
Fotos: Wuiga Rubini/GOVBA
Há quem diga que as eleições de 2026 estão longe. Mas pela
mobilização dos políticos, parece que a disputa começou há bastante tempo.
Nesse xadrez, o governo Jerônimo Rodrigues jogou duas peças relevantes na
última semana: agrados às forças de segurança e a profissionais da área de
saúde. Via reajustes salariais escalonados, Jerônimo fez acenos claros que
pretende manter o funcionalismo ao lado dele para o próximo pleito. Só que, do
ponto de vista de marketing, a divisão dos aumentos em parcelas ficou em segundo
plano.
Sem entrar no mérito dos percentuais de reajuste — até porque
sindicatos e associações que representam os trabalhadores têm mais propriedades
para falar do tema —, é relevante trazer o tom político de adotar essa postura
com tanta antecedência. Anos eleitorais têm restrições diversas para reajustes
e, qualquer mobilização próxima à disputa, gera críticas, especialmente da
oposição, sobre apropriação da máquina estadual para fazer campanha. Ao fazer
um ano antes, Jerônimo elimina as chances de questionamentos jurídicos ou de
munir adversários de um padrão crítico comum no período eleitoral.
Tal estratégia de escalonamento de reajuste já tinha sido
testada com profissionais de educação. Todavia, como há reajuste anual do
governo federal do piso do magistério, em 2026 esse tema voltará, mas sem o
vigor necessário. Em 2025, o governo se antecipou, então, ao chegar no próximo
ano, o argumento de que os profissionais já foram contemplados. É tudo uma
questão discursiva, algo que a esquerda, inclusive, consegue habilmente
controlar, especialmente com o uso de sindicatos — a APLB, por exemplo, é controlada
há alguns bons anos pelo PCdoB e Rui Oliveira.
Com profissionais da educação, segurança pública e saúde
“domados” com esses reajustes escalonados, as chances de vitória numa campanha
de reeleição aumentam, dado o peso do funcionalismo público entre eleitores —
além deles, as famílias são preponderantemente influenciadas nesse processo. É
uma aposta de longo prazo do entorno de Jerônimo, especialmente em um contexto
que tais categorias tendem a ser “gratas” quando são beneficiadas por ações de
quem está no poder. Entretanto, não deixa de ser uma aposta.
A mesma antecedência pode causar problemas para manter vívida
na mente dos eleitores que houve esse investimento. E, por mais que o
percentual pareça alto quando avaliados conjuntamente, em 2026, esse número não
será tão atrativo assim no holerite das categorias. Fora que, do ponto de vista
de reforço de marketing, é preciso fazer um esforço grande para convencer os
servidores que esse reajuste anunciado antecipadamente foi benéfico no final
das contas. Ou seja, é preciso gastar em outras frentes, especialmente na
comunicação.
Enquanto isso, a oposição, fragilizada pelo número quase
ínfimo na Assembleia Legislativa da Bahia, não tem forças para tentar, ao
menos, forçar um debate que explicite que se trata de um processo
político-eleitoral disfarçado. No máximo, conseguiria se apropriar da causa do
funcionalismo temporariamente, para ganhar alguns poucos pontos com as
categorias, tradicionalmente próximas da esquerda (com exceção das associações
policiais, que, por vezes, foram atraídas pelo discurso da extrema-direita
brasileira). E, tal qual Jerônimo, é uma loteria saber se o feitiço não se
volta contra o feiticeiro.
Uma coisa é certa: o governo “não dá ponto sem nó” ao
construir, de agora, a narrativa de valorização do funcionalismo público. Bobo
é quem não percebe a estratégia eleitoral por trás disso. E isso vai acontecer
com muita gente daqui até as urnas no próximo ano.
Por Bahia Notícias