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Apesar de ter crescido na Argentina sob o governo de Javier
Milei e caído no Brasil com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a
proporção de argentinos pobres é bem menor que a de brasileiros, quando
observada por um mesmo parâmetro.
Em 2022, a Argentina tinha 10,9% de pobres, enquanto o Brasil
tinha 23,5%, de acordo com cálculos de Marcelo Neri, diretor do FGV Social, que
construiu uma série histórica comparando a pobreza nos dois países de 2011 a
2022.
Para fazer a comparação entre os vizinhos, o pesquisador
considerou a linha de pobreza equivalente a uma renda mensal abaixo de R$ 666
por pessoa.
A preços de 2023, a série do FGV Social mostra que a
proporção de pessoas em situação de pobreza no Brasil era de 31,6% em 2011 (no
início do governo de Dilma Rousseff), enquanto a Argentina tinha 9,1% (sob o
comando de Cristina Kirchner).
No Brasil, o indicador começou a cair ao longo do primeiro
mandato de Dilma, enquanto se manteve praticamente estável no país vizinho.
Com a crise econômica de 2015 e 2016 no Brasil, a pobreza
voltou a subir e o mesmo aconteceu na Argentina, já no governo de Mauricio
Macri. Seu sucessor, o peronista Alberto Fernández, manteve a trajetória de
alta.
Pela série do FGV Social, o ano em que a pobreza nos dois
países esteve mais próxima foi 2020, durante a pandemia, quando os efeitos do
Auxílio Emergencial derrubaram a pobreza no Brasil para 18,7% (na Argentina,
era de 15,4%).
"É a diferença entre a foto e o filme. A Argentina era
um país mais rico há alguns anos, mas decaiu. Já no Brasil, embora a pobreza
seja maior, ela recuou", diz Neri.
"No Brasil, de 2022 a 2023, a pobreza diminuiu. Em 2024,
vai cair novamente, pelo crescimento esperado do PIB [Produto Interno Bruto],
mas ainda é preciso aguardar os dados gerais", complementa o pesquisador
da Fundação Getulio Vargas.
Na quarta-feira (4), o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) divulgou que a pobreza e a extrema pobreza no Brasil
atingiram os menores níveis de série iniciada em 2012, com as parcelas da
população considerada pobre ficando em 27,4%.
Na Argentina de Milei, por sua vez, sob efeito das medidas de
ajuste implementadas pelo ultraliberal para domar a inflação, a expectativa do
Banco Mundial divulgada em outubro era de uma queda de 3,5% do PIB do país em
2024, e a pobreza irá fechar o ano mais alta.
No primeiro semestre deste ano, de acordo com o Indec
(Instituto Nacional de Estatística e Censos), da Argentina, a pobreza atingiu
52,9% da população, alta de 11,2 pontos ante o mesmo período de 2023, atingindo
o equivalente a 15,7 milhões de pessoas.
Para classificar que um cidadão argentino está abaixo da
linha da pobreza, o Indec calcula o rendimento das famílias e o acesso a um
conjunto necessidades essenciais —isso inclui alimentos, vestimentas,
transporte, saúde e educação.
A pesquisa do instituto argentino acompanha 31 aglomerados
urbanos do país.
Os pesquisadores do Indec também apontam que o cenário em que
mais da metade da população está em situação de pobreza abrange 4,3 milhões de
lares.
As pesquisas dos dois institutos, do Brasil e da Argentina,
não são comparáveis. Neri ressalta que as diferenças se dão pela forma de
calcular a pobreza. "Tudo depende do termômetro, o que nós tentamos fazer
[com a série do FGV Social] foi usar o mesmo medidor para olhar a Argentina e o
Brasil."
Fernández, que antecedeu Milei na Presidência, chegou a
questionar o cálculo de pobreza feito pelo Indec no fim de sua gestão.
"Não acredito que sejam [na época] 40% de pobres, as
pessoas mentem ao responder [aos pesquisadores] para que seus auxílios não
sejam retirados", disse o então presidente, uma semana antes de deixar o
poder.
Ao assumir a Casa Rosada e aplicar seu plano de ajuste, que
conseguiu desacelerar a inflação, mas afetou a atividade econômica e os
indicadores sociais, Javier Milei manteve o economista Marco Lavagna no comando
do Indec, cargo que ocupa desde 2019.
O atual presidente argentino, no entanto, não poupou o
instituto de críticas, tendo questionado de forma recorrente a metodologia
aplicada para medir diferentes taxas, como a inflação e o desemprego.
Ao refletir sobre os efeitos sociais do ajuste na Argentina,
Neri avalia que a combinação de responsabilidade fiscal e social parece ser o
desafio, "o chamado caminho do meio", diz.
Por Bahia Notícias