
Foto: Nelson Jr./SCO/STF
O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal),
afirmou neste sábado (12) que tem orgulho de ter participado do "desmanche
da Operação Lava Jato" e voltou a afirmar que a investigação conduzida em
Curitiba foi uma "organização criminosa".
Mendes deu essa declaração na Brazil Conference, evento
organizado por estudantes brasileiros das universidades americanas de Harvard e
MIT.
A expressão "desmanche" foi utilizada por uma
pessoa na plateia e depois referenciada pelo ministro.
Gilmar foi questionado sobre o processo de suspeição do
ex-juiz Sergio Moro e se por fim houve um desmanche da Lava Jato. Em resposta,
afirmou que passou a desconfiar de abusos por parte de investigadores e que
posteriormente eles foram comprovados pela chamada Vaza Jato, que se desdobrou
na Operação Spoofing.
"Eu percebi que havia exageros, que nós estávamos
mantendo as prisões preventivas e só estávamos fazendo as libertações depois
que faziam delações", disse o ministro.
As investigações a que o ministro se referiu mostram
mensagens privadas de autoridades da Lava Jato interceptadas por um hacker e
obtidas em 2019 pelo site The Intercept Brasil expuseram voluntarismos e
atitudes controversas, evidenciando a colaboração entre julgador e
investigadores, o que é ilegal.
"Vi que aquele momento era decisivo e passei a dizer que
aquilo ia dar errado." "Fico orgulhoso desse processo que você chamou
de desmanche da Lava Jato. Porque era uma organização criminosa. O que eles
faziam em Curitiba era criminoso", disse.
O magistrado, depois, foi perguntado sobre o argumento de
bolsonaristas, que defendem o afastamento de Moraes da investigação a respeito
de fake news e Bolsonaro, alegando que ele é vítima e ao mesmo tempo julgador.
Mais uma vez, Gilmar afirmou não haver razão para a suspeição do colega de STF.
Para Gilmar, o ministro Alexandre de Moraes passou a ser
atacado porque se tornou relator do inquérito das fake news e essa é uma das
razões pelas quais ele não deveria ser afastado do processo, como pede
Bolsonaro.
"Ele já foi feito relator do processo e por isso vem
sendo agredido. Seria muito fácil para qualquer investigado afastar o julgador
em face de impropérios. É disso que se cuida", disse Gilmar. "Ele não
é suspeito, não está impedido, não está julgando por seus interesses. Não se
pode nem de longe comparar Alexandre com Moro. Moro de fato se associa a
Bolsonaro", afirma.
O magistrado ainda comentou que certa vez disse ao
ex-presidente que havia "acertado ao contratar Moro para ser ministro da
Justiça e depois devolvê-lo ao nada".
O ministro ainda defendeu o Supremo de críticas de ativismo e
o papel da corte em ações recentes, incluindo as que miram o ex-presidente Jair
Bolsonaro. O magistrado afirmou que a corte age dentro da Constituição.
"Se houve ativismo, isso decorre da Constituição, do
nosso modelo constitucional, e isso decorre, a meu ver, para o bem."
A viagem do ministro aos Estados Unidos ocorre diante de uma
ofensiva do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em busca de sanções
ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Bolsonaristas que participam da estratégia também pediram a
integrantes do governo americano sanções contra Gilmar, por o verem como
espécie de cúmplice do que denunciam ser violações à liberdade de expressão de
Moraes.
Esta é a 14ª edição do evento, organizado por alunos
brasileiros de Harvard. No ano passado, o STF foi representado pelo seu
presidente, Luís Roberto Barroso.
Por Bahia Notícias