Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O comandante do Exército,
general Tomás Paiva, determinou que a Força realize estudos para aumentar, de
forma permanente, o efetivo militar na Amazônia em cerca de 3.000 homens.
O número representaria um
aumento de quase 10% de militares na região amazônica. Generais ouvidos pela
reportagem, porém, destacam que esse acréscimo precisa ser estudado
detalhadamente e não deve ser concretizado no curto prazo.
Militares elencam que há
diversas dificuldades envolvidas no envio de oficiais e praças para o
território, e o remanejamento será necessário porque o Exército segue um plano
de redução de efetivo até 2029.
A ordem de Tomás foi emitida
internamente diante da crise envolvendo a Terra IndÃgena Yanomami. Garimpeiros
dominam a região, de difÃcil acesso e com baixa presença de servidores do
Estado, e intensificam a crise humanitária dos yanomamis, com impacto no acesso
a alimentos e sucessivos surtos de malária.
Um dos principais problemas é a
desnutrição. A pesca fica inviabilizada na região com os rios contaminados pelo
garimpo; sem peixe, a população indÃgena perde uma importante fonte de
proteÃna.
Além de aumentar o efetivo, o
Exército pretende instalar dois destacamentos na Amazônia nos leitos dos rios
Uraricoera e MucajaÃ.
Destacamentos são como pelotões
menores, um grupo separado de uma brigada para cumprir missão especÃfica. Neste
caso, o plano da Força é criar duas pistas de pouso de aviões próximos dos
rios, para facilitar a logÃstica de transporte de pessoal e suprimentos na
região.
O Exército ainda pretende
aumentar sua frota de helicópteros para utilização na Amazônia, mas militares
alegam dificuldades orçamentárias para isso.
O plano de aumentar a presença
militar de forma permanente na Amazônia foi elaborado pelo Exército e
apresentado ao Ministério da Defesa. A pasta ainda recebeu sugestões da
Aeronáutica e da Marinha e enviou o documento com as propostas para a Casa
Civil.
A existência do plano foi
antecipada pelo jornal O Globo, e a Folha de S.Paulo conseguiu detalhes da
estratégia em conversas reservadas com oficiais-generais.
No inÃcio do mês, a Casa Civil
solicitou que todos os ministérios e órgãos ligados à crise yanomami apresentem
à Casa Civil, antes do Carnaval, propostas de ação permanente no território
indÃgena.
O plano envolve criar condições
suficientes para continuar o combate ao garimpo e garantir acesso de serviços
de saúde para os yanomamis mesmo após o fim da ação emergencial do governo Lula
(PT) na região.
A concentração dos esforços foi
demandada pelo presidente durante reunião ministerial em 9 de janeiro. Na
ocasião, Lula disse que não é possÃvel o governo "perder a guerra"
contra o garimpo ilegal e prometeu usar toda a máquina pública para expulsar os
invasores.
No inÃcio de 2023, o governo deu
inÃcio ao plano de desintrusão da TI Yanomami, com a retirada de garimpeiros e
controle do espaço aéreo para evitar o sobrevoo de aeronaves não permitidas
sobre a região.
Quase cinco meses após o inÃcio
das operações, imagens de satélite da PolÃcia Federal e das Forças Armadas
mostraram como as águas de rios como o Uraricoera ficaram mais escuras em
comparação ao marrom-barro predominante no inÃcio do ano passado.
A coloração mais clara é causada
pela atividade do garimpo, que perfura os fundos dos rios e deixa a água
lamacenta. A extração ilegal de minério também contamina as águas com mercúrio,
que é usado para facilitar na separação do ouro da terra.
Um ano após o inÃcio das
operações, o garimpo retomou a força na região e a fiscalização deixou de ser
efetiva como antes. Pistas de pouso e decolagem suspeitas de servirem ao
garimpo ilegal voltaram a funcionar, e embarcações com garimpeiros trafegavam sem
incômodo pela águas sujas e barrentas do rio Couto Magalhães.
A presença das Forças Armadas
diminuiu em movimento que coincide com a retomada da exploração ilegal de ouro
e cassiterita na região do povo yanomami --com grande presença de criminosos em
Surucucu, onde o Exército tem um PEF (Pelotão Especial de Fronteira).
O endurecimento da crise
yanomami ainda gerou uma crise polÃtica do governo, com ministérios ligados Ã
questão indÃgena acusando as Forças Armadas de enfraquecer o apoio logÃstico e
o combate ao garimpo.
Por outro lado,
oficiais-generais e integrantes do Ministério da Defesa argumentam que as
dificuldades logÃsticas na região amazônica e os altos custos para manter
operações são entraves para alcançar as metas estabelecidas pelo governo, como
a distribuição de cestas básicas.