Amargosa registrou tremor de 3.5 na escala Richter, em 2020 Crédito: Ramynes/Acervo pessoal/ARQUIVO CORREIO
Um tremor de terra magnitude 2.4 na escala Richter (mR) ocorreu no Campo
Formoso, no centro-norte da Bahia, na última quinta-feira (1º), às 13h33
(horário de Brasília). Abalos como este, que não chegou a ser sentido pelos
moradores da região, estão se tornando cada vez mais comuns no estado. O último
tremor registrado ocorreu em Jacobina, no dia 28 de janeiro, com magnitude 1.6
mR. A região já tinha registrado o fenômeno no ano passado.
Nos últimos dois anos, houve um aumento de 36% nas ocorrências de
tremores de terra na Bahia, passando de 132 entre os anos de 2020 e 2021 para
um total de 180 entre 2022 e 2023. O motivo? Nada evidente. Na verdade, o
crescimento é avaliado como algo mais aparente do que real, pontua Carlos César
Uchoa, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e doutor
em Geologia pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Segundo ele, a grande mudança no período foi o aumento na infraestrutura
para medição das condições geológicas. “O que cresceu, de fato, foi o número de
estações sismográficas instaladas pelo Labsis da UFRN (Laboratório de
Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que monitora os
eventos sísmicos no Nordeste do Brasil”, afirma.
O tremor de terra ou terremoto é resultado da liberação de energia
sísmica provocada por uma movimentação de blocos rochosos, ocorrendo,
normalmente, ao longo de uma falha geológica. Esse fenômeno pode ocorrer
durante um período e depois cessar, com possibilidade de voltar acontecer,
especialmente em áreas com falhas geológicas.
No início do século passado, muitos dos tremores que ocorreram no
Recôncavo foram notificados entre os meses de outubro a dezembro. Em
contrapartida, um sismo com magnitude de 4,2 atingiu a região em agosto de
2020. Com profundidade de foco de aproximadamente 10km, o fenômeno provocou
rachaduras em paredes, queda de mercadorias nas prateleiras de supermercados e
danificação de telhadas nas cidades de Amargosa e Mutuípe.
De acordo com Uchoa, a periodicidade das ocorrências é extremamente
incerta. No entanto, no que diz respeito aos locais atingidos, a propensão é
evidente em regiões de acumulação de energia. "Outras causas de tremor de
terra podem estar associadas à acomodação de terra em regiões geologicamente
frágeis ou ainda provocadas pela intervenção humana, a exemplo de explosões em
áreas com mineração.”
As zonas mais suscetíveis a registro de tremores de terra estão situadas
no Recôncavo e, por isso, a região é reconhecida como uma zona sismogênica.
Embora essa área possua propensão maior para ocorrências de sismos, outras
regiões da Bahia também estão sujeitas a registrar os fenômenos. É o caso das
cidades de Jacobina e Jaguarari, localizadas na região da Chapada Diamantina e
no Centro-Norte, respectivamente.
Dos 151 tremores registrados na Bahia em 2022, 69 ocorreram em Jacobina
e 19 em Jaguarari. No ano passado, as cidades também lideraram o ranking: foram
51 notificados em Jacobina e 45 em Jaguarari. No total, 2023 registrou 180
ocorrências do tipo. Até o momento, a única explicação para isso é a
concentração de grandes mineradoras nos dois municípios, além da localização
serrana de Jacobina.
"Se tivéssemos uma malha maior de estações sismográficas em outras
regiões, elas, provavelmente, iriam registrar bem mais eventos sísmicos.
Jacobina, por ser uma região serrana e com uma estruturação geológica onde a
quantidade de falhas geológicas é muito grande, acaba sendo uma área propensa a
essas ocorrências”, explica.
Perigo
As áreas onde há maior probabilidade da ocorrência de tremores de terra
devem ter uma atenção redobrada da Defesa Civil, mesmo o perigo sendo
considerado pequeno.
No que diz respeito a magnitude, que é a quantidade energia liberada
durante um terremoto, é necessário associá-la a outros fatores para definir os
níveis em que os fenômenos apresentam maior índice de perigo. A análise deve
levar em consideração a profundidade do foco, a geologia local e a qualidade da
construção civil nas áreas atingidas.
“Para se ter uma ideia, no ano passado um terremoto de magnitude 6,5,
que é muito forte, foi registrado no Acre, mas pelo fato do foco estar a 660 km
de profundidade, a intensidade, que corresponde aos danos físicos ocasionados
por um tremor de terra, foi baixo”, diz Uchoa.
Por outro lado, o tremor registrado em agosto de 2020 na região do
Recôncavo teve magnitude de 4,2, mas com um foco a 10 km de profundidade, o que
resultou em danos materiais significativos. “Por sorte, não tivemos vítimas,
apesar do susto que a população sentiu. Os sismos do ano passado na Bahia, não
passaram de magnitude 3,5 e, a grande maioria teve magnitude abaixo de 2”, diz.
Ranking
Dos 180 tremores de terra registrados na Bahia em 2023, 96 ocorreram nas
cidades de Jacobina (51), na região da Chapada Diamantina, e em Jaguarari (45),
no Centro-Norte do estado. O motivo da “supremacia” no ranking ainda é algo a
ser estudado, de acordo com Carlos César Uchoa. No entanto, a concentração de
grandes mineradoras influencia a ocorrência dos fenômenos. “Apesar da
concentração, os tremores registrados nessas cidades tiveram magnitude muito
baixas. Por outro lado, como são duas cidades onde existem grandes mineradoras,
essa região possui também uma quantidade maior de estações sismográficas,
principalmente a cidade de Jacobina”, diz Uchoa.
Além disso, a localização serrana de Jacobina favorece o alto número de
tremores. O município possui uma estruturação geológica onde a quantidade de
falhas geológicas é grande, o que influencia esse número, segundo Uchoa.
A atendente comercial Tailane Silva, 21 anos, mora no bairro do Mundo
Novo, considerado distante de onde os tremores ocorrem. No entanto, o
sentimento ainda é de medo, embora os moradores vivam com a sensação de
normalidade após o alto índice de ocorrências. “Sinto tremores e ouço
estrondos. Às vezes, dá medo e curiosidade para ir ver, mas o medo é a questão
de desabamentos, porque moro perto de morros", afirmou.
Segundo a jovem, a população acredita que as ocorrências acontecem em
razão de explosões realizadas em área de extrações de minério, além de afirmar
que os mais afetados são os moradores mais próximos dos locais de mineração. Os
bairros de Canavieiras, Serra do Córrego, João Belo e Morro do Cuscuz são os
mais afetados.
Apesar de morar no bairro da Grotinha, onde os tremores são sentidos com
uma certa frequência, um funcionário de umas das mineradores, que preferiu não
identificar, afirma que ainda não se acostumou com os eventos. “A gente ainda
não se acostumou. Como que se acostuma ver a terra tremer?”, pergunta.
Para acompanhar os abalos sísmicos que ocorrem no município, um aparelho
sismógrafo foi instalado na região da Jabuticaba e é responsável pela
realização do monitoramento. Além disso, a Defesa Civil também informa que
acompanha atenta os tremores de terra. A prefeitura de Jaguarari foi procurada,
via ligação telefônica, mas não atendeu à reportagem.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo
Por Correio24horas