde sempre fecham no azul, com ações, inclusive, subindo na bolsa. A gente fica sem entender esses cálculos. Um aumento tão grande em uma época tão difícil", afirmou.
Para serem beneficiados com legislações, as empresas detentoras de planos de saúde atuam firmemente no Congresso Nacional, e conta com apoio de parlamentares do Centrão. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e o líder do governo na Casa, Ricardo Barros, são considerados dois nomes que atuam em favor das operadoras, com a aceleração de propostas que beneficiam elas. Barros, inclusive, tentou aprovar um projeto em que se criava coberturas segmentadas com mensalidades, segundo ele, mais "acessíveis".
O advogado Ricardo Maurício, especialista em Direito do Consumidor, alerta os clientes de planos. "Se esse aumento apresentar indícios de abusividade, qualquer consumidor pode exigir informações claras e transparentes dos planos de saúde, através da apresentação de planilha de custo. E aí pode avaliar eventualmente a abusividade, e pode questionar junto à ANS, ao Procon, ou pode questionar judicialmente via Poder Judiciário", explicou.