
Valter Campanato/Agência Brasil
Jair Bolsonaro (PL) tem demonstrado a aliados
resistência em indicar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), como sucessor ao Palácio do Planalto em 2026.
Uma ala de aliados do ex-presidente tem reforçado críticas ao
governador e, segundo interlocutores dos dois lados, isso tem contaminado
Bolsonaro. Há uma irritação com movimentos para tentar emplacar o nome de
Tarcísio para a corrida presidencial ou mesmo com a discussão sobre uma
candidatura de direita agora.
O ex-presidente se queixou a aliados de que seu ex-ministro
não estaria demonstrando solidariedade o suficiente, segundo esses relatos.
Também apontam que as pontes que o governador tem com o STF (Supremo Tribunal
Federal) não se traduzem em alívio para o seu grupo político.
Nesse cenário, Bolsonaro tem sinalizado preferência por
indicar alguém do seu clã. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é hoje a mais
citada —ainda que uma parte de seus aliados veja com desconfiança esse cenário.
O seu filho Eduardo (PL), ainda nos EUA, também é apontado como possível
sucessor.
Publicamente e reservadamente, o ex-presidente mantém o
discurso de que é ele o candidato. Em entrevista à Folha no final de março,
disse que registrará sua candidatura no TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
apesar de estar inelegível.
Lideranças de partidos de centro se dizem preocupadas com
esse cenário em que ele insistirá em seu nome até o último momento para
possivelmente indicar alguém de seu clã para a cabeça da chapa.
A preferência desses políticos hoje é pelo nome de Tarcísio,
ainda que alguns digam que estarão ao lado de Bolsonaro independentemente da
escolha.
Uma ala desses dirigentes de centro ameaça não integrar a
campanha de direita em 2026 e apoiar a reeleição de Lula (PT) caso a opção seja
por Eduardo ou Michelle.
A preocupação de aliados com a insistência do ex-presidente
em se colocar como candidato ao Planalto se dá desde fevereiro deste ano, como
noticiou a Folha. Por um lado, ela pode dificultar uma vitória da direita, por
encurtar o tempo de campanha. Por outro, pode dificultar a organização das
chapas nos estados.
Havia uma expectativa de que, com o avanço do julgamento do
caso da tentativa de golpe de Estado de 2022, pudesse haver uma sinalização,
ainda que nos bastidores, de que Bolsonaro pretende investir em uma outra
candidatura —o que não ocorreu.
Para o ex-presidente, manter seu capital político é um trunfo
enquanto busca se defender do que chama de perseguição política no STF.
O governador de São Paulo tem insistido que não tem interesse
em disputar o Palácio do Planalto e que quer se reeleger ao Bandeirantes. Além
disso, tem negado convites para participar de eventos em Mato Grosso, Rio
Grande do Sul, Minas Gerais e outros estados.
Por trás dessa postura, está a preocupação de Tarcísio em
reforçar sua lealdade ao ex-presidente. Ele afirma que apoiará quem Bolsonaro
escolher ao cargo.
Seus aliados negam que haja falta de solidariedade ou
estremecimento na relação. Citam que o governador aceitou sem titubear ser
testemunha de defesa na acusação de tentativa de golpe e pediu assinaturas ao
requerimento de urgência do projeto de anistia pelo 8 de Janeiro.
Eles dizem ainda que o entorno de Bolsonaro, que convive mais
no dia a dia com ele, sempre teve críticas ao ex-ministro de Infraestrutura,
mas que isso não define a relação entre os dois —que estaria em bons termos.
Em 2022, antes mesmo da declaração de inelegibilidade, já
havia uma ala de bolsonaristas mais próximos do ex-presidente que desconfiava
de Tarcísio e achava que seu plano era tentar o Planalto em 2026.
Com a proximidade do calendário eleitoral e a incerteza do
cenário, aumenta o clima de tensão no centro e na direita. Todos permanecem em
compasso de espera, aguardando Bolsonaro se definir sobre o futuro.
Há um entendimento geral de que uma candidatura de direita,
sem o apoio do ex-presidente, não vai prosperar. Por outro lado, uma
candidatura com apoio de Bolsonaro, mas rejeição no resto do mundo político,
deve encontrar dificuldades e corre o risco de perder para Lula (PT).
O futuro do ex-presidente também depende de quem ele apontar
como sucessor, de quem espera garantia de lealdade. Em entrevista ao UOL,
cobrou governadores de direita a questionarem publicamente as decisões que
resultaram em sua inelegibilidade.
A fala foi feita quando ele mencionou as articulações do
ex-presidente Michel Temer (MDB) por uma candidatura única do centro e da
direita para a Presidência.
"Não é estratégia política, vou até o último segundo
[para se candidatar à Presidência em 2026]. Michel Temer até entrou nessa
questão... É direito do Michel Temer, ninguém que entrou na política esquece...
Mas gostaria, não posso obrigar, que os governadores falassem: 'Bolsonaro está
inelegível por quê? Essas acusações valem?", afirmou.
Por Bahia Notícias