Dengue Crédito: Bruno Concha/Secom
As alterações climáticas provocadas pelo fenômeno
conhecido como El Niño contribuem para infestações por Aedes aegypti e para a
explosão de casos de dengue registrada no Brasil. Isso porque a combinação de
altas temperaturas e chuvas intermitentes é a receita perfeita para a
proliferação do mosquito. O alerta é de infectologistas ouvidos pela Agência
Brasil e pela Rádio Nacional.
Infectologista graduado pela Universidade Federal
da Bahia e descobridor do vírus Zika no Brasil, o médico Antonio Carlos
Bandeira explicou que um corredor climático que sai do Centro-Oeste e desce
pela porção oeste das regiões Sudeste e Sul acaba por contribuir para o aumento
de casos da dengue não só no Brasil, mas em países vizinhos como Paraguai e
Argentina. “Isso facilitou. Fez com que o Aedes aegypti pudesse ser
disseminado.”
“É isso que faz com que a coisa se complique. Você
tem esse corredor de calor, e ele fica oscilando, com muita precipitação
pluviométrica, de forma intensiva. Isso facilitou demais. Calor e muita chuva
intermitente são a combinação principal para a dengue”, disse. “O Aedes aegypti
se reproduz mais rápido e vive mais quanto mais elevada é a temperatura. A
situação é essa. Ele vive mais e se multiplica mais.”
O infectologista e consultor da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) para dengue, Kleber Luz, detalhou que o El Niño,
de fato, contribui para o aumento do número de casos da doença, uma vez que
eleva a temperatura do mar e, consequentemente, do continente. “Quando aumenta
a temperatura, aumenta o número de mosquitos, a reprodutibilidade e o tempo de
vida deles. Cada mosquito vai viver mais tempo, aumentando a chance de
transmissão.”
“Com as mudanças climáticas, quanto mais alta a
temperatura, maior a proliferação do mosquito. Não só haverá um aumento do
número de casos como uma expansão da área de acometimento por dengue. O Sul do
Brasil que, antes, praticamente não tinha dengue, agora é sempre a região
vice-líder no número de casos”, disse. O estado do Paraná, por exemplo, já
contabiliza quase 17 mil casos e quatro mortes provocadas pela doença desde
julho.
Questionado se os sintomas da dengue estão mais
fortes em 2024, dado o número de internações pelo país, o médico explica que
essa tese não se confirma. “A dengue é sempre a mesma. Ela não é mais forte por
conta das mudanças climáticas. Isso apenas aumenta o número de casos. E, quando
aumenta o número de casos, de forma clara, aumenta o número de formas graves da
doença porque mais gente precisa ser hospitalizada e mais gente pode vir a
falecer.”
Por Correio24horas