Foto: Ricardo Stuckert/PR



Em uma medida considerada polêmica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou, nesta quinta-feira (9), uma Medida Provisória (MP) estabelecendo o pagamento de R$ 60 mil a cada família de crianças com deficiência decorrente de síndrome congênita associada à infecção pelo vírus zika. O valor, que será pago em parcela única, abrange casos em que a deficiência tenha sido provocada pela infecção da mãe durante a gestação entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2024.

 

Contudo, a mesma edição do Diário Oficial trouxe uma decisão que gerou reações negativas: o veto ao Projeto de Lei 6.064/23, aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro. Este projeto propunha, além de uma indenização por dano moral no valor de R$ 50 mil, o pagamento de uma pensão mensal vitalícia, equivalente ao teto do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que atualmente é de R$ 7.786,02. O veto foi anunciado sem abertura para negociações ou consultas com as famílias afetadas, o que gerou uma onda de protestos por parte de representantes dessas famílias.

 

Germana Soares, presidente estadual da União de Mães de Anjos de Pernambuco e mãe de Guilherme, de 9 anos, que sofre de microcefalia devido ao vírus zika, criticou veementemente a medida. Ela afirmou que a decisão foi tomada sem qualquer diálogo ou oportunidade de negociação. "Fomos surpreendidas com uma medida provisória de baixo escalão como se a vida e os sofrimentos dos nossos filhos fossem pagos com R$ 60 mil", desabafou.

 

A frustração é compartilhada por outras mães e líderes de organizações, como Luciana Arraes, presidente do UniZika Brasil. Para Arraes, o veto do presidente ao projeto de lei e a publicação da MP são um erro irreparável, um “cala-boca” que tenta minimizar a insatisfação das mães sem atender às suas reais necessidades. "Estamos extremamente tristes, frustradas e decepcionadas", afirmou. De acordo com ela, a medida não leva em consideração a realidade de famílias que, após quase dez anos de negligência, ainda enfrentam grandes dificuldades financeiras, emocionais e físicas.

 

A MP, que ainda precisa ser aprovada pelos plenários da Câmara e do Senado, também estabeleceu que as famílias que buscarem a indenização deverão comprovar que a síndrome foi causada pela infecção do vírus zika durante a gestação. Além disso, o valor da indenização será limitado pela disponibilidade orçamentária do governo e não será cumulativo com outras indenizações judiciais.

 

Entre 2015 e 2016, o Brasil enfrentou uma epidemia de zika, com mais de 12 mil casos suspeitos de microcefalia e outras anomalias neurológicas em crianças, associadas à infecção do vírus no período gestacional. O estudo publicado pela *The Lancet Regional Health - Americas* revelou que mais de 30% das crianças nascidas de mães infectadas apresentaram microcefalia ou outras deficiências, que continuam a afetar a vida dessas famílias.

 

Enquanto isso, mães e ativistas continuam mobilizados, com a esperança de reverter o veto presidencial no Congresso e conseguir mais apoio financeiro e reconhecimento pelas dificuldades que enfrentam diariamente. “A luta não vai parar”, garantem.

 

Por Bahia Notícias