Foto: Mateus Pereira/ GOVBA
O governador Jerônimo Rodrigues assinou, na última sexta-feira
(23), Termo de Colaboração com a Associação Beneficente
Projeto Nordeste (ABPN), realizadora do projeto Nova Canaã, para
oferta de educação integral no local. A iniciativa passaria despercebida se não
houvesse uma situação inusitada por trás: a entidade é umbilicalmente ligada à
Igreja Universal do Reino de Deus - próxima aos adversários do PT no plano
nacional e estadual - e beneficiária, em 2023, de R$ 4,11 milhões em emendas de
deputados de oposição ao governo da Bahia.
A ABPN (04.181.405/0001-24) foi beneficiária de emendas do ex-deputado
Abílio Santana e dos deputados Márcio Marinho (Republicanos), Paulo Azi (União)
e Cláudio Cajado (Progressistas). Na rubrica das transferências do Tesouro da
União a referência é o fomento a atividades esportivas. Os valores tiveram
origem no orçamento do Ministério do Esporte. O projeto mantém o time Canaã
Esporte Clube, filiado a Federação Baiana de Futebol em 2018 e depois
transferido para a Federação de Futebol do Distrito Federal.
Na descrição da entidade no site, a justificativa da existência do
projeto é “o desafio de fazer à diferença na vida de pessoas que viviam
excluídas socialmente, perpetuando o ciclo de extrema pobreza que herdavam de
suas famílias e, portanto, sem perspectiva de futuro”. No total, a associação
indica ter atendido “mais de 2.358 famílias carentes do sertão nordestino” ao
longo de 22 anos de existência, em cinco eixos: “assistência social, educação,
esporte de alto rendimento, cultura e saúde”.
Antes mesmo da assinatura do termo de colaboração com o governo da
Bahia, a ABPN informa manter turmas de educação infantil ao ensino médio, em
tempo integral, com “alimentação (04 refeições diárias), transporte escolar,
material didático e acompanhamento médico e odontológico” para 600 estudantes.
Apesar da nova frente de aproximação entre o governo Jerônimo Rodrigues
e a associação mantida com o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, o
presidente estadual do Republicanos - e bispo da instituição religiosa -,
Márcio Marinho, negou que haja qualquer relação entre a colaboração estatal e o
agrupamento político-religioso.
"O projeto Canaã presta serviços como outra instituição. Vocês
sabem que tem mais 600 crianças, a escola que tem ensino integral. As matérias
curriculares e extra são oferecidas lá. Temos balé, futebol, judô, natação,
tudo isso tem na fazenda. A instituição é uma como outra qualquer, seja da
igreja católica, evangélica, em que o governo do estado, sempre procura estar
ajudando, até porque sempre vem ajudando a tirar o peso do governo do estado.
Se o governo viu a prestação de serviço, a documentação legalizada não tem como
ajudar a instituição. Não tem nenhum problema, como ele faz como qualquer
instituição. A Fazenda está organizada, recebendo e fazendo o serviço",
assegurou Marinho ao Bahia Notícias.
Os demais parlamentares não possuem vinculação com a Igreja Universal e
não são ligados ao governo da Bahia.