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Falar de
Axé Music sem citar a mudança social que o movimento, iniciado em 1985,
promoveu para a capital baiana é esquecer da potência que a cultura tem na
sociedade. Para Sarajane, um dos principais nomes da música baiana, é
necessário reconhecer a importância do axé como um agente transformador.
Em
entrevista ao Bahia Notícias, a veterana, que deu voz a uma das canções mais
icônicas do movimento um ano após a criação do axé, ‘A Roda’, comemorar 40 anos
de axé e mostrar para o mundo que a música baiana ainda vive, independente dos
discursos pessimistas que tentam derrubar artistas da cena.
“A gente
está falando da música baiana, desse movimento que foi tão importante para o
turismo, para a cultura, empreendeu, trouxe muitos turistas do mundo inteiro. O
Axé Music não é só uma música, ele teve todo um objetivo, um idealismo de
jovens que quiseram mudar tudo isso aqui, trazer Salvador para uma cena muito
maior. Na época os artistas tinham que sair daqui para fazer sucesso. Hoje a
gente já não precisa tanto, precisa, mas não tanto. Então a gente está viajando
pelo Brasil inteiro, cumprindo a agenda, não só de shows, mas de entrevistas,
televisão, podcasts, jornais, enfim. A mídia está ajudando bastante.”
Para o
site, a Sarajane ainda exaltou a nova cena. “Tem muita gente nova chegando
bacana, um som novo, legal, que traz o nosso legado, misturando muita coisa
bacana que tem para apresentar”, afirmou.
O
encontro com a artista aconteceu durante o anúncio de um conjunto de ações para
fortalecer as artes cênicas em Salvador, feito pela Prefeitura através da
Fundação Gregório de Mattos.
Fundadora
da Associação Criança na Arte Sarajane (Acasa), que funciona no bairro de Santo
Antônio e promove a inserção social de crianças e adolescentes, com cursos
profissionalizantes, oficinas de artes plásticas e música, Sarajane celebrou o
incentivo a arte em Salvador.
“A arte
abre caminhos para tantos jovens, tantas crianças. E Fernando Guerreiro vem
fazer um trabalho muito legal, porque a coisa mais triste que a gente tem é
quando um artista assume, vira gestor e não faz nada. E ele vem fazendo com
excelência, assim como o Márcio Meirelles fez e tantos outros. Então
assim, eu acredito muito no novo.”
Para além
do incentivo local, a cantora reforçou a necessidade de se repensar nas
políticas públicas para cultura. “As pessoas têm mania de dizer que a Lei
Rouanet ‘Ah, milhões para fulano, ciclano’. Não é assim, é apenas uma carta que
a gente recebe e que muitas vezes é para o lixo porque a gente não consegue
patrocínio. Então, eu acho que precisa ter mais políticas públicas, sim, acho
que a Lei Rouanet precisa ser pensada, porque as empresas só querem patrocinar
artistas de nome e tem muita gente boa que não consegue fazer o seu trabalho
por isso”.
Sarajane,
que ainda atua levando a própria música para shows ao redor do país, aproveitou
o espaço para falar sobre a precarização de quem trabalha com a arte. Durante o
discurso de apresentação das ações de valorização e fortalecimento das Artes
Cênicas na FGM, Fernando Guerreiro citou episódios em que contratantes preferem
convidar artistas para se apresentarem de graça, oferecendo apenas a
visibilidade como “pagamento”.
A cantora
pontuou a importância de enxergar a arte como uma profissão que precisa ser
remunerada, apesar de todo amor que exista em produzir músicas, escrever peças,
pintar quadros e por aí vai.
“Muitas
vezes a gente paga para trabalhar. Muitas vezes a gente recebe só a estrutura.
A gente paga a nossa produção, nossa estrutura logística, tudo é pago, porque a
gente precisa estar na cena, a gente precisa estar no palco, é nossa vida. E
como o Fernando Guerreiro colocou, de forma muito inteligente, quando alguém
pede ‘Você pode cantar, você pode encenar uma peça, falar uma poesia’ eles não
pensam que pagamos boletos, que somos seres humanos, a gente precisa
sobreviver, precisamos dos nossos direitos.”
O recado
dado pela veterana foi de imposição por arte dos artistas para não deixar que
as pessoas enxerguem a arte como algo barato e que não carece de investimento.
“Os artistas precisam também se impor, porque muitas vezes trocam, fazem
espetáculos por pouca grana, às vezes atravessando um colega, invisibilizando o
outro colega. Muitas vezes para a gente estar ali a gente precisa se humilhar,
não é fácil fazer cultura no país e na nossa terra”.
Por Bahia
Notícias