Foto: Ricardo Stuckert / PR
O governo Lula (PT) decidiu manter sob sigilo as pesquisas de
opinião que foram encomendadas pela Secom (Secretaria de Comunicação Social) a
partir de 2023, na gestão do petista, mas vai liberar o resultado de
levantamentos feitos na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Em parecer apresentado em novembro passado, a CGU
(Controladoria-Geral da União) aceitou os argumentos da pasta, comandada pelo
então ministro Paulo Pimenta (PT), de que as pesquisas do atual mandato são
"documentos preparatórios" e não podem ser divulgadas.
A Secom ainda argumentou que a publicação antecipada pode
"resultar em pressões externas ou na manipulação da opinião pública"
e prejudicar propostas de governo em andamento.
A CGU afirmou que os dados podem ser divulgados no fim do
mandato de Lula ou quando for "implantada" a política pública ligada
a cada pesquisa.
A Controladoria, por outro lado, decidiu que os levantamentos
da gestão Bolsonaro, todos feitos em 2022, devem ganhar publicidade. Nesse
caso, o posicionamento representa uma mudança de atitude da CGU. Em junho, a
pasta havia concordado em manter sob sigilo todas as pesquisas, inclusive
aquelas realizadas antes de 2023.
A reportagem solicitou o material referente aos levantamentos
encomendados pelo governo Bolsonaro, com base na LAI (Lei de Acesso à
Informação). Em novembro, a Secom afirmou que precisaria de 90 dias para
avaliar e tratar o conteúdo das pesquisas.
No total, a Secom pagou R$ 13 milhões por 33 levantamentos
realizados, de 2022 a 2024, pelo Ipri (Instituto de Pesquisa em Reputação e
Imagem), divisão de pesquisas da empresa FSB. O instituto venceu uma licitação
em 2022, e o último trabalho foi realizado em abril de 2024, quando se encerrou
o contrato.
A reportagem também solicitou acesso a uma lista específica
de pesquisas feitas desde 2022 e pediu para a Secom apontar o motivo do sigilo
de cada uma delas.
A pasta, no entanto, apontou apenas que os relatórios de
pesquisas "passíveis de divulgação" já estavam disponíveis em seu
site, sem informar a razão de cada levantamento permanecer escondido.
O link fornecido pela Secom apresenta os resultados de
pesquisas realizadas de 2009 a 2011 e de 2013 a 2018.
A gestão Bolsonaro encomendou 13 das 33 pesquisas feitas pelo
Ipri. A Secom sinaliza que esses levantamentos devem ter os resultados
divulgados neste primeiro trimestre de 2025.
As pesquisas do governo passado incluem avaliações colhidas
em entrevistas feitas em domicílios, antes das eleições de 2022. Os temas das
sondagens eram Auxílio Brasil, "conjuntura nacional", "juventude
e universo feminino" e "inclusão e programas sociais", entre
outros.
O governo Bolsonaro ainda encomendou sete levantamentos com o
rótulo "regular semanal", feitos por telefone. O último foi feito em
dezembro de 2022, quando o então presidente já havia sido derrotado na disputa
ao Planalto.
Já o governo Lula quis saber a opinião da população sobre as
marcas de 100 dias e de 1 ano do governo petista. Essas pesquisas custaram R$
2,1 milhões cada. São os maiores valores pagos por levantamentos individuais
dentro do contrato com o instituto.
No total, as pesquisas encomendadas sob Lula custaram R$ 9,8
milhões.
No governo petista, a Secom ainda encomendou levantamentos
sobre "diagnóstico de políticas públicas", "perfil da classe
média brasileira", "endividamento da população brasileira",
"avaliação de governo e conjuntura" e "conflito no Oriente Médio
e agenda pública".
As pesquisas mais recentes também incluem a percepção sobre
os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Outra pesquisa trata especificamente da Operação Sequaz, da
Polícia Federal, contra uma suposta tentativa do PCC (Primeiro Comando da
Capital) de realizar ataques contra autoridades, entre elas o ex-juiz e senador
Sergio Moro (União Brasil-PR). Em março de 2023, Lula se tornou alvo de
críticas ao afirmar que o plano descrito pela PF era uma "uma
armação" do ex-ministro de Bolsonaro.
Procuradas, a CGU e a Secom não se manifestaram sobre a
decisão de manter todas as pesquisas feitas sob Lula em sigilo.
Em recursos apresentados nos processos baseados na LAI, a
Secom afirmou que o site da pasta já aponta "valor e objeto de cada
pesquisa". O link indicado, porém, aponta um título genérico da pesquisa,
sem detalhar quais foram as perguntas feitas à população e seus resultados.
A Secom também considerou o pedido para liberar os documentos
"desarrazoado". A secretaria citou uma portaria do fim de 2023 sobre
o acesso a informações da Presidência. O texto barra a divulgação de dados que
podem "trazer maiores prejuízos à sociedade do que os benefícios de sua
divulgação".
Ao ser acionada em recurso apresentado pela reportagem, a CGU
disse que existe precedente "em que se decidiu pelo indeferimento do
recurso, por entender que resultados de determinadas pesquisas possuem o
potencial de trazer à tona informações distorcidas referentes a uma política
pública a ser implantada".
Segundo a CGU, a divulgação ainda poderia "frustrar
expectativas e gerar a propagação de informações equivocadas, além de que se
tratam de documentos preparatórios à tomada de decisão futura, cujo acesso é
assegurado a partir da edição do ato ou decisão correspondente".
Por Bahia Notícias