One Love mostra momento em que Bob Marley vira estrela mundial Crédito: Divulgação
A música de Bob Marley sempre vai ter o poder de arrepiar aqueles que a
escutam. Explicando nas palavras do rei do reggae: “Há uma mística natural
soprando pelo ar; se você escutar atentamente agora, você ouvirá”. É impossível
não se comover ao ouvir na sala de cinema as canções que embalaram gerações e
sair contagiado após o fim da sessão. Alcançar a grandeza de Bob Marley em uma
obra cinematográfica é uma tarefa impossível, mas o longa Bob Marley: One Love
(2024), que estreia nesta quinta-feira (15), traz para as telas uma homenagem
bem sucedida ao imenso legado político e artístico dele pela paz e amor na
Jamaica e no mundo.
O filme faz um recorte narrativo no auge criativo do músico, no início
da década de 1970, e sua participação nos eventos políticos que uniriam a
Jamaica, separada pela guerra civil e pobreza extrema. Bob Marley já era um
músico muito famoso localmente naquela época, quando, durante um pico de tensão
política e violência em Kingston, em 1976, ele sofre um atentado em sua casa,
onde foram disparados mais de 80 tiros.
Mesmo sendo ameaçado, decide fazer um último show na capital jamaicana e
deixa a ilha para se exilar em Londres, onde discute a religiosidade rastafari
e a luta do povo negro na criação do álbum Exodus, que lhe concede fama
mundial. Depois desse período de autoexílio, Marley retorna a Kingston em 1978,
na condição de astro da cultura pop. Em casa, apresenta o show One Love Peace
Concert, no Estádio Nacional da Jamaica, onde fez história ao convidar o
primeiro-ministro jamaicano e o líder da oposição da época para selarem a paz
no palco.
Performance convicente
O ator britânico Kingsley Ben-Adir, que já interpretou figuras
importantes como Malcolm X (Uma Noite em Miami) e Barack Obama (The Comey
Rule), recebeu a responsabilidade de dar vida a Bob Marley.
Em sua performance, o ator incorporou os maneirismos do músico, teve que
aprender a língua Patwa jamaicana e até mesmo a cantar, pois, apesar de dublar
o rasta em muitos momentos, teve sua voz mesclada com gravações do rei do
reggae ao longo do filme.
Kingsley afirma que a construção do personagem não teria sido possível
sem a presença da família e pessoas próximas a Bob, oferecendo uma perspectiva
mais íntima e complexa de sua personalidade.
One Love é dirigido por Reynaldo Marcus Green (King Richard: Criando
Campeãs) e tem produção da cantora Rita Marley, viúva de Bob, e do músico Ziggy
Marley, um dos filhos do casal, que aprovou a atuação de Kingsley. Ziggy
considera o longa como uma oportunidade de propagar a mensagem de Bob para as
gerações futuras e destaca como ponto forte da obra a abordagem de diferentes
facetas do pai, o que fará com que o público conheça mais seu âmbito pessoal.
Além da narrativa principal, podemos ver em flashbacks momentos da
infância do artista no filme que retrata os desafios da pobreza, preconceito e
abandono paterno; sua juventude na aproximação com os ritmos dos soundsystems,
passando pela formação do grupo The Wailers, nos anos 60, ao lado de Peter Tosh
e Bunny Wailer. One Love mostra ainda o início de dois aspectos importantes na
biografia de Bob: a religião rastafari e o casamento com Rita, interpretada
pela atriz Lashana Lynch.
O filme faz justiça a Rita Marley, que teve um papel de protagonismo na
ascensão do cantor, mesmo em momentos de crise com os casos extraconjugais do
marido. As cenas do casal são potentes e mostram como Rita guiou o caminho de
Bob pelo reggae em um companheirismo que durou até seus momentos finais.
Rita Marley foi a responsável por apresentar ao cantor a fé em Jah, o
Rás Tafari, último imperador da Etiópia, e os preceitos definidos por ele para
a religião rastafari. Bob levou adiante a ideologia em suas atitudes, nos
característicos dreadlocks, no uso da cannabis e nas composições do músico para
o álbum Exodus, inspiradas em passagens de livros sobre Selassié e Marcus
Garvey, também importante para a religião. Exodus é uma mensagem de repatriação
e fé, expressa desde sua primeira frase: “Êxodo: Movimento do povo de Jah!”.
O que começou em Trenchtown, se expandiu pela Europa e ganhou o coração
do mundo. O reggae é a herança jamaicana difundida por Bob Marley. E porque não
mencionar que impactou os carrinhos de café do Centro de Salvador, o Muzenza, a
antiga praça do reggae no Pelourinho e alguns rastafaris que marcaram minha
infância.
Em One Love temos um gostinho do processo criativo, das experimentações
e da luta de Marley pelas minorias discriminadas com sua música e sua
performance imersiva - ele escolhia a canção inicial do show somente com os
dois pés no palco. One Love retrata a figura que fez do reggae um canto de
identificação e um dos gêneros mais importantes da história.
Por Correio24horas