Foto: Lula Marques / EBC
A Polícia Federal concluiu o
inquérito sobre a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
registrada em 4 de janeiro de 2023, e indiciou o hacker Walter Delgatti Neto e
a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por suspeita de terem cometido
diversas vezes os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade
ideológica.
No hackeamento do CNJ, foram
inseridos documentos falsos no sistema do Judiciário, como uma falsa ordem de
prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), imitando a assinatura dele mesmo.
O relatório da PF, de acordo com
o g1, será analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá
se denuncia ou não Carla Zambelli ao STF. Uma eventual denúncia, se recebida
pelo Judiciário, marcaria o início da ação penal que pode levar à condenação ou
absolvição. O relator dessa investigação no STF é Moraes.
O blog da Andréia Sadi buscou
contato com Zambelli e Delgatti, mas não obteve resposta. Zambelli foi a
segunda deputada federal mais votada em São Paulo, com quase 1 milhão de votos,
e era uma das principais aliadas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 10 de
agosto de 2022, às vésperas da eleição, ela levou Delgatti para um encontro com
Bolsonaro no Palácio da Alvorada para falar sobre urnas eletrônicas.
Embora a PF não tenha encontrado
trocas de mensagens entre Zambelli e Delgatti — ele relatou aos investigadores
que apagava as conversas por precaução —, foram achados nos equipamentos
pessoais de Zambelli, apreendidos em agosto do ano passado, quatro documentos
falsos inseridos criminosamente pelo hacker no sistema do CNJ.
OS DOCUMENTOS FALSOS SÃO:
- Uma ordem de quebra do sigilo bancário de
Moraes, gerada no computador de Delgatti no dia 4 de janeiro de 2023, às
22h22, e criada no celular de Zambelli apenas 22 segundos depois — o que
deixa claro, segundo a PF, que "tão logo Walter baixou o documento do
site do CNJ, ele o encaminhou para Carla, que o baixou/abriu";
- Um recibo de bloqueio de bens de Moraes,
no valor de R$ 22,9 milhões (o mesmo valor da multa que o ministro impôs
ao PL por contestar a eleição). O arquivo foi criado no equipamento de
Delgatti no dia 4 de janeiro, às 22h23, e no celular de Zambelli no dia
seguinte, 5 de janeiro, às 16h14;
- Um segundo recibo de bloqueio de bens do
ministro, no valor de R$ 500 mil, criado no equipamento de Delgatti no dia
25 de novembro de 2022, às 22h34. A PF não encontrou exatamente mesmo
arquivo com Zambelli, mas achou seu teor reproduzido no celular dela em
dois arquivos com nomes distintos gerados na mesma data, um às 22h15 e
outro às 22h19 — antes, portanto, de o hacker inserir a ordem de bloqueio
no CNJ;
- E a minuta do mandado de prisão contra
Moraes, criada no computador de Delgatti no dia 4 de janeiro, às 17h12, e
no celular de Zambelli na mesma data, às 18h39 — ou seja, segundo a PF,
"1 hora e 27 minutos depois, claramente se tratando do documento que
foi publicado na imprensa".
A minuta da falsa ordem de
prisão contra Moraes foi publicada na imprensa na noite de 4 de janeiro, três
horas após Zambelli recebê-la do hacker. A divulgação na imprensa alertou o CNJ
sobre o hackeamento e motivou a investigação da PF.
Para a polícia, foi Zambelli
que, após instigar o hacker a cometer a invasão do CNJ, divulgou o documento a
jornalistas com o objetivo de difundir suspeitas sobre a credibilidade do
Judiciário.
Na ocasião, apoiadores de
Bolsonaro usaram o episódio para questionar nas redes sociais a lisura do
processo eleitoral conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que é
presidido por Moraes. A divulgação da invasão do CNJ ocorreu às vésperas dos atos
golpistas do 8 de janeiro, quando militantes extremistas acampavam em frente
aos quartéis do Exército.