Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
As transações via Pix tiveram um recuo levemente mais
acentuado do que o padrão histórico em janeiro, mês marcado por desinformação
sobre taxação do meio de pagamento mais popular do Brasil. O Banco Central,
contudo, diz que o movimento está dentro do esperado, conforme a variação
sazonal de início de ano.
Historicamente, o número de operações via Pix costuma cair no
início do ano em relação a dezembro, período de maior consumo dos brasileiros
com o pagamento de 13º salário e as festas de fim de ano. Mas levantamento
feito pela Folha de S.Paulo observou que, em janeiro de 2025, a queda foi
ligeiramente mais forte do que em anos anteriores.
De dezembro de 2024 para janeiro de 2025, a redução foi de
11,4%. Um ano antes, em igual período, a queda tinha sido de 8,6%. Na
comparação entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, o recuo foi de 9,9%. O
último dado é também mais acentuado em relação ao período de dezembro de 2021
com janeiro de 2022, quando houve diminuição de 10,7%.
Outro sinal de que houve uma redução mais significativa neste
ano é que, pela primeira vez desde a criação do sistema de pagamentos
instantâneos, em 2020, a quantidade de transações via Pix do mês de janeiro
(5,06 bilhões no início de 2025) foi menor do que o volume total de operações
realizadas em novembro (5,17 bilhões no mês em 2024).
De acordo com o BC, esse comportamento reflete o
arrefecimento das taxas de crescimento do Pix em linha com a maturidade do
sistema.
"O fato da quantidade de Pix liquidados por meio do SPI
[Sistema de Pagamentos Instantâneos] ser menor em janeiro de 2025 na comparação
com novembro de 2024 reflete a acomodação natural das taxas de crescimento do
instrumento", disse a instituição.
"É esperado que, com a maturidade da nova tecnologia,
haja um arrefecimento nas altas taxas de crescimento interanuais, o que se
observou, de fato, nas estatísticas ao longo do último ano", acrescentou.
Outro fator que pode ajudar a explicar esse comportamento do
Pix em janeiro é o avanço do ciclo de alta de juros. Na semana passada, o Copom
(Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica (Selic) em um ponto
percentual, a 13,25% ao ano.
Como os pagamentos estão sujeitos ao nível da atividade
econômica, o efeito sobre o Pix é de redução no número de transações. A queda
mais forte observada em janeiro pode, então, ser um indício de desaceleração da
economia brasileira, quando associada aos outros fatores já mencionados.
Na ata do último encontro, o Copom reforçou que a
desaceleração da atividade econômica é necessária ao processo de desinflação.
Segundo o colegiado do BC, os dados mais recentes ainda dão sinais
"incipientes" de moderação do crescimento da economia.
Ao considerar que o movimento do Pix está dentro da variação
esperada, o BC descarta indiretamente que a disseminação de fake news tenha
causado prejuízo para o sistema.
Informações falsas sobre o meio de pagamento passaram a
circular depois que entrou em vigor, em 1º de janeiro, uma norma da Receita
Federal sobre monitoramento de transações financeiras.
A medida determinava que operadoras de cartão de crédito e
instituições de pagamento, como bancos digitais, deveriam notificar operações
que ultrapassem o montante de R$ 5.000 por mês para pessoas físicas e R$ 15 mil
mensais no caso de pessoas jurídicas.
Antes da atualização, a norma se aplicava a bancos
tradicionais e cooperativas de créditos, mas com limites mais baixos, de R$
2.000 para pessoas físicas. O monitoramento do Fisco passaria a valer também
para novos integrantes do sistema financeiro, como fintechs.
A atualização da regra desencadeou uma onda de desinformação
nas redes sociais, que iam desde uma suposta cobrança de taxas adicionais no
Pix até golpes bancários, além de críticas sobre a busca da União por aumento
de arrecadação. A repercussão negativa foi tão grande que o governo recuou e
revogou a instrução normativa no dia 15 de janeiro.
O governo publicou também, no dia seguinte, uma MP (medida
provisória) para reafirmar que pagamentos via Pix de pessoas físicas não serão
taxados. O texto apenas reforçou as regras atuais, mas serviu ao governo como
resposta política às críticas da oposição.
"O estrago causado está feito por esses inescrupulosos,
inclusive senador e deputado, agindo contra o Estado. Essas pessoas vão ter que
responder pelo que fizeram, mas não queremos contaminar a tramitação da MP no
Congresso", disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na ocasião.
Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foi o
principal promotor da campanha nas redes sociais contra a medida da Receita.
A repercussão negativa não se restringiu à economia e
respingou na ala política. Integrantes do governo avaliam que a crise do Pix
ajudou a acentuar a queda de popularidade do presidente Lula. Pesquisa Quaest
divulgada no dia 27 mostrou que a avaliação negativa do governo petista superou
a positiva pela primeira vez.
Por Bahia Notícias