Foto: Lula Marques / Agência Brasil
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
(PL), presta novo depoimento à Polícia Federal nesta segunda-feira (11) em meio
à expectativa de esclarecer pontos da investigação sobre uma trama para impedir
a posse do presidente Lula (PT).
Ele chegou à PF para depor pouco antes das 15h e, no começo da noite,
continuava sendo ouvido.
Investigadores esperavam que Cid tratasse de elementos encontrados ao
longo da apuração e que o militar deixou de fora da delação premiada que firmou
em setembro do ano passado.
Integrantes da PF dizem que o tenente-coronel não citou em oitivas
anteriores uma reunião ministerial promovida por Bolsonaro em julho de 2022, na
qual o ex-presidente insuflou seus ministros a questionar o resultado das
eleições.
A Polícia Federal também buscava mais informações sobre uma tratativa
entre Cid e o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira
sobre o pagamento de R$ 100 mil que, na visão da PF, seria usado para custear
despesas de manifestantes em Brasília.
O pedido pelos recursos foi encontrado no celular de Mauro Cid por
delegados que conduzem a investigação. A conversa ocorreu em 14 de novembro de
2022, portanto depois das eleições.
Nos primeiros depoimentos sobre os planos golpistas, porém, o militar
não citou o repasse do dinheiro.
Para a PF, o diálogo mostra que militares da ativa e integrantes do
antigo governo "estavam dando suporte material e financeiro para que as
manifestações antidemocráticas permanecessem mobilizadas, visando garantir uma
falsa sensação de apoio popular à tentativa de golpe".
Cid alegou a pessoas próximas que não citou a reunião ministerial nos
depoimentos anteriores porque não via relevância no encontro. Na visão do
militar, segundo interlocutores, o encontro não tratava sobre golpe.
O tenente-coronel alega que era uma reunião com todos os ministros,
gravada, e que ocorreu em julho, três meses antes das eleições.
Cid também avisou a aliados que responderia a todos os questionamentos
dos investigadores para não perder os benefícios da delação, apesar de ter
demonstrado insatisfação com o que classifica como "narrativas"
criadas pela PF.
Este é o quarto depoimento de Mauro Cid no âmbito da delação premiada
que ele firmou com a PF. Ele foi intimado após o ex-comandante do Exército
Freire Gomes prestar esclarecimentos por mais de 7 horas para os investigados,
no início de março.
A delação foi acertada enquanto a PF avançava sobre suspeitas de Cid e
seu pai, o general Mauro Lourena Cid, terem vendido joias recebidas por
Bolsonaro como presentes de Estado para o ex-presidente ficar com o dinheiro.
Quando fechou a delação, Mauro Cid também se dizia disposto a colaborar
com a investigação da PF sobre a fraude no cartão de vacinação que o militar
teria feito para permitir que familiares e Bolsonaro pudessem viajar aos
Estados Unidos mesmo sem terem sido imunizados contra a Covid-19.
As investigações, porém, avançaram em outro sentido. O foco passou a ser
as discussões que Bolsonaro e aliados teriam feito para tentar evitar a posse
de Lula, sob os argumentos de que a Justiça favoreceu o petista no processo
eleitoral e da desconfiança criada em torno do funcionamento das urnas
eletrônicas.
Em um dos depoimentos, Cid disse que Bolsonaro havia convocado os
comandantes das Forças Armadas para apresentar um documento com uma série de
considerandos —um compilado de momentos em que, na visão de Bolsonaro, a
Justiça teria interferido ilegalmente em seu governo.
O documento teria sido apresentado pelo assessor para assuntos
internacionais da Presidência, Filipe Martins, e pelo advogado Amauri Feres
Saad. Segundo fontes com conhecimento do assunto, a minuta continha somente as
consideradas interferências do Judiciário e não possuía medidas a serem tomadas
em reação.
Segundo a delação de Cid, após a apresentação da minuta aos comandantes,
Bolsonaro pediu para permaneceram na sala só ele e os chefes militares para
discutir ações diante do cenário. O general Freire Gomes e o ex-comandante da
Aeronáutica, brigadeiro Baptista Junior, foram contrários aos planos golpistas
apresentados pelo ex-presidente.
Por Bahia Notícias