
Foto: Divulgação / Ministério da Infraestrutura
A malha ferroviária da Bahia passa por um processo de
reestruturação e expansão, com obras em curso, estudos técnicos e discussões
sobre concessões que envolvem diferentes bitolas, modelos de integração e
conexão com polos logísticos e portuários. O objetivo das iniciativas em
andamento é ampliar a capacidade de transporte de cargas, reduzir custos
logísticos e integrar a Bahia a corredores ferroviários nacionais.
Atualmente, o estado conta com duas principais estruturas
ferroviárias em operação ou em desenvolvimento: a Ferrovia de Integração
Oeste-Leste (FIOL) e a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Há ainda planos em fase
de estudo para a construção de um novo trecho entre Salvador e Feira de
Santana, considerado estratégico para a mobilidade e a economia regional.
A FIOL: CORREDOR LOGÍSTICO COM PADRÃO MODERNO
A FIOL (EF-334) está em fase de implantação, sendo projetada com bitola
larga (1,60 metro), padrão técnico adotado pelo governo federal para as novas
malhas de alto desempenho. A ferrovia ligará Figueirópolis (TO), no
entroncamento com a Ferrovia Norte-Sul, ao Porto Sul, em Ilhéus, passando por
regiões produtoras de minério, grãos e celulose.
O projeto foi dividido em três trechos:
• FIOL I: de Ilhéus a Caetité (537 km), com obras em
andamento;
• FIOL II: de Caetité a Barreiras (485 km);
• FIOL III: de Barreiras a Figueirópolis (505 km).
A operação da ferrovia será dedicada inicialmente ao
transporte de minério de ferro da Mina Pedra de Ferro, em Caetité. A
expectativa é que o primeiro trecho esteja concluído até 2027, viabilizando a
movimentação de cargas até o litoral sul da Bahia.
FCA: CONCESSÃO EM DEBATE E INFRAESTRUTURA DEGRADADA
A Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) é atualmente a principal malha ferroviária
em operação na Bahia. Concedida à VLI, empresa formada pela Vale, Brookfield,
Mitsui e BNDESPar, possui bitola métrica (1,00 metro) e conecta a região
central do estado com outros pontos do país. A linha é utilizada principalmente
para o transporte de combustíveis, cimento, produtos químicos e minerais.
A concessão da FCA vence em 2026, e há discussões sobre
a renovação antecipada do contrato. Segundo estudos técnicos apresentados pelo
governo estadual, grande parte da malha encontra-se degradada, com trechos que
operam abaixo dos padrões mínimos de velocidade e eficiência.
Entre as propostas em análise, está a adoção da bitola mista,
que permite a operação simultânea de trens em bitola métrica e larga. A medida
visa possibilitar a integração da FCA a futuras conexões com a FIOL e outras
malhas interestaduais.
EF-430: ramal regional com potencial logístico
O trecho ferroviário entre Campo Formoso e Alagoinhas (EF-430) também utiliza
bitola métrica e integra a malha da FCA. O ramal tem função regional, com
movimentação de derivados de petróleo, cimento, calcário e outros produtos. A
EF-430 é um dos trechos listados em estudos para inclusão no novo modelo de
concessão que está sendo estruturado pelo governo federal.
ENTENDA AS BITOLAS
A diversidade de bitolas no estado ainda representa um desafio. Atualmente,
a Bahia conta com:
• Bitola métrica (1,00 m): predominante nas ferrovias
legadas, como a FCA e o sistema ferroviário do Subúrbio Ferroviário de
Salvador;
• Bitola larga (1,60 m): adotada na FIOL e recomendada para
novos projetos;
• Bitola mista: considerada solução intermediária para
integrar sistemas antigos e novos.
Para além das bitolas, a interligação com portos
estratégicos, como o Porto Sul (em Ilhéus) e o Porto de Aratu, também está no
foco da integração ferroviária. A expectativa é que a conexão com essas
estruturas portuárias evidencie o potencial exportador da Bahia, facilitando o
escoamento de commodities agrícolas e minerais.
PROJETO SALVADOR-FEIRA DE SANTANA
Além da requalificação e expansão das malhas existentes, está em análise um
projeto de ligação
ferroviária entre Salvador e Feira de Santana, com extensão estimada de
cerca de 100 km.
O novo ramal visa atender tanto o transporte de cargas quanto
o de passageiros, facilitando o deslocamento entre as duas maiores cidades do
estado. O modelo de bitola e o tipo de operação continuam em definição, mas
estudos preliminares indicam que a bitola larga é a mais recomendada para
garantir integração com os novos projetos logísticos nacionais.
A proposta também contempla a interligação desse novo trecho
com o Porto de Aratu e o Polo Industrial de Camaçari, por meio de um ramal
adicional. A ideia é criar um eixo de mobilidade que permita conexão entre a
região metropolitana de Salvador, o interior do estado e os portos, com maior
eficiência e menor custo logístico.
CONECTIVIDADE NACIONAL
Projetos como a FIOL, a Ferrovia Norte-Sul e futuras conexões com os estados do
Centro-Oeste e Sudeste visam criar corredores de exportação, com maior
participação do modal ferroviário na matriz logística brasileira. Com a
finalização das obras da FIOL, a modernização da FCA e a eventual construção do
trecho Salvador–Feira, o estado poderá se posicionar como um ponto de
interligação entre os fluxos logísticos nacionais, conectando polos de
produção, centros de distribuição e portos de exportação.
As ações em curso dependem da articulação entre governos
estadual e federal, além de participação do setor privado por meio de
concessões e parcerias público-privadas. A definição dos modelos operacionais e
das bitolas adotadas é apontada por especialistas como determinante para o
futuro do transporte ferroviário na Bahia.
Por Bahia Notícias