
Foto: Reprodução / Coopiatã
Na lista dos cinco estados com
maior produção de café no país, a Bahia não deve auxiliar no barateamento do
produto. Isso mesmo sendo o item responsável, junto com a soja, pela
maior exportação do estado no último mês de fevereiro.
Segundo o IBGE, a previsão é
que a colheita deste ano chegue a 266 mil toneladas, 6,8% acima em comparação a
2024. Apesar do aumento da produção, o valor não deve tornar o café palatável
ao bolso do baiano.
Para o engenheiro agrônomo e
sócio-fundador da Coopiatã, na Chapada Diamantina, Rodolfo Moreno, o fato de o
produto ser uma commoditie [mercadoria negociada em bolsa de valores] dificulta
a queda do preço nas prateleiras. “Os boatos correm, não é? Então, quem tem
café vai faturar em cima”, disse em entrevista ao Bahia Notícias.
Outro produtor, Yuri Mares
Barros, da JC Corretagem de Café, também estima que o preço fique ainda mais
elevado. Barros atua na região do Planalto da Conquista, que abrange Vitória da
Conquista e municípios como Barra do Choça, Ribeirão do Largo e Encruzilhada.
No ano passado, a região chegou a colher cerca de 750 mil sacas. Para este ano,
o produtor acredita que a safra seja menor devido ao que chama de bienalidade
do café – em dois anos há uma safra maior seguida de outra menor. Outro fator
também o preocupa. “Esse preço totalmente atípico é pela questão climática
mundial”, acrescenta.
Rodolfo Moreno ainda não está
seguro de uma situação melhor neste ano. “Tem muita florada. Lá em Piatã mesmo,
a florada foi boa. Só que ainda não se pode garantir. Porque pode vir granizo
em Minas, pode o Vietnã andar mal de novo. Enfim, é preciso esperar”, avaliou.
Na última cotação auferida
nesta segunda-feira (24), a saca de 60 quilos do café tipo arábica saía a R$
2,5 mil. Já o café da Chapada – conhecida pela alta qualidade e colhido a mão –
o produto é ainda mais valorizado. Moreno acredita que o preço possa chegar
neste ano a R$ 4 mil.
“Nós não costumamos trabalhar
com cotação de bolsa, mas o café bom já está a R$ 3,2 mil, e o café muito bom
já chegou em R$ 3,5 mil”, complementa. Para o produtor, a ação do governo
federal em zerar o imposto de importação para o café não trará resultados.
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“O Brasil nunca abriu as
portas para importação de café. A menos que se chegasse nas grandes indústrias,
como Olan, São Braz, Três Corações, e dissesse: ‘vem cá, vamos baixar isso’,
mas o governo não tem esse poder. Porque o pequeno produtor, que já gastou
dinheiro em junho do ano passado para fazer colheita, já gastou com adubação e
está com café estocado, ele não vai fazer mais nada. Quem subiu o preço foi a
bolsa. O custo do seu café acabou. Então tudo que está vindo a mais é bônus”,
detalhou. Na Bahia, as produções de café se destacam na Chapada Diamantina, no
Sudoeste, Extremo Oeste e Extremo Sul.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Assim como ocorreu em outras partes do mundo, as mudanças climáticas também
estão prejudicando a colheita e por sua vez na diminuição da oferta com
consequente aumento de preço.
"Não é possível que a
gente continue ignorando as mudanças climáticas porque a conta já está
chegando. As chuvas estão ocorrendo em temporadas diferentes, e a planta
entende isso primeiro que o produtor. Tem lugar que a colheita não vai ser mais
em junho. Tem gente antecipando para daqui a um mês, em abril", relata
Moreno. Yuri Barros também é taxativo. “O clima é que vai ditar o futuro do
mercado”, finalizou.
Por Bahia Notícias