Foto: Ricardo Stuckert
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os jogos online de
apostas e os comparou a cassinos e ao jogo do bicho. Embora ele mesmo tenha
sancionado, neste ano, a lei que regulamenta as apostas virtuais, o chefe do
Planalto disse na noite desta sexta-feira (23) que não há limite para as
chamadas bets.
"Pior do que o jogo do bicho hoje é que, 24 horas por dia, é jogo
na televisão, o jogo digital", disse Lula, fazendo referência às apostas
online, cujas empresas fazem propaganda na TV e patrocinam de programas
televisivos a até mesmo o Carnaval no Rio.
O presidente continuou: "Isso porque cassino é proibido aqui.
Porque cassino é jogo do azar, jogo do bicho é jogo de não sei das quantas. Mas
no jogo eletrônico, agora pode jogar criança de 5 anos de idade à pessoa de 90
anos. Não tem limite. A ordem é jogar."
A regulamentação das apostas virtuais foi um projeto defendido pelo
governo Lula, mirando a taxação das empresas para aumentar a arrecadação. Em
janeiro, o presidente sancionou a lei que prevê uma alíquota de 12% sobre a
arrecadação das casas de apostas descontado o pagamento dos prêmios.
O processo de regulamentação, no entanto, ainda está em andamento. Quem
fica responsável por essa parte é a Secretaria de Prêmios e Apostas. O órgão,
vinculado ao Ministério da Fazenda, foi criado no fim do mês passado.
No discurso desta noite, Lula acabou se confundindo e disse que a lei
que taxa as apostas online não foi aprovada --o que, na verdade, foi feito ao
fim do ano legislativo passado.
"Como as empresas não pagam imposto ainda, porque a lei não foi
aprovada, eles estão ganhando muito e pagando pouco", disse.
Na crítica feita às bets, Lula falou que as famílias "estão
gastando hoje 14% do que elas ganham no jogo eletrônico".
DEFESA DA PETROBRAS
As declarações de Lula foram dadas durante o evento da Petrobras de
incentivo à cultura e à economia criativa. A cerimônia ocorreu no MAM (Museu de
Arte Moderna), no Aterro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro.
O presidente aproveitou a ocasião para defender a empresa estatal, que,
segundo ele, foi alvo de calúnias e tentativas de privatização ao longo dos
anos.
Sem citar os escândalos revelados pela Operação Lava Jato, Lula afirmou
que a Petrobras foi, nos últimos anos, associada à "corrupção" e
"malversação de patrimônio".
"Mais recentemente, houve outra tentativa de abordar nossa
Petrobras. E se criou no entorno da Petrobras um cem número de calúnias. Eu
estava vendo o orgulho dos meninos de camisa cor de abóbora, cor de laranja
[uniforme dos funcionários]. Durante muito tempo eram ofendidos porque usavam
essa camisa na rua do Rio de Janeiro", disse Lula.
"Ser da Petrobras era ser confundido com corrupção, com malversação
de patrimônio", afirmou o presidente.
A Petrobras é uma empresa de capital misto na qual o governo federal é o
acionista majoritário. "Tentaram privatizar tantas vezes [a Petrobras]. E
que, ao não conseguirem privatizar, porque tinha que passar pelo Congresso
Nacional, resolveram fatiar e vender parcelas da Petrobras", disse.
A Petrobras anunciou, na noite desta sexta, que vai investir R$ 250
milhões em projetos culturais em todo o Brasil, por meio das leis de incentivo
Rouanet e do Audiovisual.
"Cultura pode não interessar a um ditador, a um negacionista. Mas a
cultura interessa ao povo tanto quanto um prato de comida", disse Lula.