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Marcelo Camargo / Agência Brasil
As despesas
de combate à calamidade no Rio Grande do Sul e às queimadas e o pagamento de
valores retroativos ao Judiciário resultarão em um gasto de R$ 40,5 bilhões
fora das regras fiscais em 2024.
Com isso,
mesmo prometendo um resultado dentro da meta fiscal, que permite um déficit de
até R$ 28,8 bilhões neste ano, o rombo efetivo será de R$ 68,8 bilhões no
segundo ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mesmo fora
das regras fiscais, essas despesas contribuem para elevar a dívida pública. A
dívida bruta do país ficou em 78,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em julho,
segundo dados do Banco Central.
De acordo
com o relatório bimestral do Orçamento, divulgado na sexta-feira (20), foram
destinados R$ 38,6 bilhões em créditos extraordinários ao enfrentamento da
calamidade no Rio Grande do Sul, estado assolado por enchentes em maio de 2024.
Outros R$
514,5 milhões foram direcionados para o combate a incêndios, sobretudo na
Amazônia e no Pantanal.
Houve ainda
um crédito extraordinário de R$ 1,35 bilhão em favor do Judiciário e do CNMP
(Conselho Nacional do Ministério Público).
Como mostrou
a Folha de S.Paulo, o TCU (Tribunal de Contas da União) determinou ao Executivo
restituir diferenças retroativas de limites concedidos a menos no teto de
gastos entre 2017 e 2019. O dinheiro foi liberado no início de julho, e a maior
parte (R$ 1,1 bilhão) foi direcionada a despesas com pessoal.
O
secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Guimarães, disse,
em entrevista coletiva nesta segunda-feira (23), que ninguém esperava eventos
dessas proporções, tanto em relação às enchentes no Rio Grande do Sul quanto às
queimadas. Ele lembrou que o crédito extraordinário é um instrumento já
previsto na Constituição e que a própria lei do arcabouço fiscal o exclui do
alcance do limite de gastos.
"A
gente tem muito zelo e preocupação com esses valores que ficam, ainda que
justificáveis, fora das metas. A gente faz todo um esforço para que somente
aquilo que de fato é extraordinário e que você não tem como lidar [seja
autorizado]. Também, a gente tem o outro lado: não pode deixar o país pegar
fogo, a economia ser atingida de uma forma muito forte, impactar a vida das
pessoas. A gente precisa agir com essas medidas", disse Guimarães.
Embora fora
do limite de gastos, o crédito extraordinário entra para a contabilidade do
resultado primário, segundo as regras fiscais em vigor. O governo Lula, porém,
negociou com o Congresso Nacional a exclusão das despesas com o Rio Grande do
Sul da meta fiscal, dado seu volume expressivo.
Sem esse
aval, o governo precisaria contingenciar outras verbas do Orçamento para evitar
o estouro da meta e o consequente acionamento de gatilhos indesejados pela ala
política -o principal deles pode tirar cerca de R$ 16 bilhões de espaço fiscal
em 2026, ano de eleições presidenciais.
A exclusão
dos gastos de combate às queimadas, por sua vez, foi autorizada pelo ministro
Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Em
manifestação no processo, a consultoria jurídica junto ao Ministério do
Planejamento e Orçamento recomendou cautela na abertura dos créditos e disse
que financiar essas despesas por meio da emissão de dívida pode ter impacto
considerável sobre indicadores macroeconômicos, como inflação, taxa de juros e
a própria dívida pública.
Já no caso
do crédito que favorece o Judiciário, a exclusão da meta foi uma possibilidade
aberta pela decisão do TCU.
Na
entrevista coletiva, Guimarães reconheceu que as catástrofes, sobretudo as
ambientais, estão se tornando cada vez mais frequentes e destacou a importância
da agenda ambiental para tentar dar uma resposta a isso.
"[Precisamos]
Entender ela [a agenda] não só como [questão de] sobrevivência, mas também com
um apelo econômico. Tem impactos econômicos que a gente tem sentido",
afirmou.
Segundo o
secretário, a preocupação do governo é garantir um espaço no Orçamento para
conseguir lidar com os efeitos dessas catástrofes, e a revisão de gastos (para
reduzir a despesa com outras políticas obrigatórias) seria uma iniciativa
importante nessa direção.
A previsão
de R$ 40,5 bilhões em despesas fora das regras fiscais é maior que a estimativa
anterior do governo, que apontou em julho um gasto de R$ 28,8 bilhões nessa
categoria. O aumento se deu principalmente com o pagamento de benefícios
previdenciários, subsídios e outras despesas de combate às calamidades.
Por Bahia
Notícias