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Divulgação/Concessionária Ponte Salvador-Itaparica
A construção
de uma megaponte de 12,4 quilômetros entre Salvador e a ilha de Itaparica, cujo
contrato foi firmado em novembro de 2020, deve destravar nos próximos meses com
um acordo firmado entre o Governo da Bahia e o consórcio formado por empresas
chinesas.
A nova
proposta prevê um investimento total de R$ 9 bilhões na construção da ponte,
entre recursos públicos e privados. O valor foi apurado pela reportagem com
duas fontes ligadas à negociação, que corre sob confidencialidade.
Em parceria
público-privada, o contrato original previa R$ 6,3 bilhões para construção do
sistema viário, sendo R$ 1,5 bilhão de recursos público. Além disso, o governo
baiano pagaria uma contraprestação de R$ 56 milhões anuais pelos 30 anos de
vigência da concessão.
A
renegociação atualizou o valor da obra e reviu pontos do contrato, caso os
temos do seguro de demanda, que prevê que o estado entre com recursos
adicionais na concessão caso o volume de veículos seja abaixo do projetado.
Para ser
concretizado, o acordo depende do aval do Tribunal de Contas do Estado da
Bahia. Há três meses, a Corte instaurou um processo de Solução Consensual de
Controvérsias e Prevenção de Conflitos entre as partes, replicando modelo
adotado pelo TCU (Tribunal de Contas da União).
O projeto
esteve na pauta das conversas com o líder chinês Xi Jinping, que esteve no
Brasil em novembro para participar das reuniões da cúpula do G20 e de reuniões
bilaterais com o presidente Lula (PT).
"Esse
ponto entrou no diálogo com o governo chinês e ele será tratado como um projeto
prioritário tanto do governo do Brasil, como do governo chinês", afirmou
ministro da Casa Civil, Rui Costa.
O cronograma
prevê a conclusão da ponte quatro anos após o início das obras civis. Quando
estiver pronta, Salvador-Itaparica será a segunda maior ponte do país (a
Rio-Niterói tem 13,3 quilômetros). Levando em conta apenas o trecho acima da
lâmina d’água, será a maior ponte da América Latina.
A construção
da ponte foi concebida em 2009 na gestão do então governador Jaques Wagner
(PT), mas foi licitada somente dez anos depois. O contrato foi assinado há
quatro anos, na gestão Rui Costa (PT) e, desde então, não foram iniciadas as
obras civis.
O consórcio
–formado pelas empresas CR20 (China Railway 20 Bureau Group Corporation) e CCCC
(China Communications Construction)– pediu reequilíbrio do contrato sob
alegação do aumento extraordinário dos preços dos insumos da construção civil
após a pandemia da Covid-19.
Com os
custos adicionais, os chineses orçaram a obra em R$ 13 bilhões. O governo
baiano concordou em repactuar o contrato, mas não aceitou os termos propostos.
Irritado, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) chegou a ameaçar romper o
contrato em janeiro deste ano.
Semanas
depois, o consórcio chinês iniciou etapa de sondagem do solo. Duas balsas
trabalham na baía de Todos-os-Santos, recolhendo fragmentos de solo para
análise dos locais onde serão fincados os 160 pilares da ponte. A sondagem tem
40% de execução e deve ser concluída em março de 2025.
Os termos do
novo acordo estão sendo analisados pelos técnicos do TCE da Bahia. Caberá ao
presidente da Corte, conselheiro Marcus Presídio, relatar o processo, que deve
ser levado ao plenário ainda em dezembro.
Conselheiros
ouvidos pela reportagem relatam que o clima é favorável ao acordo, mas a
aprovação vai depender dos termos finais do contrato.
O governador
Jerônimo Rodrigues (PT) diz que vai aguardar a decisão do Tribunal de Contas:
"Fechamos um acordo [entre governo e consórcio]. Este documento está sendo
redigido para que o TCE possa discutir e levar ao Pleno. Torço que esse ano
ainda a gente possa ter esse documento apresentado", afirmou.
O complexo
viário promete diminuir distâncias entre Salvador e o baixo-sul, onde ficam
praias como Morro de São Paulo, Boipeba e Barra Grande. Cidades do sul do
estado vão ficar mais próximas da capital em viagens por terra – o caminho para
Ilhéus, por exemplo, deve cair de 450 para 310 quilômetros. A expectativa é de
um fluxo de 28 mil veículos por dia.
Por outro
lado, a obra é vista com reserva por parte da população da ilha –que abriga os
municípios de Itaparica e Vera Cruz– e é criticada por ambientalistas, que
apontam danos aos ecossistemas locais como manguezais, além de um potencial
crescimento urbano desordenado.
O projeto
também é criticado pelos representantes dos usuários dos portos, que veem um
possível encarecimento das atividades portuárias. A ponte terá um vão principal
com 482 metros de extensão e dois vão secundários com 200 metros. A altura
nesses trechos será 85 metros.
A obra
também prevê a duplicação da rodovia BA-001 dentro da ilha até a ponte do
Funil, que liga a região insular com o continente na contracosta. O fluxo de
veículos da ponte será direcionado para uma nova via expressa com 22 km que
será construída entre Mar Grande e Cacha Pregos, paralela à rodovia estadual.
Em Salvador,
será erguida uma nova estrutura entre as regiões da Calçada e Água de Meninos,
composta por viadutos e dois novos túneis. O tempo médio para cruzar a ponte
será de 15 minutos – no atual sistema de ferryboats, a travessia pelo mar é
feita em cerca de uma hora.
Por Bahia Notícias