A invasão da Ucrânia pela Rússia completou 2 anos
neste sábado (24) com o fracasso, ao menos até o momento, da estratégia dos
Estados Unidos e aliados de, por meio de sanções econômicas, forçar a Rússia a
retirar as tropas do campo de batalha. Para especialistas ouvidos pela Agência
Brasil, a situação da Rússia hoje é mais confortável do que a da Ucrânia na
guerra.
Após retrair 1,2% em 2022, no primeiro ano da
guerra, a economia russa cresceu 3,6% em 2023, mostrando que o conflito e as
sanções ainda não tiveram os efeitos esperados pelos adversários de Moscou. No
terceiro trimestre de 2023, a economia russa registrou crescimento de 5,5%.
De toda forma, o presidente dos Estados Unidos, Joe
Biden, redobrou a aposta e anunciou, na véspera do aniversário do conflito,
mais 500 sanções econômicas contra o gigante euroasiático.
O professor de Relações Internacionais da
Universidade Federal do ABC (UFABC) Gilberto Maringoni destacou que a
expectativa do Ocidente, no começo da guerra, era a de vencer o conflito por
meio do isolamento econômico e político de Moscou.
“Esperava-se que a Rússia logo entraria em recessão
e não teria condições de financiar uma guerra muito prolongada, e que as
sanções econômicas, especialmente as contra a exportação de petróleo e gás,
junto com a retirada da Rússia do sistema de pagamentos internacional, iriam
isolar o país e ele seria estrangulado econômica e financeiramente. Isso não só
não aconteceu, como a Rússia teve um crescimento surpreendente”, afirmou.
O professor, que também é coordenador do
Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil,
acrescentou que a Rússia conseguiu contornar o bloqueio econômico se
aproximando do mercado asiático, especialmente o chinês.
“Se dá uma inédita aliança entre a Rússia e a
China, que foi sacramentada num acordo feito entre o presidente [da China] Xi
Jinping e o presidente [da Rússia] Vladimir Putin, dia 4 de fevereiro de 2022,
ou seja, 18 dias antes do início da guerra”, explicou Maringoni.
Sanções
O professor de Relações Internacionais do Instituto
Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) Robson Valez destacou
também que as sanções não foram capazes de deter o objetivo de Vladimir Putin
de anexar as províncias do leste da Ucrânia.
“As sanções econômicas são uma arma muito utilizada
pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Temos o exemplo das sanções contra
Cuba, desde a década de 60, sanções econômicas contra Venezuela, sanções
econômicas contra o Irã. E em nenhum desses países a gente viu uma mudança de
regime, uma mudança do poder Executivo por conta dessas sanções”, avalia.
Valdez acrescentou que as pesquisas sobre sanções
econômicas têm mostrado, ao contrário, que “são pouco efetivas e acabam sendo
instrumentalizadas por esses líderes para colocar a população local contra os
países que apoiam esse tipo de sanção”.
Outra consequência das sanções e da guerra, para o
especialista, foi a maior união dos principais adversários de Washington,
China, Rússia e o Irã. “Os principais adversários dos Estados Unidos no campo
internacional acabaram se beneficiando desse contexto de conflito na Ucrânia”,
acrescentou.
Favoritismo
A situação da Rússia hoje na guerra está mais
favorável do que a da Ucrânia e de seus aliados, na avaliação do professor
Robson Valdez, que também é pesquisador do Núcleo de Estudos Latino-americanos
da Universidade de Brasília (UnB).
“As evidências apontam, passado esses 2 anos, que
os custos políticos e econômicos dessa guerra têm sido mais desfavoráveis à
Ucrânia e seus aliados do que a Putin e a economia russa”, disse.
Por isso, o professor acredita que será difícil
para a Ucrânia evitar, com o fim da guerra, a perda de territórios. “Não vejo
um cenário possível de negociação de paz, encerramento do conflito, sem perda
territorial e sem algum tipo de desmilitarização por parte da Ucrânia”,
acredita.
Posição semelhante tem o professor da UFABC
Gilberto Maringoni, para quem a Rússia está vencendo a guerra. O especialista
lembra que as eleições na Europa e nos Estados Unidos podem reduzir ainda mais
o apoio militar e financeiro ao governo da Ucrânia.
“A guerra tornou-se um mau negócio, e impopular [na
Europa e Estados Unidos]. E isso é que pode ser fatal para a Ucrânia, para a
economia ucraniana”, explicou Maringoni, lembrando que a indústria alemã tem
sofrido bastante com o aumento do custo da energia, que é resultado também da
guerra e das sanções contra a Rússia.
Nos Estados Unidos, uma ajuda financeira bilionária
para a Ucrânia está parada no Congresso por oposição da maioria republicana.
“Se a guerra realmente for um fator decisivo na campanha eleitoral [dos Estados
Unidos], ela pode causar dificuldades para a reeleição de Joe Biden”, comentou.