Foto: Dênio Simões/MIDR
As mudanças climáticas têm o
potencial de derrubar a renda mundial, com uma redução média de 19% até 2049,
em relação ao cenário projetado sem os impactos do aquecimento global. Isso se
traduz em uma queda anual média de cerca de US$ 38 trilhões (cerca de R$ 199
trilhões) nos próximos 25 anos.
As previsões são de um novo
estudo publicado na revista Nature. De acordo com o trabalho, conduzido pelo
Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, da Alemanha, o Brasil
está entre as nações mais impactadas, com reflexos negativos acima da média
mundial.
A mediana (valor central dos
dados) da projeção para o cenário brasileiro é de uma queda de 21,5% em 2049,
com impactos negativos em todas as regiões do país.
A projeção dos prejuízos diz
respeito às emissões que já aconteceram. Isso significa que, mesmo se houvesse
agora uma redução drástica na liberação de carbono na atmosfera, cerca de um
quinto da renda mundial em média já estaria comprometida no período analisado.
Se nada for feito para diminuir as emissões, o impacto econômico deve ser ainda
maior.
Embora a queda na renda global
aconteça de forma generalizada, os países mais pobres -e que menos contribuíram
com as emissões de gases-estufa- devem ser os mais afetados, evidenciando que
os impactos econômicos podem agravar os efeitos da injustiça climática.
Líder do estudo, a economista e
pesquisadora climática Leonie Wenz, do instituto alemão, afirmou que as nações
em desenvolvimento devem ser particularmente apoiadas.
"Além das medidas de
adaptação para reduzir danos a curto prazo e da mitigação ambiciosa das
mudanças climáticas para evitar danos ainda maiores na segunda metade deste
século, os países mais afetados pelas mudanças climáticas devem ser apoiados.
Esses países são frequentemente os que têm menos emissões históricas e menos
recursos para se adaptar", disse à reportagem, por e-mail.
"Nossas descobertas mostram
que os países menos responsáveis pelas mudanças climáticas sofrerão uma perda
de renda até meados do século que é 60% maior do que os países de renda mais
alta, além de 40% maior do que os países com maiores emissões", completou.
O trabalho não mostra que a
renda global irá pará de crescer, mas sim que, por conta do aquecimento global,
o desempenho ficará bem abaixo do seria em um mundo não afetado pelos efeitos
prejudiciais do aumento de temperaturas.
Coautor do estudo, Maximilian
Kotz destaca que as alterações climáticas terão impacto em várias áreas
importantes da economia.
"Estão previstas fortes
reduções de renda para a maioria das regiões, incluindo América do Norte e
Europa, com o Sul da Ásia e a África sendo os mais afetados. Isso é causado
pelo impacto das mudanças climáticas em vários aspectos relevantes para o crescimento
econômico, como rendimentos agrícolas, produtividade do trabalho ou
infraestrutura", disse, em nota.
A estimativa de prejuízos
causados pelo aumento das temperaturas é seis vezes maior do que a previsão de
custos em esforços de mitigação para limitar o aquecimento da Terra em até 2°C,
em linha com o que foi acordado pela comunidade internacional no Acordo de
Paris.
A maior parte dos danos
econômicos vem do aumento das temperaturas, mas outros componentes, como
alterações nos padrões de chuva, ajudam a ampliar os prejuízos. Segundo os
cientistas, a inclusão de outros fenômenos climáticos extremos, como incêndios
florestais, poderia inflar ainda mais as projeções.
Para chegar aos resultados, os
pesquisadores do instituto alemão criaram modelos que avaliavam a produtividade
econômica diante dos diferentes cenários climáticos. Foram considerados dados
temperatura e precipitação, entre outros critérios, de mais de 1.600 regiões do
planeta ao longo dos últimos 40 anos.
Ao agregar esse grande volume de
dados empíricos às simulações, os pesquisadores foram capazes de criar
projeções robustas, mesmo a longo prazo, para as diferentes subregiões.
Diante dos resultados, os
cientistas reforçaram os apelos pelo corte das emissões.
"Cabe a nós decidir: uma
mudança estrutural em direção a um sistema de energia renovável é necessária
para nossa segurança e nos economizará dinheiro. Permanecer no caminho atual
nos levará a consequências catastróficas. A temperatura do planeta só pode ser
estabilizada se pararmos de queimar petróleo, gás e carvão", avalia Anders
Levermann, também coautor do estudo.
O artigo reforça o já grande
volume de dados científicos que corroboram a necessidade de redução rápida das
emissões globais de gases de efeito estufa. Ainda assim, a quantidade de
carbono liberada na atmosfera segue em crescimento.
De acordo com a Agência
Internacional de Energia, as emissões globais de dióxido de carbono (CO2)
relacionadas à produção de energia, principalmente pelo uso de combustíveis
fósseis, atingiram novo recorde em 2023.
O ano passado foi também o mais
quente já registrado na história da humanidade, segundo dados da Organização
Meteorológica Mundial e de várias outras instituições.
Por Bahia Notícias