Trabalhadores
industriais Crédito: CNI/Miguel Ângelo
Daqui a três
anos, grande parte das habilidades que são requisitos para empregar
trabalhadores industriais atualmente não serão suficientes para mantê-los no
mercado de trabalho. É por isso que, de acordo com o Mapa do Trabalho
Industrial, a Bahia vai precisar qualificar 574 mil profissionais até 2027. A
projeção é fruto do levantamento elaborado pelo Observatório Nacional da
Indústria (ONI) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que subsidia as
ações de planejamento de oferta do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai).
Segundo o
Senai, haverá necessidade de formação de 97 mil novos profissionais e de
requalificação de 477 mil que já estão no mercado. A demanda surge em
decorrência do ritmo de criação de empregos e a reposição de trabalhadores que
deixarão o mercado de trabalho formal. Entre 2025 e 2027, a expectativa é de
que haja a criação de 609 mil novas vagas no setor industrial e em ocupações
relacionadas à indústria em outros setores.
No que diz
respeito à requalificação, prevalece a exigência da área por novas
competências. “Os processos transitivos estão se modificando e as indústrias
estão se modernizando. Com isso, novos processos estão surgindo e precisamos
nos requalificar. Identificamos que quem já está no mercado precisa aprender
novas tarefas – porque a indústria pode automatizar o processo produtivo –,
assim como ser preparado para questões de segurança do trabalho e aumento de
produtividade”, afirma Patrícia Evangelista, superintendente executiva de
Educação Profissional do Senai Bahia.
O Mapa do
Trabalho Industrial foi elaborado levando em conta a projeção do emprego formal
até 2027, o volume de vínculos formais projetados para a indústria como um todo
e na estimativa da demanda por formação industrial – esta última foi obtida com
base na estrutura do emprego formal projetado e na necessidade de formação de
profissionais. Segundo o levantamento, a indústria demonstra trajetória
estável, com perspectivas de se manter em torno de 2,0% até 2027.
Para o
economista e educador financeiro Edisio Freire, apesar de ser difícil precisar
o cenário econômico da Bahia nos próximos anos, é possível constatar que os
indicadores apontam para a ampliação da geração de emprego. “Principalmente nas
indústrias, há necessidade de força de trabalho por uma conjuntura natural da
economia”, frisa.
“À medida
que saímos do cenário de pandemia e há um reaquecimento econômico, isso gera a
retomada de postos de trabalho. Além disso, a quantidade de profissionais
recém-saídos das universidades e que buscam se especializar incentiva o mercado
de trabalho”, analisa o especialista.
Competências
Os 574 mil
profissionais da área industrial que vão precisar passar pelo processo de
qualificação terão que desenvolver ou atualizar competências técnicas, como
domínio de máquinas, equipamentos e softwares (hard skills), habilidades
comportamentais como pensamento crítico, inteligência emocional, criatividade e
inovação (soft skills) e ações de saúde e segurança no trabalho, como inspeção
de instalações, normas e regulamentos.
De acordo
com Vitor Igdal, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na
Bahia (ABRH-BA), o desenvolvimento das competências que dizem respeito aos soft
skills reflete uma mudança comportamental do mercado. “Houve uma ampliação de
consciência sobre a importância intangível de se desenvolver um clima emocional
mais positivo e potencializar o engajamento dos colaboradores. Inclusive, é
comprovado que a cada 5% de aumento de engajamento dentro do ambiente de
trabalho, há aumento proporcional de 3% de faturamento”, destaca.
Patrícia
Evangelista afirma que as habilidades técnicas, também chamadas de hard skills,
são importantes para a adaptação dos profissionais às novas demandas da
indústria. “Nós temos um foco muito grande de formar pessoas que tenham alta
produtividade nas empresas. Esse momento de requalificação é o momento para
moldar os profissionais para os novos processos, procedimentos e tecnologias,
bem como as demandas de integração e automação”, pontua.
Perspectivas
de atendimento à área industrial
Segundo o
Senai, para colocar em prática a qualificação dos profissionais da área
industrial baiana até 2027, primeiro será avaliado o portfólio atual dos
trabalhadores para só então haver uma adaptação às demandas do segmento. A
entidade disse que as empresas serão ouvidas e, em consenso, será elaborado um
plano para possibilitar a oferta de cursos e programas de capacitação.
A Secretaria
do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) disse que entende a capacitação
profissional como direito e política pública fundamental para adequação entre
as demandas do mundo do trabalho, da sociedade e dos grandes investimentos
públicos e privados do estado. Em razão disso, destacou que executa o Programa
Qualifica Bahia de qualificação profissional, que oferta cursos conforme
identificação de demanda.
A pasta
disse que há perspectiva de abertura de 150 vagas para o Curso de Qualificação
BYD até o início de 2025, em parceria com o Senai. O Qualifica PAC Linhas de
Transmissão é outro curso que vai oferecer qualificação profissional para
trabalho na implantação de linhas de transmissão nos municípios de Irecê,
Jequié, Juazeiro, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista, e visa alcançar
600 pessoas interessadas na carreira de eletricista industrial.
Por fim, a
Setre informou que o Programa Manuel Querino prevê para o período 2024-2026
investimento de mais de R$ 22 milhões, na capacitação de mais de 17 mil
trabalhadores em 205 municípios, contemplando os 27 Territórios de Identidade
da Bahia.
A Secretaria
de Desenvolvimento Econômico (SDE) foi procurada para informar o plano de ação
para atender a demanda de qualificação de profissionais na indústria da Bahia
até 2027, mas não respondeu a reportagem.
Por Correio24horas