
Foto: Raphael Ribeiro / Banco Central
Na segunda reunião sob o comando do novo presidente, Gabriel
Galípolo, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu nesta
quarta-feira (19), de forma unânime, elevar em mais um ponto percentual a taxa
básica de juros. A medida já era aguardada pelo mercado financeiro, e agora a
Selic passou de 13,25% ao ano para 14,25% ao ano.
O comunicado do Copom afirma que o cenário mais recente é
marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de
inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de
trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista. O documento é
assinado por todos os membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo
(presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco
Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti,
Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
"O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em
1,00 ponto percentual, para 14,25% a.a., e entende que essa decisão é
compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao
longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de
assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das
flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego",
afirmam os membros do Comitê.
"Diante da continuidade do cenário adverso para a
convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao
ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o
cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. Para além da
próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto
monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta
e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais
sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de
inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de
riscos", diz ainda o comunicado do Banco Central.
A nova elevação na taxa coloca a Selic no maior patamar desde
o ano de 2015, durante o governo Dilma Rousseff. Naquele ano, no mês de julho,
o BC, presidido por Alexandre Tombini, aumentou a taxa básica de 13,75% para
14,25%, patamar mantido em diversas reuniões subsequentes até começar a cair
para 14%, em outubro de 2016, já no governo Michel Temer.
Em julho de 2015, a então presidente Dilma enfrentava forte
resistência no Congresso Nacional, com sua avaliação popular minada por uma
economia brasileira em forte recessão e com inflação alta. Em 2015, o Produto
Interno Bruto (PIB) nacional caiu 3,5%, e o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) chegou a 10,7%. A combinação de crise econômica e forte queda nas
pesquisas ajudou a desencadear o processo de impeachment de Dilma, que se
concretizou em 31 de agosto de 2016.
Agora, a taxa Selic chega aos mesmos 14,25% daquele período
conturbado da economia e da vida política nacional, mas ao contrário daquele
momento, os indicadores econômicos atuais estão longe de indicar um cenário de
recessão. O PIB brasileiro cresce desde 2021. Só em 2023 e 2024, a alta foi de
3,2% e 3,4%, respectivamente.
Já a inflação, apesar de ter registrado em fevereiro a maior
taxa para o período dos últimos 22 anos (1,31%), apresenta um resultado de
5,06% no acumulado dos últimos 12 meses. Em janeiro, esse acumulado anual
estava em 4,56%.
Apesar de estar registrando alta, a inflação não apresenta o
mesmo cenário de descontrole verificado em 2015, quando atingiu os mesmos
14,25% anuais de agora. Entretanto, a alta já era aguardada desde o ano passado
e foi sinalizada ainda durante a gestão de Roberto Campos Neto à frente do
Banco Central.
Na reunião de dezembro de 2024, a Ata do Copom apresentou a
previsão de mais duas elevações na taxa Selic, como aconteceu nesses dois
primeiros encontros de 2025 com a administração Galípolo, indicado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o posto. Analistas de mercado
enxergam nesses reajustes quase programados uma estratégia pensada por Campos
Neto para suavizar a transição de comando no BC e blindar o novo presidente
Gabriel Galípolo.
Quando Lula tomou posse como presidente da República, em 1º
de janeiro de 2023, a taxa básica de juros estava em 13,75%. Em setembro
daquele ano o Copom iniciou uma trajetória de queda na taxa, e os juros
chegaram a 10,5% em maio do ano passado.
Diante de um quadro de aumento maior da inflação em setembro
de 2024, os membros do Copom iniciaram desta vez uma trajetória de alta, e com
apenas cinco reuniões do colegiado, a taxa subiu 3,75%, chegando aos 14,25% de
hoje, o maior patamar no governo Lula. Em resumo, o BC levou nove meses e meio
para reduzir a taxa em 3,25%, mas apenas seis meses e meio para elevá-la em
3,75%.
De acordo com avaliações de consultorias do mercado
financeiro, com a decisão tomada nesta noite, o Brasil passou a ter a
quarta maior taxa real de juros do mundo. A taxa real brasileira chegou
a 8,79%. A Turquia lidera o ranking com 11,9%, seguida por Argentina,
com 9,35%, e Rússia, com 8,91%.
Para calcular o índice real, leva-se em conta a taxa de juros
"a mercado", ou seja, um referencial do que seriam juros tomados
em uma operação real, e a inflação projetada para os 12 meses
consecutivos.
Por Bahia Notícias