Os
brasileiros usam cada vez mais o PIX e menos o cheque, não guardam dinheiro na
poupança ou fazem investimentos, e estão aumentando o seu endividamento no
cartão de crédito. Em resumo, essa seria a conclusão a partir da leitura de
três pesquisas recentes que tratam dos hábitos da população em relação às suas
finanças pessoais.
Uma dessas pesquisas, divulgada pela Federação Brasileira
de Bancos (Febraban), mostra que os cheques têm sido cada vez menos usados pela
população brasileira. No ano de 2023, foram compensados 168,7 milhões de
cheques emitidos pelos clientes bancários.
Esse resultado apurado pela Febraban foi 17% menor do que
o verificado no ano de 2022. Na comparação com 1995, início da série histórica,
quando foram compensados 3,3 bilhões de cheques, a queda registrada é de 95%.
As estatísticas têm como base o Serviço de Compensação de Cheques (Compe).
A pesquisa da Febraban aponta também redução no volume
financeiro dos cheques e no número dos documentos devolvidos, além dos
devolvidos sem fundos. Em 2023, o volume financeiro dos cheques compensados
totalizou R$ 610,2 bilhões. Na comparação com 2022, houve redução de 8,5%, já
que o montante naquele ano atingiu R$ 668,8 bilhões.
Em relação ao número de cheques devolvidos, em 2023 esse
volume foi de 18 milhões, que representou 10,67% no total de cheques
compensados no país. A quantidade verificada no ano passado revela queda de
7,9% na comparação com 2022, quando foram devolvidos 19,5 milhões de
documentos.
Segundo afirma o documento da Febraban, o avanço dos meios
de pagamento digitais, como internet e mobile banking, e a criação do Pix pelo
Banco Central, em 2020, são os principais fatores que explicam a significativa
redução no uso do cheque pelos brasileiros. Após a pandemia da Covid, houve um
forte estímulo ao uso dos canais digitais dos bancos, tanto que, nos dias
atuais, quase 8 em cada 10 transações bancárias realizadas no Brasil são feitas
em canais digitais, como o mobile banking e internet banking (77%).
Os números apresentados pelo Banco Central no começo do
ano mostram o tamanho do crescimento do uso do Pix em detrimento de outros
meios de pagamento. Segundo o BC, as movimentações via Pix cresceram 54% em
2023. Foram movimentados R$ 16,9 trilhões no acumulado do ano, com valores
parciais de dezembro.
Em 2022, o registro do uso do Pix havia sido de R$ 10,9
trilhões. Já a quantidade de operações saltou de 11,7 bilhões, em 2022, para
37,1 bilhões até novembro de 2023.
Enquanto crescem as
operações de pagamento rápido e à vista por meio do Pix, continua baixa a
quantidade de brasileiros que aplicam dinheiro em investimentos ou na caderneta
de poupança. De acordo com os resultados da pesquisa “Pulso 2023” da Ipsos, 61%
dos entrevistados afirmam que não conseguem guardar dinheiro para algum tipo de
investimento ou poupança.
A pesquisa realizada pela Ipsos com uma amostra de 1.000
entrevistas virtuais no Brasil, revela ainda que 34% dos brasileiros declararam
que conseguem fazer uma reserva financeira. Apenas 5% dos participantes não
souberam ou preferiram não responder a essa questão.
Apesar de pouparem pouco, os brasileiros estão otimistas
em relação à situação financeira pessoal. A pesquisa da Ipsos, que tem margem
de erro de 3,1 pontos percentuais, mostrou que 60% dos entrevistados dizem
estar otimistas que seu padrão de consumo será melhor/muito melhor nos próximos
12 meses. Já 85% dizem que, de modo geral, sua vida será melhor/muito melhor em
2024 do que foi no ano anterior.
O otimismo revelado pelos entrevistados pela pesquisa
Ipsos contrasta com a realidade vivida atualmente pelas famílias brasileiras. O
último levantamento apresentado no final do ano passado pela Confederação
Nacional do Comércio (CNC) revelou que o endividamento alcança cerca de 76,6%
das famílias brasileiras, que têm dívidas a vencer em cartão de crédito, cheque
especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque
pré-datado e prestações de carro e da casa.
De acordo com os dados levantados pela CNC, o
superendividamento, que inclui as pessoas que manifestam a impossibilidade de
pagar a totalidade de suas dívidas relacionadas ao consumo, atingiu uma em cada
cinco famílias brasileiras (17,7% do total) no ano passado. De acordo com o
relatório da entidade, o excesso de cartões de crédito, os pedidos de
empréstimos seguidos em bancos diferentes e o descontrole das próprias finanças
são os principais fatores para a bola de neve das dívidas dos brasileiros.
Mesmo endividados, os brasileiros têm uma percepção
otimista sobre a sua capacidade de pagar dívidas em 2024. Segundo a pesquisa
Ispos, 77% dos entrevistados se mostraram confiantes de que conseguirão quitar
débitos pendentes ao longo deste ano de 2024.