Café é
consumido por maioria absoluta dos brasileiros Crédito: Marcelo
Camargo/Agência Brasil
A artesã e
microempreendedora Vilma Neris é tão apaixonada por café que toma cerca de 1
litro e meio da bebida por dia, são sete pacotes por mês. Ela conta que mora
com a filha, mas que consome quase tudo sozinha e não tem tempo ruim, pode ser
moído, passado no coador, ou até expresso, o importante é ser café. Mas o
reajuste de 30,13% no preço do produto, em 2024, tem deixado a trabalhadora
preocupada.
"Gosto
de café, independentemente do horário. Pela manhã, eu não tomo uma xícara, tomo
uma caneca que tem quase meio litro. Gosto dele preto e não tenho limites para
beber café durante o dia. Agora, o preço tem pesado muito. Eu gosto de uma
determinada marca, estou tendo que comprar outra marca e pegando vários pacotes
quando vejo uma promoção", explicou Vilma.
Dentre todos
os produtos e serviços pesquisados para calcular a inflação oficial, o café
teve o 3º maior reajuste do ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas (IBGE), entre janeiro e setembro de 2024, o café moído acumulou
30,13% de aumento em Salvador e Região Metropolitana, o produto ficou atrás
apenas da manga (50,49%) e do alho (33,78%). Segundo os produtores, a estiagem
nas lavouras é responsável pelo aumento dos valores.
O gerente da
Cooperativa Agropecuária do Oeste da Bahia (Cooproeste), instituição que também
produz e comercializa café no Oeste do estado, Ronaldo Henrique contou que
existem dois fatores responsáveis por esse cenário, que o valor do produto deve
se manter no patamar que está nos próximos meses e que a chuva será
determinante para a queda nos preços.
"As
condições climáticas e o baixo estoque mundial do produto influenciaram no
preço. Tivemos um período de muito calor e poucas chuvas. A estiagem está
passando, a partir de agora, começa o período mais chuvoso, no último fim de
semana, por exemplo, tivemos chuva. Por enquanto o preço deve se manter”,
explicou.
O Dieese
apontou que o café em pó teve a maior alta dentre os 12 produtos da cesta
básica (8,54%), em setembro. Em 12 meses, o acumulado foi de 42,32% em Salvador
e Região Metropolitana. O preço do pacote com 250gm do produto moído pode
passar dos R$ 13, dependendo da marca e do tipo de grão. Na casa do empresário
Carlos Gama, no Rio Vermelho, a família abriu mão do café tradicional pela
cevada do produto.
"Inicialmente,
a troca foi por uma questão de saúde, porque a cevada não tem cafeína, mas,
depois, com aumento no preço do café, a troca virou uma necessidade. Para se
ter uma ideia, estamos pagando R$ 3,59 na cevada, enquanto o pacote do café
está de R$ 8,59. O sabor da cevada é um pouco mais amargo, mas com o tempo a
gente acostuma", disse.
Há quem
tente trocar o café por chá, suco ou outras bebidas, mas os fãs dificilmente
abrem mão. Na casa da professora Michele Oliveira, 31 anos, o café faz parte da
rotina matinal. Ela prefere com açúcar, já a irmã gosta com leite e a mãe
escolhe puro. Apesar dos gostos diversos, elas concordam que o preço do café
ficou salgado. Michele conta as estratégias que tem adotado.
"A
primeira alternativa é sempre trocar a marca por uma mais barata, mas, às
vezes, nem isso resolve. A gente sempre comprava no mercado, na prateleira
comum [varejo], mas agora estamos dando preferência por pegar no atacado. Está
mais em conta. O que não dá é para ficar sem café", afirmou a professora.
Hábito
Uma pesquisa
realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) mapeou os
hábitos de quem consome essa bebida no Brasil. Foram entrevistas 4,2 mil
pessoas em todas as regiões do país, nas classes A, B, C, D e E. No total, 46%
dos entrevistados disseram que consomem de 3 a 5 xícaras por dia e 97% tem o
hábito de tomar café logo ao acordar. O cafezinho após o almoço também é
rotina.
No universo
dos ouvidos, 61% deles disseram que bebem café para melhorar o humor e a
disposição, o percentual foi maior que o registrado pela mesma pesquisa em 2021
(57%) e em 2019 (56%). A maioria dos entrevistados pela pesquisa consome café
em casa e no trabalho, 55% prefere coador de pano e 38% recorre ao expresso de
máquina.
As opções
mais marcadas foram as de café com açúcar, café com leite e açúcar. Apenas 8%
afirmaram gostar dele puro. Ao todo, 43% disseram que entre as marcas que
preferem, escolhem a de menor preço. Outros 16% afirmaram que compram a mais
barata, independentemente da marca.
A Associação
de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) foi procurada, mas até o
fechamento da edição não havia se manifestado.
Por Correio24horas