A educação
da Bahia ficou entre os dez piores do país, superando apenas o Amazonas, Acre,
Roraima e o Amapá, conforme o Ranking de Competitividade dos Estados e
Municípios 2023, divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).
A Educação
é um dos dez pilares do levantamento, mas em razão de sua importância econômica
e social, o pilar possui o 4º maior peso do ranking (11,5% do total). De acordo
com o Ranking, ele avalia as condições atuais da educação do país e para a sua
construção são utilizadas as informações dos portais de cada programa de
avaliação estadual, que são checadas com as secretarias estaduais de educação.
Neste
pilar, a Bahia se manteve na terceira pior posição em relação a taxa de
frequência líquida do Ensino Médio e subiu para a 16ª posição quando olhamos
mesmo indicador no Ensino Fundamental.
Segundo a
especialista em educação Claudia Cotin, são três fatores que podem levar um
estudante a não frequentar a escola. O desengajamento nos estudos, o sentimento
de que não está aprendendo, necessidades econômicas ou até mesmo a soma de
todos.
“A baixa
frequência não está ligada a uma escola chata, como alguns poderiam supor, mas
uma escola que tem baixas expectativas de aprendizagem em relação aos alunos.
Se eu espero pouco dos alunos, muito provavelmente esses alunos vão se sentir
diminuídos na sua capacidade de aprender. Quando a escola se organiza de
verdade para o aprendizado, com os professores sendo preparados para um bom
ensino e esperando de todos os alunos, e não só daqueles que já nasceram
‘motivados’, a frequência irá aumentar porque o aluno enxerga o sentido da
escola”, explica Claudia.
A
especialista relata que não existe um número de faltas que seja
internacionalmente reconhecido como aceitável, mas o ideal é que a maioria dos
alunos tenham mais de 80% de frequência.
“Quando um
aluno está com baixa frequência, cabe a escola olhar para isso com muita
seriedade. Em primeiro lugar, acionando a família, e isso deve ser algo que a
direção da escola, alertada pelos professores, faça de imediato. Um jovem fora
da escola tem que ser considerado um problema social grave, mesmo quando for
apenas por alguns dias, desde que isso ocorra de forma recorrente. A vigilância
é importante não só da escola, mas inclusive da sociedade. Nós, cidadãos,
deveríamos nos indignar quando um jovem não conclui a sua escolarização
obrigatória, que é terminar o ensino médio e, de preferência, com pouco atraso
escolar, ou seja, não conseguir estar até o final dos 17 anos na escola, pelo
menos. Senão, ele não constrói o seu futuro”, diz a especialista.
O abandono
escolar acontece, em sua maioria, no Ensino Médio, quando o jovem adolescente
possui uma certa autonomia. De acordo com Claudia, a pandemia de Covid-19
agravou a situação, pois com dois anos em que as escolas estavam totais ou
parcialmente fechadas, os jovens começaram a trabalhar e conseguiram
acrescentar dinheiro em seu núcleo familiar.
“E isso
trouxe consequências graves, porque a Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF) recomendou que na retomada das aulas houvesse uma busca ativa desses
alunos. Muitos estados fizeram essa procura ao conversar com as famílias e
mostrar para o jovem que ele não constrói seu futuro se ele não volta para a
escola. Essa busca ativa tem que começar não só quando o aluno já abandonou,
mas quando ele começa a faltar de forma sistemática”, conta.
Para evitar
que o aumento dessa taxa de frequência líquida, é preciso criar mecanismos para
que os alunos permaneçam nas escolas. Para a especialista, tornar o ensino mais
engajador para que o estudante possa entender o sentido do que está sendo
ensinado para seu futuro é algo que pode ser implementado.
A Base
Nacional Comum Curricular estabeleceu que algum tempo das aulas deve ser
reservado para discutir, a partir do Fundamental 2, mas no ensino médio com
mais força, o projeto de vida do aluno. A discussão deverá embarcar como o
aluno enxerga a construção do seu futuro e como ela pode ser realizada.
“Se você
não trabalhar com ele, a ideia de que ele quem vai construir o seu futuro não
vai ser a escola, não vai ser o seu professor, vai ser ele mesmo, mas para isso
a escola deve prepará-lo. Em tempos de chat GPT e inteligência artificial, não
ter concluído o ensino médio com qualidade, não vai preparar esse jovem nem
para o mundo do trabalho, nem para um exercício consciente de cidadania”,
finaliza.
*Com
orientação da subeditora Monique Lôbo
Por Millena
Marques e Yasmin Oliveira