Ato contra feminicídio Crédito: Tânia Rêgo/ Agência Brasil

Em oito anos, a Bahia registrou 790 feminicídios, um aumento de 50% de 2017 a 2024. Isso significa dizer que uma mulher foi vítima letal de violência de gênero a cada três dias no estado. Apenas em 2024, foram 111 casos. Em relação ao ano anterior (2023),  quando foram 115 assassinatos, houve redução de 3,5%.

Os dados são da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em parceria com a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA). O trabalho traz a caracterização e o perfil das vítimas de feminicídios no estado a partir da sistematização de dados dos Boletins de Ocorrência (BO), registrados pela Polícia Civil (PC), entre os anos de 2017 e 2024.

Em termos comparativos, em 2024, 1,4 mulheres foram vítimas de feminicídios a cada 100 mil baianas, enquanto que, em 2017, 1 mulher foi vítima de feminicídio a cada 100 mil mulheres na Bahia. Ainda em 2024, de cada cinco mulheres que morreram de forma violenta, duas delas foram vítimas de feminicídios. E ao menos um feminicídio foi registrado em 73 dos 417 municípios da Bahia no ano passado.

De acordo com a pesquisa, 72,1% das ocorrências foram dentro do domicílio da vítima. Outros 22,1% foram nas ruas. Sobre a autoria, 84,4% eram parceiros íntimos das mulheres alvos da violência (companheiros ou ex-companheiros e namorados).

O perfil das vítimas mostra que a maioria era composta por mulheres adultas (entre 30 e 49 anos), negras (pretas e pardas) e não solteiras.

Razões

Para Vanessa Cavalcanti, historiadora feminista, docente e investigadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Intredisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, da Universidade Federal da Bahia (PPGNeim-Ufba), o aumento de feminicidios pode ser explicado por várias razões, como o machismo, que mata e está arraigado na cultura e no cotidiano; o pequeno aparato de segurança e proteção para além de marcos legais (incluindo prevenção, coibição do crime e orçamento para educação, enfrentamento através de políticas públicas e prolongamento de medidas protetivas); e a criação e reforços de políticas consistentes e efetivas.

"Os tempos são de ataques, constante necessidade de intervenção e números que não calam. As 'máquinas de morte' não dão tréguas. Praticadas por 'homens comuns' (em geral seus nomes são preservados) que decidem quem deve viver/morrer", comenta Vanessa. Ela chama a atenção para algumas lacunas sobre vítimas travestis, quilombolas e indígenas, motivação e filiação ou outras vítimas de contextos familiares e de intimidade. 

Segundo a SEI, os dados desta pesquisa evidenciam um padrão de ocorrência no tipo criminal e contribuem para a construção de medidas mais efetivas para a proteção da vida das mulheres vítimas de violência de gênero.

Por Correio24horas