Fenômenos como o El Niño interferem na produção de alimentos, o que eleva os preços Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
Está cada vez mais difícil fazer refeições com
pratos coloridos e diversificados na Bahia. Os itens de hortifruti (legumes,
verduras e frutas) acumulam alta de 266% entre outubro do ano passado e
fevereiro deste ano nas prateleiras dos supermercados. Os extremos climáticos e
o El Ninõ interferem na produção de alimentos em território baiano,
especialmente de alimentos como banana e cebola.
Um levantamento realizado pela Superintendência de
Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) indica que 76% de todos os itens do
grupo de hortaliças pesquisados sofreram aumento no preço médio nos últimos
quatro meses. Os que ficaram mais caros no período foram: inhame (266%), chuchu
(249%) e abóbora (215%). Já no segmento das frutas, 62% dos itens tiveram
aumento. O principal vilão foi a banana prata, com variação de 82%.
O quilo do produto era vendido por R$2,30 em
outubro e saltou para R$4,25 em fevereiro. A alta dos preços sentida pelos
consumidores é o último passo de um processo que tem início com a produção dos
alimentos no campo. A cidade de Bom Jesus da Lapa, no oeste baiano, é a maior
produtora de banana do Nordeste e a segunda do país, atrás apenas de São Paulo.
“Os produtores agrícolas convivem com a realidade
das intempéries climáticas. Os desequilíbrios climáticos significativos, como o
El Ninõ, perturbam a agricultura em todo o território nacional. A escassez de
água na Bahia prejudicou a safra dos produtos”, explica Denilson Lima,
economista da SEI. Bom Jesus da Lapa é uma das cidades que sofreram com as
ondas de calor que afetaram mais de 100 municípios baianos no ano passado.
O El Ninõ, que também faz parte dessa equação,
provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico. A maior evaporação no
oceano interfere no regime de chuvas do Norte e Nordeste, prolongando a
estiagem. Em outubro, um estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Desastres Naturais (Cemaden) revelou que 247 cidades da Bahia tinham ao
menos 40% das áreas agroprodutivas afetadas pela seca. Isso significa 49% de
todos os municípios do estado.
“A hostilidade do clima no verão contribui para a
redução temporária da oferta de alimentos. É um efeito sazonal provocado pela
elevação da temperatura e aumento do volume das chuvas”, explica André Braz,
economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Em Riachão das Neves,
cidade que fica a 54 quilômetros de Barreiras, até as áreas irrigadas sentiram
os impactos da seca.
“Mesmo nas lavouras irrigadas, que é o caso das
bananas, as plantas sentiram muito porque tivemos calor excessivo e baixa
umidade. Isso impactou significativamente a produtividade, que reduziu 30%
entre janeiro deste ano e o mesmo mês do ano passado”, revela Márcio Oliveira,
que há 10 anos produz banana e maracujá em Riachão das Neves.
A expectativa é que os efeitos climáticos percam
força com a aproximação do outono, que terá início em 20 de março. Segundo
Márcio Oliveira, já houve diminuição de preços na última semana de fevereiro.
“É provável que o preço volte a ser mais acessível para o consumidor no mês de
março”, diz. O efeito foi sentido, inclusive, no Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que ficou em 0,78%. A taxa é uma prévia da
inflação do mês e foi divulgada na terça-feira (27). “Foi uma boa notícia. O efeito
está cedendo, o clima não penalizou tanto a lavoura”, afirma o economista André
Braz.
Mas nem todos os alimentos terão diminuição
imediata dos preços. No caso da cebola, que é produzida principalmente na
região de Irecê, no centro-norte do estado, a previsão é de aumento. “Ainda
temos previsão de muitas chuvas e estamos no período de colheita, o que afeta a
qualidade do produto. Além disso, há o término da safra em Santa Catarina. Com
pouca oferta, o preço aumenta”, pontua a Federação da Agricultura e Pecuária da
Bahia (Faeb).