Foto: Vatican Pool / Getty Images
Javier Milei e o papa Francisco
podem ter trocado presentes e cordialidades por telefone e durante um encontro
no Vaticano, mas as diferenças entre o presidente da Argentina e seu
compatriota líder da Igreja Católica continuam bem evidentes.
O exemplo mais recente foi dado
nesta quarta-feira (28). Em um vídeo transmitido na inauguração da sede de uma
ONG de juízes em Buenos Aires, o papa disse que o Estado deve "cumprir um
papel de redistribuição [de renda] e de justiça social".
"Os direitos sociais não
são gratuitos, a riqueza para sustentá-los está disponível, mas requer decisões
políticas adequadas", seguiu ele, que falava a uma Argentina hoje sob
cortes de benefícios promovidos pelo governo Milei e com os maiores índices de
pobreza em 20 anos.
O papa também alertou, entre
outras coisas, sobre "o deus mercado e a deusa ganância", que
classificou como "falsas divindades que levam à desumanização e à
destruição do planeta".
As declarações ocorrem duas
semanas após ele ter recebido Milei, que se define como um
"anarcocapitalista", com quem compartilhou uma missa e uma reunião
privada. O líder da Casa Rosada tem classificado, reiteradas vezes, a justiça
social como "uma aberração".
O porta-voz da Presidência,
Manuel Adorni, descreveu as declarações de Francisco como "frases,
palavras ou definições muito bonitas aos ouvidos", mas rejeitou que o
Estado deva ser garantidor da justiça social, pois isso é "tirar compulsivamente
de uns para dar a outros".
"O bendito 'Estado
presente' tirou tudo de milhões de argentinos", disse ele, referindo-se ao
slogan utilizado pelos últimos governos peronistas, como o do antecessor de
Milei, Alberto Fernández. "As pessoas não querem isso e demonstraram nas
urnas", acrescentou ao responsabilizar essas políticas pelos "50% de
pobres" no país.
A abertura da sede do Comitê
Pan-Americano de Juízas e Juízes pelos Direitos Sociais e a Doutrina
Franciscana, o Copaju, de Buenos Aires foi feita pelo juiz Andrés Gallardo, que
tem realizado trabalhos com outros clérigos católicos em bairros pobres.
"Peço à Copaju firmeza
diante dos modelos desumanizantes. Vocês são operários da paz", disse o
papa Francisco em seu vídeo.
Durante a campanha pela Casa
Rosada, Milei criticou e insultou o papa. Chegou a descrevê-lo como um
"representante do mal na Terra".
Depois, amenizou o tom, fez
acenos cordiais e, reiteradamente, convidou o pontífice para visitar a
Argentina, no que seria a primeira viagem oficial de Francisco a sua terra
natal desde que assumiu o papado, em 2013.
A principal questão que se
coloca é a saúde do líder da Igreja Católica. Com gripes e crises de bronquite
recorrentes, Francisco, que também tem feito uso de cadeira de rodas devido a
fortes dores no joelho, vem se afastando de algumas aparições públicas e chegou
a cancelar viagens internacionais previamente marcadas devido a sua saúde.