Em um incidente inédito no teatro secundário da guerra Israel-Hamas no
mar Vermelho, rebeldes houthis dispararam dois mísseis contra um navio
transportando milho do Brasil para o Irã --Teerã é o principal aliado do grupo
xiita que domina parte do Iêmen.
É a primeira vez que uma carga brasileira entra na linha de tiro na
região desde que os houthis passaram a atacar embarcações mercantes e militares
que associam a Israel, Estados Unidos ou Reino Unido, em apoio ao grupo
terrorista palestino.
Ao que tudo indica, foi um engano. Segundo disse na TV do grupo o
porta-voz houthi, Yahya Saree, o Star Isis era um navio americano. Os registros
em sites de monitoramento de tráfego marítimo mostram que ele tem bandeira das
ilhas Marshall, território associado aos EUA, mas é de propriedade grega.
Mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer, mas não deixa de ser
irônico que o navio tivesse produtos do Brasil, país que tem criticado
duramente a condução da guerra por Israel, indo em direção ao patrocinador dos
houthis, o Irã.
O episódio ainda está nebuloso. O que se sabe é que os rebeldes
dispararam dois mísseis antinavio de suas posições em terra na margem iemenita
do estrieto de Bab al-Mandab (o "portão das lágrimas" entre a
península Arábica e o Chifre da África).
Segundo relatos de militares americanos operando na região, o Star Isis
não chegou a ser atingido. Já a empresa de segurança naval britânica Ambrey
disse que a embarcação foi atingida, mas sem danos significativos. De todo
modo, segundo o site de monitoramento Marine Traffic, o navio seguiu viagem.
Ele deixou o porto de Vila do Conde, no Pará, no dia 12 de janeiro. Sua
chegada ao porto de Band Imam Khomeini, no Irã, está prevista para o dia 19
deste mês. Até pela rota para o Irã, ele não desviou do mar Vermelho
circunavegando a África, como tantas embarcações nessa crise.
A região, antes da crise, concentrava 15% do comércio marítimo do mundo.
O Brasil é o maior exportador de milho para o Irã, com uma previsão de vender
4,5 milhões de toneladas do grão neste ano para o país do Oriente Médio.
O Star Isis é um graneleiro da categoria Panamax, que é certificada para
transitar com o máximo de tamanho possível pelo canal do Panamá, e pode
transportar até 80 mil toneladas de carga. O navio é operado pela Star Bulk
Carriers, de Atenas, que direcionou perguntas para a força-tarefa liderada
pelos EUA no mar Vermelho.
Formada para reagir à crise, a Operação Guardião da Prosperidade se vale
de outras forças-tarefas já em ação na região, notadamente a CTF (Força-Tarefa
Combinada, na sigla inglesa) 153, que já era liderada pelos EUA. Há também
forças europeias independentes na região, reforçadas recentemente por navios
alemães e dinamarqueses.
A CTF-153 é 1 das 5 equipes multinacionais em toda a região do Oriente
Médio. A CTF-151, que age primariamente contra a pirataria no mar Vermelho e
golfo de Áden, foi assumida pela Marinha do Brasil no final de janeiro.
Ela opera dois navios, um sul-coreano e outro, japonês, e pode
eventualmente interferir em defesa de outras embarcações ou se proteger em caso
de ataques houthis.