Câncer de pele Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo
Especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas),
escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, e
do Instituto Nacional de Câncer (Inca), reforçaram nesta terça-feira (20) a
prevenção, detecção precoce e tratamento adequado do câncer. Essa foi a tônica
de um encontro virtual realizado por especialistas para marcar o Dia Mundial do
Câncer, no último dia 4.
Um dos destaques apresentados foi o Código Latino-Americano e
Caribenho contra o Câncer (LAC Code), que elenca medidas de prevenção que devem
ser acompanhadas pelas pessoas e orientações a ser seguidas por autoridades,
como políticas de rastreio da doença e aplicação de vacinas, como no caso do
HPV (vírus do papiloma humano, causador do câncer de colo de útero).
A diretriz latino-americana é composta por 17 ações, entre
elas orientações já massificadas, como evitar fumar, prática de exercícios
físicos, controle de peso e alimentação saudável. A relação também é fonte de
conhecimento para capacitação de profissionais de saúde.
“Esse código traduz as evidências científicas mais recentes e
as recomendações simples para que a população e os líderes, tomadores de
decisão, possam andar na direção para prevenção do câncer”, afirmou a
consultora nacional da Unidade Técnica de Determinantes da Saúde, Doenças
Crônicas não Transmissíveis e Saúde Mental da Opas/OMS no Brasil, Larissa
Veríssimo.
“Nós acreditamos que podemos garantir um risco menor de as
pessoas desenvolverem câncer e morrerem da doença”, completou.
Números
Segundo o Inca, o câncer ocupa o segundo lugar entre as
causas mais frequentes de morte no Brasil, perdendo apenas para doenças
cardiovasculares. São esperados 704 mil novos casos anuais entre 2023 e 2025.
Entre os fatores de risco, o maior vilão é o tabagismo, responsável por 161 mil
mortes por ano, seguindo pelo consumo de alimentos ultraprocessados, com mais
de 57 mil óbitos. Em relação ao álcool, 9 mil mortes por câncer são atribuíveis
ao consumo desse tipo de bebida.
Ainda segundo estimativas do instituto, se nada for feito, e
a tendência de aumento de casos for mantida na mesma velocidade, a União
gastará R$ 7,84 bilhões em 2040 com procedimentos hospitalares e ambulatoriais
no Sistema Único de Saúde (SUS) em pacientes oncológicos.
Investimento em prevenção
O diretor-geral do Inca, Roberto de Almeida Gil, defende que
investimento em prevenção é uma forma de evitar gastos com tratamento, que são
muito custosos e apresentam tendência cada vez mais crescente.
“Os custos aumentam exageradamente, eu diria,
distorcidamente, perversamente. A gente não tem como ter sustentabilidade com a
política atual de preços do tratamento da doença avançada”, avalia.
“Os nossos esforços na prevenção e detecção precoce são
rentáveis e potencialmente econômicos. É a nossa solução de sustentabilidade”,
defende Gil, ao destacar que a doença é um redutor de produtividade da
economia. “O impacto que o câncer tem na capacidade produtiva também tem que
ser mensurado e é muito grande”, afirma.
Restrição de consumo
O diretor-geral do Inca apresentou estudos sobre impactos
econômicos positivos que haveria com a mitigação de alguns fatores de risco.
Uma redução de 50 gramas por dia no consumo de carne processada (como presunto,
mortadela, salsichas, linguiças ou carnes salgadas) pela população poderia
representar, até 2040, uma economia entre R$ 169,70 milhões com o tratamento de
câncer no SUS. O consumo médio em 2018 era 74,1 gramas diárias para os homens e
50,4 gramas para s mulheres.
No caso de bebida alcóolica, a média brasileira era consumo
de 14,3 gramas de álcool por dia entre os homens e 8,8 gramas para mulheres. Se
houvesse uma redução de um drink por semana (equivalente a um corte de 15
gramas de álcool), seria possível uma economia de R$ 161,39 milhões ao SUS.
Gil lembrou que o Brasil teve uma política bem-sucedida de
redução do tabagismo, que caiu 64% entre 1989 e 2019, e elogiou resolução da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2009, que proíbe a
comercialização, importação e propaganda dos cigarros eletrônicos, também
conhecidos como vaper.
O diretor-geral do Inca defendeu uma restrição ao uso de
agrotóxicos no país. “A gente tem um consumo exagero”, apontou.
Política nacional
No encontro entre Opas e Inca, recebeu destaque a Política
Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC). A diretriz, descrita pela
Lei 14.758, foi sancionada em dezembro do ano passado e tem como principais
objetivos a redução da incidência e da mortalidade dos diferentes tipos de
câncer e a promoção do acesso ao cuidado integral.
“A Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer no
âmbito do SUS e o Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer são duas
iniciativas que se complementam e se reforçam”, disse a coordenadora de
Prevenção e Vigilância do Inca, Marcia Sarpa.
“Hoje cada vez está mais claro que o câncer pode ser evitado
se nós atuarmos em ações de prevenção específica, como a vacina para HPV, e
atuamos em promoção de hábitos saudáveis de vida, estimulando a alimentação
saudável, a atividade física, o controle do peso, evitando o tabagismo e tantos
outros fatores que a gente sabe que estão envolvidos na causalidade do câncer”,
ressaltou o coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do
Câncer, Fernando Maia.
>> Conheça algumas das 17 ações que do Código
Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer:
- Não fume ou use qualquer tipo de tabaco. Se você usa, é
possível parar. Se necessário, conte com ajuda profissional. Também não use
cigarros eletrônicos, pois levam ao uso de produtos de tabaco.
- Mantenha ou atinja seu peso saudável, ao longo da vida,
para ajudar a prevenir vários tipos de câncer.
- Faça atividade física diariamente, ao longo da vida, e
limite o tempo que passa sentado. Ser uma pessoa fisicamente ativa ajuda a
prevenir vários tipos de câncer.
- Faça uma alimentação saudável, com consumo de verduras,
frutas, grãos integrais (pão e arroz integral), evite bebidas açucaradas
(refrigerantes, sucos prontos com açúcar), beba água, limite consumo de
alimentos ultraprocessados (doces, cereais matinais, salgadinhos, bolinhos,
biscoitos), evite carne processada e embutidos (presunto, mortadela, salsichas,
linguiças), limite consumo de carne vermelha e evite bebidas muito quentes.
- Amamente, quanto mais meses, melhor, para ajudar a prevenir
o câncer de mama e o excesso de peso na criança.
- Proteja-se da exposição direta ao sol nos horários de maior
intensidade para ajudar a prevenir o câncer de pele.
- Se você cozinha ou
aquece sua casa com carvão mineral ou lenha, evite o acúmulo de fumaça dentro
de casa.
- Se houver alta poluição do ar em seu ambiente (externo),
limite o tempo em que você passa ao ar livre.
- Vacine-se contra os vírus das hepatites B e C e os
adolescentes (meninas e meninos) do papiloma humano (HPV). Faça teste para o
vírus da imunodeficiência humana (HIV) e use preservativo ou camisinha,
especialmente com parceiros novos ou casuais.
- Não faça reposição hormonal na menopausa, a menos que seja
indicada pelo seu médico. A reposição hormonal pode causar câncer de mama.
- Entre 50 e 74 anos, procure o serviço de saúde e solicite o
exame de detecção precoce do câncer de cólon e reto (sangue oculto nas fezes ou
colonoscopia). De acordo com os resultados, siga as recomendações do
profissional de saúde.
- Entre 40 anos ou mais, vá ao serviço de saúde a cada dois
anos para fazer um exame clínico das mamas. A partir dos 50 até os 74 anos,
faça uma mamografia a cada dois anos. De acordo com os resultados, siga as
recomendações do profissional de saúde.
- Entre 30 e 64 anos, procure o serviço de saúde e solicite o
teste molecular do vírus do papiloma humano (HPV), pelo menos a cada 5 a 10
anos, para detecção precoce do câncer do colo do útero. Pergunte se você mesma
pode coletar a amostra. Caso não tenha acesso ao teste de HPV, solicite o teste
disponível em seu país. De acordo com os resultados, siga as recomendações do
profissional de saúde.