Foto: Pedro França/Agência Senado
Devido à falta de acordo entre os líderes partidários e
também pelo baixo quórum na sessão desta quarta-feira (7), o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deixou para a próxima semana a votação do
projeto que cria um regime de transição para o fim da desoneração da folha de
pagamento de 17 setores da economia e de milhares de municípios. O projeto,
relatado pelo líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), está emperrado por conta
do difícil entendimento entre a equipe econômica do governo e o Congresso a
respeito das fontes de compensação para a manutenção da desoneração.
O Senado apresentou diversas sugestões para compensar a
desoneração, mas as ideias foram descartadas pelo governo. De sua parte, o
Ministério da Fazenda propôs efetivar o aumento de 1% na Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido de empresas, mas devido à resistência de líderes
partidários, principalmente da oposição, foi sugerida a inclusão de um gatilho
que condicionaria o aumento da CSSL à compensação das renúncias fiscais.
“A negociação é a seguinte: uns acreditam que esses programas
são suficientes para a compensação. A Fazenda, que tem que ser mais
conservadora, diz que acha que não vai dar, por isso propôs o gatilho. Eu diria
que é isso o que resta ser decidido”, disse o senador Jaques Wagner aos
jornalistas após a sessão desta quarta.
O Congresso corre contra o tempo para aprovar o projeto por
conta do prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal para a concretização de um
acordo sobre as fontes de compensação da desoneração. O prazo se tornou ainda
mais apertado após o ministro Cristiano Zanin agendar para o período de 16 a 23
de agosto o julgamento que visa confirmar com o colegiado a manutenção da
liminar que prorrogou até o dia 11 de setembro a desoneração da folha de
pagamentos.
A liminar foi proferida pelo presidente em exercício do STF,
Edson Fachin, durante o recesso do Judiciário no mês de julho. Como não havia
tempo hábil para votação do projeto diante do início do recesso parlamentar,
Fachin estendeu para 11/9 o prazo de 60 dias concedido por Zanin, relator da
ação, ainda no mês de maio, para que fosse apresentada a forma de compensação
da desoneração até 19 de julho.
Na ocasião, Fachin atendeu a um pedido da Advocacia-Geral da
União (AGU) e da presidência do Senado, que solicitaram ao Supremo o
alargamento do prazo da manutenção da desoneração. AGU e Senado argumentaram
que há disposição dos poderes Legislativo e Executivo na construção de um
acordo de compensação, porém, por conta do recesso, eles não haviam ainda
conseguido costurar a medida.
“Gostaria de que tivesse sido hoje (quarta). Não tem porque
ficar empurrando com a barriga. Precisamos resolver. Já estou querendo debruçar
sobre a regulamentação da tributária. Tem que virar essa página”, afirmou o
senador Jaques Wagner.
As negociações, entretanto, devem continuar intensas na
próxima semana, já que os senadores de oposição não aceitam que haja aumento de
carga tributária para compensar a manutenção da desoneração da folha.
“O tema da desoneração da folha não pode ser motivo para o
governo querer emparedar o Congresso Nacional. Já votamos essa matéria, depois
derrubamos o veto presidencial, e o governo com essa judicialização, força o
Congresso a ter que encontrar meios para aumentar a arrecadação. A oposição é
contra a inclusão de qualquer item que aumente a carga tributária”, disse o
senador Marcos Rogério (PL-RO), na saída da reunião de líderes na manhã desta
quinta (8).
O modelo de desoneração da folha de pagamentos de setores da
economia foi instituído em 2011, no segundo mandato da petista Dilma Rousseff,
como forma de estimular a geração de empregos, e já foi prorrogado diversas
vezes. É um modelo de substituição tributária, em que determinados segmentos
contribuem com uma alíquota de 1%a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20%
sobre salários. Os 17 setores geram cerca de 9 milhões de empregos.
No ano passado, o Congresso prorrogou a medida até o fim de
2027. Além disso, estabeleceu que cidades com população inferior a 156 mil
habitantes poderão ter a contribuição previdenciária reduzida de 20% para 8%.
O projeto, no entanto, foi vetado pelo presidente Lula.
Depois, em reunião do Congresso, o veto presidencial foi derrubado e, como
resposta, o Executivo ingressou com ação no STF contestando a nova lei. O
ministro Cristiano Zanin concordou com os argumentos da Advocacia-Geral da
União de que não poderia ser mantida a desoneração sem que fossem indicadas as
fontes de compensação de receita.
Por Bahia Notícias