
Às vésperas
do 1º de Maio, o governo Lula (PT) segue debatendo medidas para reduzir os
preços dos alimentos, mas ainda não conseguiu encontrar um denominador comum. A
inflação dos itens alimentícios segue pressionando o bolso do trabalhador
brasileiro e desafiando a gestão petista.
Na última
sexta-feira (25), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15),
considerado a prévia da inflação, registrou avanço de 0,43% em abril,
impulsionado pelo grupo de alimentação e bebidas, com a maior variação e
impacto: 1,14%.
Em 9 de
abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo prepara o
anúncio das novas regras que regulamentam o Programa de Alimentação do
Trabalhador (PAT), principal aposta do governo para reduzir o preço da comida.
Segundo Haddad, as novas regras do vale-alimentação (VA) e vale-refeição (VR)
seriam publicadas “nos próximos 30 dias”, ou seja, até maio.
O governo
entende que as altas taxas cobradas por estabelecimentos que aceitam vales
podem estar aumentando o nível médio dos preços das refeições, já que elas são
repassadas ao consumidor. Com mudanças no modelo de negócio, os
estabelecimentos poderiam repassar custos menores, dando alguma contribuição
para reduzir a inflação dos alimentos.
Entenda o
PAT
• O Programa
de Alimentação do Trabalhador (PAT) é uma iniciativa governamental que oferece
benefícios de alimentação para trabalhadores que ganham até cinco salários
mínimos.
• A adesão
das empresas não é obrigatória. Em contrapartida, os participantes são
beneficiados com incentivos fiscais nos gastos com vale-alimentação (VA) e
vale-refeição (VR), desde que o subsídio seja concedido a todos os funcionários
da empresa.
• O governo
estuda colocar em prática a regulamentação da portabilidade e da
interoperabilidade do benefício. A portabilidade garante ao trabalhador o
direito de escolher em qual cartão ele prefere receber o auxílio, enquanto a
interoperabilidade permite que uma única máquina de cartão passe todos os
benefícios.
•
Supermercados levaram ao governo a proposta de reestruturar o PAT,
implementando o chamado PAT eSocial.
• Para as
empresas de benefícios que já operam no mercado, no entanto, as mudanças não
devem refletir nos preços dos alimentos.
A
regulamentação do programa foi discutida em reunião de Haddad com o ministro do
Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, e com o presidente do Banco Central (BC),
Gabriel Galípolo, no dia 9 de abril. Como mostrado pelo Metrópoles, existe hoje
um impasse com a autoridade monetária sobre a forma de se fazer a administração
do negócio.
O que é
debatido
Estão em
estudo a substituição do VA e do VR por repasse via Pix ao trabalhador e a
integração dos cartões de benefícios ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB),
o que poderia garantir um teto para as taxas. Essas mudanças, no entanto, não
são bem aceitas pelo Banco Central, que não considera os benefícios como meios
de pagamento comuns.
O Pix-PAT
exigiria uma nova lei, que precisaria passar pelo Congresso Nacional, ou uma
medida provisória (MP), que tem força de lei e vigência imediata, mas que
também precisa de aprovação do Congresso para ser definitivamente transformada
em lei.
Além disso,
essa modalidade exigiria o desenvolvimento de um produto dentro do Pix e
demandaria uma solução tecnológica para ser uma conta segregada, o que levaria
um tempo. Isso, portanto, não teria efeito imediato na inflação dos alimentos.
Fora da
competência do BC
Na última
quinta-feira (24), em entrevista para tratar das prioridades da autoridade
monetária para os próximos dois anos, o diretor de Organização do Sistema
Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes, disse que o PAT “excede muito” a
atuação do regulador do sistema financeiro de pagamentos. “Tem relação estrita
com uma política de trabalho, uma política de alimentação do trabalhador”,
disse ele.
“Nosso
julgamento é que os arranjos associados ao PAT não são sistemicamente
importantes para serem regulados pelo Banco Central”, completou.
A autoridade
monetária não encara esse mercado como um risco ao sistema de pagamentos
brasileiro e tem reforçado que não fará a regulamentação do segmento. A
alternativa seria atribuir essa competência ao Conselho Monetário Nacional
(CMN), órgão superior do Sistema Financeiro Nacional, composto pelo próprio BC
e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento. O CMN se reúne uma vez por
mês.
Propostas
de substituição
A Associação
Brasileira de Supermercados (Abras) propôs substituir os cartões de benefícios
pelo pagamento direto ao trabalhador via Caixa Econômica Federal, o que
eliminaria as taxas.
Já a
Associação Brasileira de Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) propôs a
concessão de descontos temporários para pequenos comerciantes, mas se opôs à
portabilidade, alegando que ela traria custos adicionais, e à proposta do Pix,
dizendo que ela poderia abrir espaço para o desvio de finalidade do valor e
extinção do PAT.
A ABBT diz
que o PAT não pode ser tratado como um “vale-qualquer coisa” nem ser acusado de
vilão da inflação. A entidade sustenta que o pagamento em dinheiro do
vale-alimentação e do vale-refeição traz risco de o benefício ser usado para
consumo de bebidas alcoólicas, cigarros, pagamento de dívidas e até apostas e
jogos de azar, deixando o trabalhador com menos dinheiro para comprar sua
alimentação e mais suscetível a doenças.
Portabilidade
e interoperabilidade
Em 2022, uma
lei instituiu a portabilidade do cartão de benefícios de alimentação. Na
prática, a medida permite ao funcionário de uma empresa escolher a gestora de
seu vale. Hoje, essa tarefa cabe ao departamento de recursos humanos (RH) do
empregador. A regulamentação dessa lei, porém, ainda não saiu, devido a
discordâncias entre os empregadores e o governo federal.
Também
carece de regulação a interoperabilidade, que é a comunicação entre os arranjos
aberto e fechado. O objetivo é compartilhar a rede credenciada de
estabelecimentos e permitir que uma única máquina de cartão passe todos os
benefícios. A ABBT não tem interesse nas duas regulações.
Do lado do
governo, a portabilidade é mais fácil de explicar como medida de comunicação,
mas mais difícil de implementar, porque exige organização de transferência de
saldos. Precisaria de uma entidade que se responsabilizaria por isso,
possivelmente as próprias empresas. Já a interoperabilidade é mais difícil de
ser comunicada, porque se aplica ao lojista/estabelecimento, mas é mais fácil
de ser desenvolvida, do ponto de vista técnico.
Segundo o
Ministério do Trabalho e Emprego, o PAT atende atualmente a mais de 21,5
milhões de brasileiros, dos quais aproximadamente 86% recebem até cinco
salários mínimos. Esses trabalhadores recebem o benefício por meio das cerca de
300 mil empresas beneficiárias inscritas no PAT em todo o Brasil.
Redução
do imposto de importação
Em março
deste ano, em outra tentativa de ajudar a arrefecer o preço dos alimentos, a
Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a isenção do imposto de importação
(II) de nove produtos alimentícios.
No início
deste mês, o diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior, Herlon
Brandão, disse que é difícil afirmar que a isenção do imposto de importação do
grupo de alimentos “tenha tido algum efeito” no resultado de março.
Questionado
sobre os impactos das tarifas zeradas, ele ressaltou que os produtos isentos
“têm valores relativamente baixos de importação” e que “qualquer variação pode
ser apenas volatilidade”.
“Temos que
ter cuidado com esses dados. Ressalto também que a medida entrou em vigor
apenas em 14 de março, então na metade do mês. Então, é difícil afirmar que
tenha tido algum efeito da tarifa nesse momento. Possivelmente no próximo mês
[abril fechado], isso pode ficar um pouco mais claro”, explicou Brandão a
jornalistas durante entrevista coletiva. As informações são do site
Metrópoles.