Foto: Arquivo / Agência Brasil
"Estes medicamentos são
contraindicados em casos de suspeita de dengue." A frase ilustra campanhas
de conscientização envolvendo a doença e alerta sobre o uso de remédios muito
conhecidos, comprados sem prescrição médica. A automedicação pode piorar o
quadro viral e prejudicar o tratamento adequado.
Entre os vilões da fase inicial
da dengue estão os anti-inflamatórios, como os da classe dos salicilatos, o
ácido salicílico, conhecido popularmente como AAS ou aspirina. Seu uso é
proibido em caso de suspeita de dengue, pois diminui a função plaquetária e
pode dificultar a correta coagulação do sangue, como explica o presidente da
Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo.
"A aspirina age nas
plaquetas, diminuindo sua atividade. Em um paciente com dengue, que já
apresenta uma redução de plaquetas importante, este medicamento pode trazer
alterações significativas na função plaquetária, não tendo seu uso
indicado", diz ele.
Outro vilão na automedicação
contra os sintomas da dengue é o ibuprofeno. Também anti-inflamatório, o
remédio, usado frequentemente contra febre, pode igualmente influenciar o
sistema de coagulação sanguínea. "Vai piorar e causar uma disfunção no organismo",
diz o infectologista.
Também é necessário redobrar a
atenção na administração do ibuprofeno em crianças, já que ele é muito usado em
tratamentos infantis.
"Por seu efeito
anti-inflamatório, pode dificultar a coagulação do sangue. Como a dengue
aumenta as chances de sangramento, o quadro pode ficar ainda pior com o
ibuprofeno", ressalta o infectopediatra Victor Horácio de Souza Costa
Júnior, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.
Costa Júnior observa que, além
de favorecer o aparecimento dessas manifestações hemorrágicas, o uso não
prescrito de anti-inflamatórios pode impactar na acidose metabólica, que é a
acidez excessiva no sangue, levando a uma piora em todo o metabolismo.
Nos casos graves, os
sangramentos podem ser internos ou externos, expelidos pela urina ou pelas
mucosas como narinas e gengivas. Podem ainda ser percebidos em cortes, que não
param ou voltam a sangrar constantemente, assim como no aumento do fluxo da menstruação.
Como a dengue é uma doença
viral, ou seja, causada por um vírus (transmitido pelo mosquito Aedes aegypti),
antibióticos são medicamentos proibidos para amenizar os sintomas, já que
tratam de doenças bacterianas, causadas por bactérias. Entre eles, estão amoxicilina
e azitromicina, que não podem ser vendidos sem prescrição médica, mas acabam
sobrando no armário de muitas famílias, elevando os perigos da automedicação.
Outra classe de medicamentos
contraindicados em suspeita de dengue são os corticoides, também largamente
utilizados pela população sem indicação médica, como prednisolona,
hidrocortisona e dexametasona.
"Os corticoides reduzem a
resposta autoimune do organismo, que é exatamente o que não queremos na fase
inicial da doença. É preciso que o corpo combata o vírus e que haja uma rápida
resposta do sistema imunológico. Então o corticoide não trará nenhuma ação
benéfica, apenas prejuízo", explica Chebabo.
Ele lembra que a dengue é uma
doença em que são tratados apenas seus sintomas. Sua fase mais intensa vem após
o quinto dia de contaminação. "É quando ocorrem as modificações para o
agravamento da doença", fala Chebabo.
O QUE TOMAR
A indicação na fase inicial é perceber os sintomas e buscar analgésicos, como o
paracetamol (para dor), e antitérmicos, como a dipirona (para febre). Além
disso, repouso e hidratação são essenciais. Tome muita água, soro caseiro e
água de coco. No caso de persistirem os sintomas, procure um médico
imediatamente.
Os principais sintomas da dengue
são: febre alta, dor de cabeça, nos ossos e articulações, dor atrás dos olhos,
machas pelo corpo, náusea, tontura e cansaço. Em casos mais graves podem
ocorrer vômitos constantes, dificuldade de respirar, hemorragia, dor abdominal
intensa, confusão mental e até perda da consciência.