De acordo com o levantamento, enquanto a inflação oficial do país foi de 0,42% em janeiro, a inflação para famílias de renda muito baixa ficou em 0,66% Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil
Em janeiro, a inflação pesou mais no bolso das famílias de
baixa renda do que no orçamento das famílias de rendas média e alta. A
constatação faz parte do Indicador de Inflação por Faixa de Renda, divulgado
nesta segunda-feira (19) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo com o levantamento, enquanto a inflação oficial do
país - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - calculado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) foi de 0,42% em janeiro, a inflação para
famílias de renda muito baixa (renda mensal domiciliar de até R$ 2.105,99)
ficou em 0,66%.
Os grupos familiares de renda baixa (entre R$ 2.105,99 e R$
3.158,99) e média-baixa (de R$ 3.158,99 e R$ 5.264,99) também sentiram no bolso
uma inflação maior que a média, 0,59% e 0,49%, respectivamente.
Por outro lado, lares de renda média (de R$ 5.264,98 e R$
10.529,96), média-alta (de R$ 10.529,96 e R$ 21.059,92) e, especialmente, alta
(acima de R$ 21.059,92) sentiram impactos de aumentos de preços abaixo da
inflação oficial, 0,37%, 0,38% e 0,04%, respectivamente.
Alimentos
De acordo com o Ipea, o peso maior do custo de vida para os
lares mais pobres é explicado pela alta nos preços dos alimentos. Isso acontece
porque a parcela do orçamento gasta com a compra de alimentos é bem maior para
as famílias mais pobres, em relação à observada no segmento de renda mais alta.
“Em janeiro, o principal foco inflacionário para as classes
de rendas mais baixas veio do grupo alimentos e bebidas, refletindo a alta dos
preços dos alimentos no domicílio, especialmente dos cereais (6,8%), dos
tubérculos (11,1%), das frutas (5,1%) e dos óleos e gorduras (2,1%)”, explica a
pesquisadora do Ipea Maria Andreia Parente Lameiras.
No mês de janeiro, o comportamento no preço dos alimentos
representou um peso de 0,44 pontos percentuais (p.p.) na inflação das famílias
de renda muito baixa. Já para os grupamentos familiares de renda mais alta, o
peso foi de 0,14 p.p.
Os lares mais abastados contaram com outra contribuição para
sentirem menos os efeitos da inflação: a queda de 15,2% dos preços das
passagens aéreas e de 10,2% das tarifas de transporte por aplicativo.
Inversão em 12 meses
Os resultados de janeiro ficaram na contramão do acumulado
nos últimos 12 meses. No período, foram as famílias de rendas média (4,65%),
média-alta (4,93%) e alta (5,67%) que sentiram inflação maior que a média
nacional (4,51%).
Por outro lado, domicílios de renda muito baixa (3,47%),
baixa (3,84%) e média-baixa (4,24%) sentiram um peso menor que o IPCA no
orçamento.
O Ipea explica que as maiores pressões inflacionárias nos
últimos doze meses foram nos grupos transportes, saúde e cuidados pessoais e
habitação, impactados pelos reajustes de 25,5% das passagens aéreas, de 10,8%
da gasolina, de 6,2% dos produtos farmacêuticos, de 5,6% dos artigos de
higiene, de 11% dos planos de saúde e de 8,6% da energia elétrica.