Foto: Valter Campanato | Agência
Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) se reunirá com o chefe de governo da Guiana, Irfaan Ali, na próxima
quinta-feira (29), em Georgetown, capital do país vizinho, para debater a
agenda bilateral. A viagem de Lula tem como principal compromisso a participação,
como convidado especial, do encerramento da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da
Comunidade do Caribe (Caricom), mas o encontro do anfitrião com o presidente
brasileiro está confirmado. Um dos assuntos que eles deverão discutir é a crise entre Guiana e Venezuela pelo território de
Essequibo, disputado pelos dois países.
"Temos boas relações com a
Venezuela, boas relações com a Guiana. O presidente Lula está indo porque foi
convidado para se reaproximar da Caricom. Agora, ele estando lá, não vai perder
a oportunidade de se reunir com o presidente Ali e apresentar uma agenda
bilateral. Talvez ele felicite o presidente Ali por ter aceitado sentar-se com
a Venezuela para tentar resolver a crise", comentou a embaixadora Gisela
Padovan, secretária de América Latina do Ministério das Relações Exteriores
(MRE), em entrevista na última sexta-feira (23) para tratar da viagem. As
informaçõe são da Agência Brasil.
Questionada por jornalistas
sobre o papel do Brasil na mediação da crise, Padovan enfatizou a neutralidade
do governo na questão e a busca por uma solução negociada. "O Brasil não
se manifesta a respeito do cerne da questão entre Guiana e Venezuela, porque
não nos compete. O que nos compete é facilitar o diálogo, a nossa posição se
baseia em defender que o problema e a solução são uma questão bilateral, de
respeito aos tratados internacionais, que é base da nossa Constituição",
argumentou.
Em dezembro de 2023, os
presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, assinaram
declaração conjunta em que os dois países se comprometem a não usar a força um
contra o outro na disputa pelo território. O documento foi assinado durante
reunião na ilha caribenha de São Vicente e Granadinas, mediada pelo
primeiro-ministro Ralph Gonsalves, com quem Lula também deve se encontrar, na
próxima sexta-feira, dia 1º de março, no próprio país insular, onde o
presidente brasileiro participará da abertura da 8ª cúpula da Comunidade dos
Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que será realizada em
Kingstown, a capital. A viagem ocorre na sequência da visita à Guiana.
Em janeiro deste ano, em
Brasília, foi realizada a segunda rodada de diálogo sob mediação do governo
brasileiro, por meio do chanceler Mauro Vieira, e dos governos de São Vicente e
Granadinas – país que está na presidência temporária da Celac, e de Dominica,
nação que preside temporariamente a Caricom. Desde a eclosão da crise, os três
países têm atuado como principais interlocutores na busca de uma solução
pacífica. "Por enquanto, a gente não resolveu o problema, não é um
problema simples, mas conseguimos que os países se sentassem e começassem um
diálogo, que não é curto, não é simples, mas começou", observou a
embaixadora Gisela Padovan.
No fim do ano passado, a
Venezuela realizou consulta popular que aprovou a incorporação de Essequibo,
região disputada pelos dois países há mais de um século, que perfaz quase 75%
do território da Guiana. O governo venezuelano também autorizou a exploração de
recursos naturais na região e nomeou um governador militar para área. Foi
o estopim para que as tensões entre os dois países aumentassem desde então.
O governo brasileiro chegou a
reforçar a presença das tropas militares em Roraima, que faz fronteira com os
dois países, e vem defendendo a resolução da controvérsia entre as duas nações
por meio de um diálogo mediado. O Brasil é o único país que faz fronteira
simultânea com Guiana e Venezuela, e um eventual conflito militar poderia
ameaçar parte do território brasileiro em Roraima.