
Rota do Café Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Há quem o prefira quente, gelado, doce ou amargo.
Mas, independentemente do modo, difícil é encontrar quem não goste de um bom
café. O favoritismo é tamanho que o grão tem uma data só para ele: no dia 14 de
abril, próximo domingo, é comemorado o Dia Mundial do Café. Na Bahia, a
produção cafeeira movimenta R$2,4 milhões na economia, o que representa 5,7% do
valor total gerado no estado pela agricultura de lavouras temporárias e
permanentes. Os dados são da Produção Agrícola Municipal de 2022, revelados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de café do
mundo. O país exportou 39,2 milhões de sacas de 60 quilos de café em 2023 para
152 países – 1,3% a menos na comparação com o ano anterior –, segundo dados
consolidados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
(MDIC). De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a redução
da exportação em 2023 foi influenciada pela restrição dos estoques no início do
ano, após as adversidades climáticas que limitaram a produção nacional nas
safras 2021 e 2022.
Por sua vez, a Bahia segue entre os quatro maiores
produtores do país e deve ter crescimento de 6,4% na produção total de café,
com 3,6 milhões de sacas previstas até setembro. No estado, é esperado 1,2
milhão de saca de café arábica, com alta da produção atribuída à bienalidade
positiva, ainda que o resultado seja limitado pela previsão de chuvas abaixo da
média. Quanto ao café conilon, são esperados 2,3 milhões de sacas, resultado de
um bom emprego de melhorias tecnológicas, mas igualmente limitado pela previsão
de chuvas abaixo da média.
Locais de produção
Segundo a Conab, o cultivo de café arábica se dá
nas regiões do Planalto (centro-sul e centro-norte baiano) e no Cerrado
(Extremo-Oeste da Bahia). “De maneira geral, o Planalto se caracteriza pelas
áreas de maior altitude e clima ameno, favorecendo o desenvolvimento do café na
região, especialmente aquele grão destinado para produção da bebida de maior
qualidade”, diz a entidade no último boletim da Safra Brasileira de Café.
As lavouras de café no Planalto estão divididas em
três microrregiões: Chapada Diamantina, Vitória da Conquista e Brejões. Já as
lavouras de café no Cerrado estão divididas em quatro municípios: Barreiras,
Luís Eduardo Magalhães, São Desidério e Cocos. Nessas quatro cidades, o manejo
do café é totalmente irrigado e possui um cultivo concentrado em grandes
propriedades, conduzido por grupos empresariais, e tendo 100% das operações de
colheita em caráter mecanizado.
No que diz respeito ao cultivo do café conilon
baiano, há concentração na região do Atlântico, no sul da Bahia, e
especificamente em quatro microrregiões: Extremo-Sul, Costa do Descobrimento,
Litoral Sul e Baixo Sul, visto que todas elas apresentaram uma alta
adaptabilidade a esse tipo de café, ficando entre uma das maiores
produtividades médias do país.
Melhores cafés da Bahia
Apesar de ser produzido em diferentes locais do
estado, a fama da excelência do café baiano já tem locais bem definidos. “A
Bahia hoje tem lugares que produz café de qualidade, como Piatã, Planalto de
Vitória da Conquista e Ibicoara. Principalmente Piatã tem se destacado muito no
cenário de cafés. Temos cafés de lá premiados a nível nacional e
internacional”, afirma Sara Carvalho, barista e especialista em cafés
especiais.
Os cafés de alta qualidade produzidos nesses
lugares são chamados de cafés especiais, nome atribuído ao café que atinge,
pelo menos, 80 pontos na escala de pontuação da Metodologia de Avaliação
Sensorial da SCA (Specialty Coffee Association), que vai até 100. Nessa
avaliação contam atributos como a fragrância e aroma, uniformidade, ausência de
defeitos, doçura, sabor, acidez, corpo, finalização, harmonia, conceito final –
esse último se refere a impressão geral atribuída pelo classificador.
“[Os cafés especiais] são cafés com notas
sensoriais mais ricas, têm doçura, acidez natural e nada a ser adicionado. A
torra é de forma a realçar todo o potencial que tem dentro do grão e do fruto.
[...] Esses cafés que costumamos ver no mercado, que são os cafés tradicionais,
são mais escuros, extrafortes, extremamente amargos e queimados, porque a torra
foi feita até queimar o grão. Ela é feita dessa forma propositalmente para
esconder os defeitos do café. O café especial não tem defeitos. A torra é média
e clara, feita para caramelizar os açúcares e fazer com que se ressaltem as
características sensoriais daquele grão”, define Sara Carvalho.
Ao longo dos anos, os produtores da região da
Chapada Diamantina passaram a dar prioridade à produção desse tipo de café
pelos altos custos da produção do café commodity. Esse foi o caso do produtor
Antônio Rigno de Oliveira, proprietário das Fazendas Ouro Verde, São Judas
Tadeu e Tijuco e responsável por um dos cafés especiais premiados no município
de Piatã.
“Migramos do commodity no início dos anos 2000 e
conquistamos os principais prêmios de qualidade de café do Brasil, sendo
campeões do Cup of Excellence nos anos de 2009, 2014, 2015 e 2022, e Concurso
Abic de Qualidade de Café nos anos 2014 e 2019, o que motivou e ainda motiva
pequenos e médios produtores da região a investirem na produção de cafés
especiais”, diz Candido Rosa, sócio proprietário da Cafeteria Rigno em Vitória
da Conquista e genro de Antônio.
As fazendas sob comando dos Rigno somam 80
hectares, com média de 2 mil sacas por ano. O tipo de café produzido é a
arábica, da variedade Catuí. Segundo Candido, a altitude e o clima de Piatã,
propícios para a produção de cafés especiais, são os principais motivos que
favorecem o cultivo.
Já na Fazenda Jandaia, em Ibicoara, as 500 sacas de
café obtidas em 12 hectares das terras sob propriedade do produtor Matheus
Tinoco, de 46 anos, se beneficiam do microclima com regime de chuvas bastante
regulares, altitude acima dos mil metros, clima ameno o ano inteiro e solo
bastante equilibrado para o cultivo de café, mas não só. “O pós-colheita é um
dos fatores mais importantes para obtenção de um café de qualidade. Fazemos
colheita de grãos bem maturados e secagem dos grãos em piso de concreto e coberto
para não tomarem chuva”, pontua Matheus.
De acordo com Norman Coelho, curador e especialista
de cafés especiais, a maioria da produção cafeeira especial é exportada para o
exterior. “Desses cafés de altíssima qualidade a maior parte ainda é exportada
para países como Austrália, Noruega, EUA, Canadá e Japão, mas o mercado interno
tem crescido ano após ano. No Brasil o maior consumo ainda é na região Sudeste.
Esses cafés já são encontrados em Salvador pelas marcas Café Garbo, do coado ao
expresso”, aponta.
A reportagem procurou a Associação Brasileira da
Indústria de Café (Abic) para saber qual o cenário atual da produção de café na
Bahia, mas a assessoria afirmou que não há dados sobre o estado. A Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também foi procurada para
fornecer dados sobre produção e consumo do café baiano, mas não retornou.
O CORREIO também procurou a Companhia de
Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), pasta vinculada à Secretaria de
Desenvolvimento Rural, para saber qual o investimento feito na produção
cafeeira, mas não houve resposta.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique
Lôbo
Por Bahia Notícias