Multidão no
Carnaval de Salvador Crédito: Ana Lucia Albuquerque
Pode
chover, relampejar e trovejar. Faltar luz em plena avenida, trio dar ré ou
empenar, camarote afundar. Pode reservatório de gás de efeitos especiais
explodir e até previsões apocalípticas serem proferidas. Ninguém arredou pé e
mais gente chegava. As Festas de Carnaval em Salvador, que começaram no dia 3,
somaram mais de 9 milhões de foliões.
O dado,
divulgado ontem pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, foi reunido a
partir do Sistema de Reconhecimento Facial. A ferramenta contabiliza a
quantidade de pessoas que passaram pelos Portais de Abordagem desde o Fuzuê até
a madrugada desta terça-feira (13).
É como se
todos os moradores do Ceará, terceiro estado mais populoso do Nordeste,
descessem para 10 dias de festa em Salvador. Em números absolutos, 5,1 milhões
de pessoas passaram pelos circuitos Dodô (Barra/Ondina), 3,1 milhões curtiram
no Osmar, e 750 mil aproveitaram a festa no Batatinha Batatinha (Centro
Histórico).
Segundo o
levantamento da pasta, a segunda de Carnaval empatou com o sábado - em número
de gente circulando pelos circuitos. Cerca de 2 milhões de pessoas curtiram nos
circuitos. Foram 893 mil na Barra, 861 mil no Campo Grande e 213 mil no Centro
Histórico de Salvador (CHS).
Para se ter
uma ideia, apenas em um intervalo de apenas duas horas no sábado (10), 52 mil
pessoas entraram na região da Barra. A lotação foi tanta que a Prefeitura
precisou fechar os portais entre 18h30 e 19h15.
Se cada
evento é marcado por alguma característica, alguns foliões jã declaram que este
é “o Carnaval das multidões”. Antes mesmo de entrar no circuito já era possível
perceber uma movimentação nunca vista antes, com filas quilométricas para
passar nos portais de acesso. Durante a agonia de milhões de pessoas num mesmo
local, a cantora Ivete Sangalo chegou a parar o trio para pedir que os foliões
respirassem.
Mas, para
quem ama pular na folia, todo esse caos faz parte. Mais do que isso, o povo, a
alegria, a "muvuca" cheia de energia é a própria festa. O
"suco" do Carnaval é seguir um trio elétrico pulando e cantando
sucessos, não sozinho, mas junto com uma multidão de desconhecidos que
compartilham a mesma sensação.
E apesar
das diferenças, do calor, do suor, das ruas lotadas, dos copos no chão, neste
tempo e espaço, todos falam a mesma língua. Do Farol da Barra até perto do
Cristo simplesmente não dá pra ficar parado, a multidão ganha vida própria e te
leva pelo circuito.
"É uma
agonia que é boa, não dá pra explicar a sensação, só o Carnaval de Salvador
tem", afirmou a foliã Maria Alves, de 25 anos. Acompanhada de um grupo de
amigas, as jovens pulavam no meio do Circuito Dodô (Barra-Ondina), gritando e
dançando.
O folião
Petroneo Pereira, 44, participa do festejo na Bahia pela oitava vez, e ele
carimba: “É o melhor que tem, ele é mais completo, é o que mais atende e é o
que tem maior público”. Desta vez, ele veio para o estado acompanhado de mais
seis amigos - das mais diversas regiões do Brasil - para apresentar a festa. “É
caótico, estávamos aqui no sábado e com certeza tinha mais de um milhão ali.
Era uma multidão sem fim, tudo apertado”, descreve.
Efeito
Beyoncé
O
eletricista Tiago Lopes, 28, veio de Feira de Santana, a 115 km de Salvador,
para curtir a festa, mas ele conta que, antes mesmo de fazer a viagem, viu
pelas redes sociais a lotação nos circuitos. “Pelo que tô vendo nesse Carnaval
está tendo um maior fluxo. Tem o fato de Beyoncé ter vindo pra cá, isso
intensificou a vinda dos turistas”, avalia.
Nas redes
sociais, o prefeito Bruno Reis já comemorava, no fim de semana, o recorde de
público. “Isso é reflexo de uma cidade cada dia mais desejada e vivida por
baianos e turistas, mas também faz com que a operação do Carnaval seja mais
desafiadora”, escreveu.
Para o
presidente da Saltur, Isaac Edington, empresa que realiza os eventos
municipais, o motivo dessa popularização são as atrações apresentadas. São três
circuitos principais, oito bairros e três ilhas, com mais de 600 apresentações
nas localidades. "Esse Carnaval tem mais gente mesmo", confirma.
“Os
circuitos estão equilibrados [...] [Trouxemos] atrações bastante
diversificadas. No circuito do Campo Grande, investimos também em grandes
atrações, trazendo mais dinamismo”, afirma.
"O
Carnaval de Salvador hoje é o maior instrumento de promoção da cidade, isso
também contribui para que sejamos um dos principais destinos turísticos
brasileiro"
Isaac
Edington
Presidente
da Saltur
O
Secretário de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Pedro Tourinho, ressalta
que o Carnaval é consequência do trabalho de um ano inteiro e reflete a atenção
que a cidade tem ganhado em frente ao mundo inteiro.
“Quem faz
um bom ano, faz um bom Carnaval, e Salvador teve um excelente ano, com muitos
turistas fervilhando na cidade e com cena cultural chamando atenção do mundo
inteiro. No Carnaval não é diferente, e a estrutura da festa, o conteúdo
ofertado, tem de acompanhar essa relevância e esse crescimento”, declara.
No domingo
(11), mesmo com a chuva ao longo do dia, cerca de 910 mil pessoas curtiram a
festa na região. Na quinta (8) e na sexta-feira (9), a ferramenta de
reconhecimento facial contabilizou 1,5 milhão de foliões na Barra-Ondina.
A
cozinheira Ana Paula Cruz, 38, vende espetinho no circuito e conta que nunca
vendeu tanto como neste ano. “Vi um aumento na movimentação, é muita gente.
Antes a venda era muita graça, média de 20 pessoas, no máximo 40. Agora subiu
pra 60 e chega até 80”, contabiliza. “Eu vendo aqui na Barra e no Campo Grande
também, os dois tão com muita movimentação”, diz.
Nos outros
circuitos, também não teve outra. Basta sair o trio da pipoca do Kannário,
BaianaSystem, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, entre outros artistas que “chamam
o povo”, que a multidão se forma em poucas horas.
A cuidadora
Anny Santana, 46, curte a folia desde os 12 anos no Campo Grande e observa:
“Muita coisa mudou nesses mais de 30 anos, uma delas é a aglomeração. Neste
ano, muita gente veio pra cá. Nunca vi um Carnaval lotado desse jeito”.
Mudança nos
circuitos para atender demanda
Com maior
demanda nos circuitos, a estratégia da prefeitura é descentralizar a festa do
Circuito Dodô e investir em outros trajetos, como o Osmar, no Campo Grande. “É
importante o Carnaval no Centro para equilibrar a distribuição das pessoas na
cidade”, propõe o prefeito Bruno Reis. Para o próximo ano, o gestor sugeriu um
“super sábado” também na região.
O titular
da Secult complementa que já é possível perceber um público grande e diferente
na região. “É uma questão de bater na mesma tecla e todo ano fortalecer mais”,
revela. Quanto à possibilidade de extensão do Barra-Ondina, o secretário
informou que o foco é fortalecer o carnaval no Centro e ter dois circuitos
fortes.
O Correio
Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador